Cid delatou que Braga Netto pagou ‘kid preto’ com dinheiro do agro
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro narrou ao STF que general atribuiu ao "pessoal do agro" financiamento de trama golpista
As delações mais recentes do tenente-coronel Mauro Cid motivaram a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, pela prisão, neste sábado (14), do general Walter Braga Netto (PL). Entre os trechos mais importantes está o relato de que o ex-ministro da Defesa repassou a um dos militares “kids pretos” dinheiro que financiou operação de tentativa de golpe, em sacolas de vinho. Ao STF, Cid disse ter ouvido Braga Netto afirmar que o dinheiro teria sido obtido pelo “pessoal do agronegócio”.
Ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid convenceu a PF e Moraes sobre o suposto papel de liderança, organização e financiamento da chamada “Operação Punhal Verde e Amarelo”, no evento “COPA
2022”. Em seu depoimento do dia 21 de novembro ao STF, Cid alterou a versão que deu à PF em 11 de março, sobre a reunião em que Braga Netto entregue o dinheiro um “kid preto”, para financiar a trama do golpe que previa assassinatos do próprio ministro do STF, do presidente Lula (PT) e de seu vice Geraldo Alckmin (PSB).
“O general repassou diretamente ao então major Rafael de Oliveira dinheiro em uma sacola de vinho, que serviria para o financiamento das despesas necessárias a realização da operação. O dinheiro foi entregue numa sacola de vinho. O General Braga Netto afirmou à época que o dinheiro havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio”, disse Mauro Cid, em seu depoimento ao STF.
Em sua decisão divulgada hoje, Moraes conclui, com base no novo depoimento de Cid: “Há fortes indícios e substanciais provas de que, no contexto da organização criminosa, o investigado Walter Souza Braga Netto contribuiu, em grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente, para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado, cuja consumação presumia, na visão dos investigados, a detenção ilegal e possível execução [de Moraes, Lula e Alckmin] e, eventualmente, as prisões de pessoas que pudessem oferecer qualquer resistência institucional à empreitada golpista”.
Trama mortal negada
A defesa de Braga Netto divulgou nota em que afirma que comprovará que o ex-ministro da Defesa não obstruiu as investigações sobre a trama golpista.
Em novembro, o STF revelou uma suposta trama para um golpe de Estado com assassinatos, no final do ano de 2022. E citou Braga Netto como listado ao lado do general Augusto Heleno em uma minuta que previa instituir um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” que comandariam tal órgão que seria criado por militares aliados de Bolsonaro.
Ao comentar rumores, ainda em novembro, de que tal gabinete representaria um golpe contra o próprio Bolsonaro, o general Braga Netto refuto ter tratado de golpe e muito menos do plano de assassinar Lula, Alckmin e Moraes, relatados no inquérito da Polícia Federal. O general foi indiciado em novembro, acusado de tentar um golpe de Estado para abolir a democracia no final de 2022.
“Nunca se tratou de golpe, e muito menos de plano de assassinar alguém. Agora parte da imprensa surge com essa tese fantasiosa e absurda de “golpe dentro do golpe”. Haja criatividade…”, escreveu Braga Netto, ao divulgar nota de sua defesa técnica, nas suas redes sociais.