Militar do GSI que deu água a invasores diz à PF que foi técnica para ‘gerenciar crise’

Nomeado em 2020 ao GSI, o militar Natale Pereira aparece 5 vezes nas gravações, entre 16h09 e 16h18, conversando e oferecendo água aos manifestantes

O major do Exército José Eduardo Natale Pereira, flagrado por câmeras de segurança distribuindo água e conversando com invasores do Palácio do Planalto, nas invasões de 8 de janeiro, alegou em depoimento à Polícia Federal neste domigo, 23, que o ato foi uma técnica de gerenciamento de crise.

Nomeado em 2020 ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), durante a gestão do ex-ministro general Augusto Heleno, do governo anterior, o militar aparece cinco vezes, entre 16h09 e 16h18, conversando e oferecendo água aos manifestantes. As imagens que mostram as ações de Pereira foram liberadas por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na última sexta-feira, quando o magistrado determinou a quebra de sigilo.

Pereira atuava como coordenador de segurança de instalações dos palácios presidenciais no dia da invasão e era subordinado do general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). GDias, como é conhecido, pediu demissão na última quarta-feira após virem à tona imagens dele no Palácio do Planalto no dia do ataque golpista à Praça dos Três Poderes.

Amigo de Lula, GDias prestou depoimento à PF na sexta-feira, 21, e negou omissão e argumentou que estava retirando extremistas de um setor do Palácio do Planalto, sem efetuar prisões, porque estava fazendo “gerenciamento de crise”. E acrescentou que teria mandado prender Pereira se soubesse que ele ofereceu água aos extremistas.

As gravações das câmeras do Planalto foram disponipilizadas ao público e contam com mais de 500 horas de imagens.

Depoimento em janeiro

Em janeiro, Natale foi ouvido pela PF como testemunha ainda em janeiro. O militar disse à polícia que, no momento da invasão, “havia por volta de apenas 40 homens na tropa de choque para fazer a contenção” dos manifestantes. Ele relatou que, ao visualizar a movimentação em direção ao Planalto, “acionou o pelotão de choque do Exército-BGP que se encontrava de prontidão”.

Após o rompimento da cerca de contenção a oeste do prédio foi acionado o “Plano Escudo” – “um planejamento que envolve as forças da PMDF, Exército e GSI para impedir invasões nos órgãos governamentais”, segundo Natale. Mesmo assim, os invasores conseguiram romper as barreiras fixas e chegar ao espelho d’água do palácio e, em seguida, “conseguiram romper os bloqueios e tiveram acesso a marquise do Palácio do Planalto”.

Ele acrescentou que os golpistas “utilizavam de violência e ameaça para conseguir acesso ao Palácio do Planalto, pois atiraram pedras do próprio chão do palácio nas tropas de segurança.”