Embaraço à apuração

Mauro Cid confirmou à PF pressão de Braga Netto para controlar delação

PF relatou ao STF indícios de que Braga Neto tentou controlar delação sobre trama golpista, para alinhar versões de investigados

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Ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid. (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

Entre os fatos que levaram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a determinar a prisão do general Walter Braga Netto, neste sábado (14), estão relatos do tenente-coronel Mauro Cid, de que o ex-ministro da Defesa o pressionou, junto com intermediários, para tentar obter informações de sua delação e controlar seus depoimentos sobre trama golpista, para alinhar versões de investigados.

A decisão divulgada por Moraes após a prisão de Braga Netto cita que o novo depoimento do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, permitiu caracterizar a existência de conduta dolosa do general para o crime de embaraçar investigações contra a organização criminosa. Tal pressão foi exercida por meio de contatos telefônicos com o pai do delator, Mauro César Lourena Cid.

“[Braga Netto] atuou, dolosamente, para impedir a total elucidação dos fatos, notadamente por meio de atuação concreta para a obtenção de dados fornecidos pelo colaborador [Mauro Cid], em sua colaboração premiada, ‘com o objetivo de controlar as informações fornecidas, alterar a realidade dos fatos apurados, além de
consolidar o alinhamento de versões entre os investigados'”, diz a decisão de Moraes.

Em depoimento no dia 5 de fevereiro de 2024, três dias antes da deflaração da Operação Tempus Veritatis, Mauro Cid confirmou que o general Braga Netto e “outros intermediários” telefonaram para seu pai para saber informações sobre a colaboração premiada firmada pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

“Basicamente isso aconteceu logo depois da minha soltura, quando eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado. Isso fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado”, disse Mauro Cid em seu depoimento ao delegado Fábio Shor, citando que seu pai negou haver delação oficializada.

O delator citou que seu pai morava em Niterói e Braga Netto estaria em Brasília, na época dos telefonemas, ao afirmar não poder confirmar se houve contato pessoal do general com Mauro Lourena Cid. Seu pai confirmou que Braga Netto fez contato quando o acordo de delação estava sendo realizado, logo após seu filho ser libertado.

A defesa de Braga Netto divulgou nota em que afirma que comprovará que o ex-ministro da Defesa não obstruiu as investigações sobre a trama golpista.

Questionário na sede do PL

A decisão de Moraes também cita que a PF encontrou, em cima da mesa do assessor de Braga Netto e coronel Flávio Botelho Pelegrino, na sede do Partido Liberal (PL), um documento com perguntas e respostas sobre a colaboração premiada realizada por Mauro Cid.

O delator cita o questionário, reproduzido na decisão, negando ter reproduzido, em seus depoimentos, aquele roteiro de perguntas e respostas sob a mesa de Pelegrino.

“[…] Aquelas perguntas, aquelas respostas que estavam lá, obviamente não confirmam o que eu falei na colaboração. Então talvez intermediários pudessem estar tentando chegar perto de mim, até pessoalmente, para tentar entender o que eu falei, querer questionar, mas como eu não podia falar, eu meio que desconversava e ia para outros caminhos, para não poder revelar o que foi falado”, diz trecho de depoimento de Mauro Cid.

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