Teste da Vez

O que se espera de uma picape você não encontrará na Ford Maverick

Da lista de equipamentos à capacidade off-road, a americana com nome de esportivo é uma surpreendente sequência de erros

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Ford Maverick.
Tudo que se espera de uma picape, você não encontrará na Ford Maverick. Fotos: Geison Guedes/DP.

Desde os primórdios do automóvel, diversas marcas procuravam variações dos modelos da época para levar passageiros e carga. No início do século passado, uma empresa norte-americana desenvolveu, construiu e instalou caixas de transporte em chassis de Ford Model T. 

Percebendo a oportunidade de mercado, a Ford iniciou, em 1925, a produção de um T com corpo de aço, cabine, área de carga com tampa traseira ajustável e capacidade de levar meia tonelada batizada de “Model T Runabout with Pickup Body”. Ali nascia a consagrada história das picapes da marca oval. 

O grande expoente dessa rica história nasceu em 1948, com o lançamento da F-Series, um dos veículos mais vendidos do mundo com mais de 40 milhões de unidades comercializadas nestes quase 75 anos. Na década de 1980, outro grande sucesso era apresentado, a Ranger. Agora, no início dos anos 2020, um novo modelo surge, a Maverick.

Utilizando o consagrado nome de um esportivo – por aqui, nos EUA era um modelo de entrada – a picape tinha tudo para repetir o sucesso das irmãs, não fosse a sequência de erros aplicadas na primeira caminhonete intermediária da marca, inclusive na versão topo de linha Lariat FX4, a única vendida por aqui, por insanos R$ 233.310 e o nosso “Teste da Vez”.

Ao menos, chamativa

Ford Maverick.

O visual e a cor fizeram muitos pescoços virarem em direção a americana.

A unidade que testamos pelas ruas de Brasília (DF), contava com a exótica pintura “Laranja Delhi”, que puxa mais para um lado amarelo. Juntando a cor, o visual diferente e por ser uma novidade, a picape chamou muita atenção por onde passou, causando muitas viradas de pescoço. 

Como sempre falamos, design é um ponto muito pessoal, o que uma pessoa pode gostar, outra não vai achar bom. De fato, a Maverick tem um estilo diferente do que vemos no mercado, seja entre as picapes compactas, intermediárias, médias ou grandes. Mas de cara, o primeiro erro já é logo percebido, visualmente ela é uma caminhonete baixa. 

Ford Maverick.

Assim como as outras intermediárias, ela é monobloco.

Com uma dianteira grande, robusta, com grade e faróis que conversam bem, ela tem um para-choque claramente mal desenhado, já que vai bem perto do chão – que falaremos disso mais a frente – que poderia ter sido melhor pensada. As rodas escurecidas casam bem com o visual e mostram um lado mais esportivo da Maverick.

Além da altura, ao olhar para a picape é possível perceber algumas ausências, estranhas para um modelo desse. Mesmo custando insanos R$ 233.310 e sendo a versão topo de linha, ela não conta com estribos, rack de teto, santo antônio ou capota marítima.

Ford Maverick.

O interior aposta em linhas geométricas diferenciadas.

Por dentro, o estilo é bem mais ousado, principalmente nas portas e no painel, com visual bastante geométrico. O desenho interno é bem interessante e, um ponto alto, é a quantidade de nichos, inclusive um que cabe uma garrafa de um litro nas portas. Só que há um totalmente desnecessário, ao lado da tela da central multimídia, que poderia ter sido utilizado para aumentar o tamanho do display. 

Além do visual diferenciado, os materiais são bem empregados, apesar do uso exagerado de plástico rígido – mas algo comum para picapes –, não há rebarbas ou peças mal encaixadas. O espaço traseiro é honesto e corresponde bem ao tamanho da americana, com quatro adultos viajando com certo conforto, faltou saída de ar para o banco de trás. 

Decepcionante 

Ford Maverick.

A lista de equipamentos ausentes é grande, como retrovisor eletrocrômico.

Por ser um veículo de mais de R$ 230 mil, o esperado era que a Maverick Lariat FX4 tivesse tudo “e mais um pouco” na lista de equipamentos. Mas ela está longe de ser minimamente completa. Tem inúmeros veículos, alguns até de entrada, bem mais equipados do que ela, é uma decepção atrás da outra. 

A lista do que ela não tem, é quase tão grande – se não for maior – do que ela tem. A parca lista é de série, não há nenhum opcional na picape. A única coisa possível de escolher é a pintura que, pelo menos, não tem diferença de valor. Vamos primeiro ao que vem equipado nela. 

Ford Maverick.

A central tem conexão apenas por fio e esse nicho fora de lugar ao lado.

Ela vem com sete airbags, alerta e assistente de frenagem com detecção de pedestre, assistente de partida em rampa, controles de tração e estabilidade, auxiliar de descida, sensor crepuscular, monitoramento de pressão dos pneus, DRL em LED, câmera de ré, piloto automático e freio de estacionamento eletrônico com função auto hold. 

Na parte da comodidade, chave sensorial, partida por botão, ar-condicionado dual zone, central multimídia com tela de oito polegadas, conexão Android Auto e Apple CarPlay e quatro portas USB, banco do motorista com ajustes elétricos e display digital de 6,5 polegadas no painel de instrumentos. 

Ford Maverick.

Tem porta USB, mas falta saída de ar para o banco traseiro.

Pela relação, é possível perceber que ela não conta com nenhum equipamento “fora de série”, sem falar em inúmeros “obrigatórios” pela faixa de preço. Por R$ 233.310 ela deveria vir com piloto automático adaptativo, alertas de ponto cego, de tráfego traseiro e auxiliar de permanência em faixa, monitoramento de fadiga e retrovisor eletrocrômico. 

Ela também não conta com sensores de estacionamento nem traseiro (quando deveria ter dianteiro também) e de chuva, saída de ar para o banco de trás, carregamento e conexão do smartphone com a central sem fio, borboletas no volante, ou sequer opção de troca manual, modo Sport do câmbio, partida remota na chave e um teto solar cairia bem também. 

Só gasolina

Ford Maverick.

O motor é o mesmo do Bronco, um 2.0 turbo a gasolina.

Outro fator controverso da Maverick é o conjunto mecânico. Ela utiliza o mesmo do primo Bronco, ou seja, motor 2.0 turbo de ótimos 253 cavalos e 38,7kgfm de torque aliado a transmissão automática de oito velocidades, direção elétrica e tração integral. 

O porém, é que quando falamos de uma picape, principalmente uma topo de linha, o esperado é um motor diesel. Além de ser mais econômico, este tipo de propulsor proporciona uma maior capacidade de carga, já que ela leva, no máximo, 617kg, ou seja, menos que uma caminhonete compacta, que carrega, em média, 650kg.

Ford Maverick.

O câmbio não tem modo Sport ou opção de troca manual.

Ao menos, com toda essa potência e torque, ela anda muito bem, principalmente alinhada à tração integral. Basta pisar no acelerador para disparar pelo asfalto sem qualquer cerimônia, com isso, toda manobra é feita com extrema facilidade e segurança. Mas falta a opção de troca manual e o modo Sport do câmbio para deixá-la ainda mais agressiva.

Com a tração integral, no asfalto – e por ser monobloco também – a Maverick está sempre “na mão” do motorista. A estabilidade dela é muito boa, em momento algum há a percepção de perder a direção, mesmo em curvas de alta velocidade. A suspensão também trabalha bem, não repassando as imperfeições das vias para a cabine, mesmo sendo muito baixa. 

Ford Maverick.

Qualquer elevação simples falta arrancar o para-choque.

Falando na altura, o primeiro problema em relação a isso é que, por mais incrível que possa parecer, ela raspa na rampa da garagem. Isso mesmo que você leu, a Maverick é uma picape que, ao entrar no estacionamento de um prédio, pega na rampa, igual carro esportivo. Ou seja, precisa de um cuidado a mais que não era para ter. 

Outro problema em relação a ter apenas opção à gasolina é o consumo e a autonomia da Maverick. No período que testamos a picape, ela marcou, em média, 8,5km/l (lembrando que as ruas de Brasília, por serem mais planas, tende a permitir um gasto de combustível mais otimizado). Dessa forma, com um tanque, não foi possível rodar nem 500 quilômetros.

Sufoco grande

Ford Maverick.

Um off-road para lá de decepcionante.

Mais uma vez um problema de altura. Se a Maverick arrasta na rampa da garagem, imagina na hora do off-road. A picape não passa nenhuma confiança na hora de encarar um terreno acidentado. Mesmo com os cinco modos de condução (Normal, Escorregadio, Lama/Terra, Areia e Rebocar/Transp) e com os pneus A/T, ela sofre mais do que deveria. 

Se for um obstáculo minimamente inclinado, há o receio de perder o para-choque, já que ela pega em tudo, sem falar que raspa o fundo a todo momento. Para critério de comparação, fazemos nossos testes off-roads sempre no mesmo local e, até hoje, nenhum outro veículo 4×4 sofreu tanto para subir a ladeira repleta de vala e cascalho que tem no lugar como a Maverick. 

A opinião do Diário Motor

Ford Maverick.

Ford Maverick.

Aparentemente, tudo que a Ford escolheu errar em um veículo, ela resolveu juntar na Maverick. Era um veículo que tinha tudo para agradar, mas a cada descoberta – do que ela não tem – é uma irritação. Não bastasse ser extremamente baixa para uma picape, com o cumulo de arrastar na rampa da garagem, ainda custa insanos R$ 233.310 e tem uma lista de equipamentos parca, totalmente decepcionante. 

Até o grande ponto positivo tem poréns, que é o conjunto mecânico, que anda muito bem, mas falta opção de troca manual ou modo Sport, sem falar no consumo exagerado e na baixa autonomia. E ainda tem o off-road desastroso, que não passa nenhuma confiança ao motorista. Não vale a compra! Nota: 2.

Ficha Técnica

Ford Maverick.

Motor: 2.0 turbo

Potência máxima: 253cv

Torque máximo: 38,7kgfm 

Direção: elétrica

Suspensão: independente nas quatro rodas

Freios: a disco nas quatro rodas

Capacidade de carga: 613kg 

Dimensões (A x L x C x EE): 1.733 x 1.844 x 5.110 x 3.076mm 

Preço: R$ 233.310

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Tudo que se espera de uma picape, você não encontrará na Ford Maverick. Fotos: Geison Guedes/DP.
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