Adeus posto de combustível: testamos o elétrico Nissan Leaf
Rodamos na cidade e na estrada com o japonês, que tem a falta de infraestrutura de recarga como grande “rival”
No último Salão do Automóvel de São Paulo, realizado em 2018, boa parte das montadoras apontaram que o futuro — e até o presente — dos carros é a eletrificação. Na mostra, tivemos diversos anúncios importantes e algumas apresentações inéditas, como a da Nissan com a confirmação que o Leaf seria vendido no Brasil.
O primeiro veículo 100% elétrico da montadora japonesa, lançado mundialmente em 2010, chegou oficialmente por aqui em 2019 já na segunda geração. Com a crise mundial causada pela pandemia do coronavírus, a comercialização do hatch ficou estagnada por aqui.
Com o avanço da vacinação no país, retomada da economia e consequente flexibilização das necessárias medidas de restrições, a marca inicia o que chama de 2ª Fase do Plano de Eletrificação no país, com a ampliação das concessionárias habilitadas para comercializarem o Leaf, de sete lojas em cinco estados para 44 em 15 unidades da federação.
Testamos o modelo que recebeu pequenas atualizações, focada na lista de equipamentos, em um teste drive para lá de diferente. Fomos de Brasília até a bucólica Pirenópolis, no interior de Goiás, cerca de 150 quilômetros da capital federal, e atestamos que, sem infraestrutura, os veículos elétricos ficarão focados apenas aos grandes centros.
Recarga complicada
O Leaf, de acordo com o padrão americano, tem cerca de 270 quilômetros de autonomia. No entanto, na estrada, o gasto é maior e até mesmo distâncias relativamente curtas, como Brasília a Piri (como é carinhosamente chamada a pequena cidade goiana), geram certa preocupação de como será feita a recarga.
O grande desafio de toda a indústria automotiva que foca em modelos elétricos é justamente a autonomia das baterias e o tempo de recarga. A segunda parte vai além do controle das montadoras, sendo necessário uma infraestrutura bem maior.
Especificamente sobre o Leaf, o modelo leva apenas 40 minutos para ganhar cerca de 80% de carga em carregadores super-rápidos. O problema é que, existem pouquíssimos pontos deste tipo em todo o país e nenhum em Brasília ou no Centro-Oeste.
Assim, para recarregar o japonês, é necessário utilizar um Wallbox ou uma tomada comum, e ambos demandam tempo. O primeiro leva cerca de oito horas para alcançar 100% de carga. Já no segundo, o tempo é ainda maior, de 20 a 40 horas, dependendo da voltagem. Neste, em oito horas é possível ganhar cerca de 40%.
Questão de autonomia
Com isso, é preciso um planejamento ainda maior para andar com o Leaf em rodovias. Como não há carregadores super-rápidos, 200 quilômetros é o limite seguro, ou seja, viagens curtas. E, ainda assim, é preciso se programar de como realizar a recarga para a volta.
Para se ter uma ideia, rodamos de duas maneiras diferentes no trajeto Brasília-Piri-Brasília. Na ida, fizemos um “teste de consumo”, sem forçar o motor, andando com o piloto automático adaptativo e o modo ECO ligados, não fazendo nenhuma ultrapassagem, ou seja, na condução mais econômica possível e, assim, o Leaf chegou em Pirenópolis com cerca de 50% de carga.
Na volta, a condução foi “normal”, com acelerações e ultrapassagens e não utilizamos o piloto automático adaptativo, percorremos a mesma distância, mas ao final da viagem tínhamos menos de 20% de carga. O que mostra que, com uma direção normal, o destino não pode ser muito longe.
Dessa forma, mesmo sem uma autonomia muito grande, o Leaf — como praticamente todos os veículos elétricos — se sai melhor na cidade. Pegando o costume de chegar em casa e colocar o veículo na tomada, como fazemos com os celulares, durante a noite ele ganha pouco mais de 100 quilômetros de autonomia, suficientes para rodar na cidade e dizer adeus ao posto de gasolina.
Estrada X Cidade
Outro ponto que mostra que o Leaf se adapta melhor a cidade é a própria configuração dos veículos elétricos, principalmente os “comuns”. Assim como outros modelos da categoria, o motor eletrificado do japonês fica na dianteira, mesma posição dos à combustão, e onde está toda a tração. Além disso, ele gera 149 cavalos e ótimos 32,6kgfm de torque.
De forma simplória, o torque é mais utilizado em arrancadas e saídas e a potência (os cavalos) para a velocidade final. Com isso, na estrada, acaba que mesmo com o alto torque, o elétrico não o utiliza, pois precisa mais da potência, que é honesta e permite ultrapassagens com segurança, mas nada de arrancadas bruscas já em movimento.
Essas manobras, são mais realizáveis na cidade, com o anda e para do trânsito diário. E, com o alto torque imediato, a direção fica mais segura e até divertida, pois basta pisar no acelerador para ele disparar, o que não ocorre na estrada já em velocidade.
Assim, aquela sensação de velocidade instantânea, é “sentível” basicamente na cidade. E todas essas manobras são feitas com dois pontos totalmente diferentes dos veículos a combustão, com zero ruído (o que até chega a ser estranho, perceber a aceleração sem o barulho do motor) e zero emissões de poluentes, que é o grande foco do Leaf e qualquer um dos carros elétricos.
O Leaf conta também com uma função criada pela Nissan e que hoje é copiada por outras marcas. Batizada de e-pedal pela japonesa, ela permite ao motorista acelerar e frear usando apenas o acelerador. Com o sistema ativo (por meio de um botão no console), basta tirar o pé do pedal que o carro diminui a velocidade, chegando a parar totalmente.
A função é ótima para o trânsito pesado do dia a dia, pois o motorista não precisa ficar alternando entre um pedal e outro, basta aumentar ou diminuir a pressão no acelerador para ganhar velocidade ou frear o veículo. E, junto com o modo “B” do câmbio, ajuda a regenerar a energia para as baterias.
Altos e baixos
Como todo e qualquer veículo à venda no Brasil, o Leaf tem a questão do preço. Se carro por aqui está caro e modelos elétricos são ainda mais caros, com este somatório seria impossível o hatch eletrificado ter um preço acessível, ele parte de R$ 293.790.
Mesmo neste preço, ele consegue ser mais barato que os dois principais rivais, o Chevrolet Bolt, que está em pré-venda por R$ 317 mil e o BMW i3, que parte de R$ 319.950. Mas quando reparamos na lista de equipamentos e comparamos com o preço, fica a sensação que a Nissan deveria ter caprichado mais em alguns itens.
Com pacote fechado, sem opcionais, ele vem com ar-condicionado digital (mas que não é de duas zonas e sem saída para a traseira), câmera 360º, retrovisores interno eletrocrômico e externos rebatíveis e central multimídia com tela de oito polegadas e conexão com Android Auto e Apple CarPlay, mas por fio.
Ele ainda tem sensores crepuscular e de chuva, bancos em couro e dianteiros com aquecimento, chave sensorial para abertura das portas e partida do motor, piloto automático adaptativo (sem stop and go, ou seja, não para totalmente de forma automática), painel de instrumentos com tela de de sete polegadas (poderia ser 100% digital),
Na parte da segurança, ele vem com seis airbags, alertas de colisão com assistente de frenagem ativa, de mudança de faixa, de fadiga e inteligente de tráfego cruzado, monitoramento de ponto cego e de pressão dos pneus, controles de estabilidade, tração e de curvas e auxiliar de ponto cego.
Um dos pontos mais absurdos da lista é o freio de estacionamento no pedal (alô Corolla Cross), que tinha por obrigação ser eletrônico. Além deste e de outros pontos que citamos, faltam ajustes elétricos para os bancos dianteiros, carregamento sem fio para smartphones e até um teto solar seria bem-vindo.
A opinião do Diário Motor
O princípio do carro elétrico não é novo, apesar de ser um assunto de maior destaque há pouco tempo. A ideia de abandonar totalmente a ida ao posto de gasolina é cada vez mais interessante, principalmente com os preços dos combustíveis nas alturas.
Mas se a indústria automotiva se mostra pronta para dar o próximo passo, o mesmo não podemos dizer da infraestrutura. Modelos como o Nissan Leaf já podem levar o selo de “ecologicamente corretos”, mas basicamente para rodar nas cidades.
Ao pegar uma estrada, ele não se mostra muito promissor, tanto pela autonomia — ainda baixa –, quanto pela falta de locais com carregadores super ou ultra-rápidos, o que acaba prejudicando a ideia do conceito de não poluição.
O Leaf mais especificamente, se mostra um carro interessante e, como diversos a combustão, com pontos positivos e negativos. Se a sua decisão é por um modelo 100% elétrico nesta faixa de preço, o japonês tem tudo para conquistar um espaço na sua garagem. Pode valer a compra! Nota: 8.
Ficha técnica
Motor: elétrico
Potência máxima: 149cv
Torque máximo: 32,6kgfm
Transmissão: automática
Direção: elétrica
Suspensão: independente na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: a disco nas quatro rodas
Porta-malas: 435 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.565 x 1.790 x 4.480 x 2.700mm
Preço: R$ 293.790