Cinco anos após tremores, Maceió tem bairros arrasados pela Braskem
Maceioenses lutam contra irreparáveis perdas em cinco bairros que afundaram pela mineração de sal-gema
Nesta sexta-feira (3), cerca de 60 mil vítimas do que já é considerado o maior desastre socioambiental urbano em andamento no planeta lembram com indignação dos cinco anos desde os tremores de terra que marcaram a evolução da destruição de cinco bairros da capital de Alagoas. Desde o dia 3 de março de 2018, esses milhares de moradores de Maceió foram forçados a deixar suas casas pelo risco de morte causado pelo desabamento de cavernas subterrâneas, formadas pela mineração de sal-gema que foi operada pela Braskem durante cerca de 40 anos.
O dia foi de protestos indignados de maceioenses reclamando de impunidade e do custo considerado irreparável para famílias forçadas a deixar suas casas. Porque Maceió segue vivendo as consequências sociais e ambientais da destruição de habitações e empresas nos bairros do Pinheiro, Farol, Bebedouro, Mutange e Bom Parto.
As reações seguem intensas, apesar de a Braskem, gigante da petroquímica, já ter desembolsado cerca de R$ 3 bilhões em indenizações, e firmado um acordo socioambiental, em dezembro de 2020, com aval dos Ministérios Públicos Federal e Estadual e das Defensorias Públicas de Alagoas e da União, para compensar danos causados pela exploração de sal-gema.
Resistência por direitos
O Projeto Ruptura, que reuniu profissionais da fotografia para registrar os danos aos bairros expôs hoje a foto de Deth Nascimento de um protesto em que é exposto o nome da Braskem em um caixão: “Estamos de luto, mas com garra para lutar pelos nossos direitos!”, diz a publicação do coletivo.
O fotógrafo Jorge Vieira também publicou imagem de protesto escrito em um muro de um dos moradores expulsos da própria casa: “O que vale é os lucros”. Para Vieira, a data de hoje marca “cinco anos de impunidade do maior crime socioambiental urbano do planeta Terra”, diante do que classifica como “mineração da inescrupulosa Braskem/Odebrecht, com a conivência do Estado”.
“Nós não vamos nos calar!”, conclui o fotógrafo.
O deputado federal Alfredo Gaspar (União-AL), que propôs lei para bloquear lucros de empresas que causem tragédias no Brasil, protestou contra o fato de, mesmo após cinco anos, milhares de maceioenses ainda seguirem sofrendo “consequências devastadoras da ação gananciosa da Braskem”.
O vereador Leonardo Dias (PL) também prometeu seguir lutando por Justiça, ao lembrou do dia em que Maceió entrou em pânico com a terra tremendo, em 3 de março de 2018. Em referência aos estudos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Dias citou que o fato foi ocasionado pela extração irresponsável de sal-gema pela Braskem, afetando 16.500 imóveis que deixaram de abrigar os milhares de maceioenses, além das centenas de empreendedores.
“Propus Projeto de Lei para compensar financeiramente os moradores, através do futuro acordo a ser celebrado entre Prefeitura e Braskem. Embora o projeto tenha sido vetado, tenho mantido contato com a Prefeitura para que possamos amenizar os sofrimentos ocasionados pela Braskem. Seguiremos lutando por Justiça!”, escreveu o vereador, ao prometer empenho não somente aos moradores dos cinco bairros diretamente atingidos, mas também aos moradores de regiões vizinhas.
O Diário do Poder questionou à Braskem, por meio de sua assessoria, se a petroquímica admite culpa pela destruição e pede desculpas aos maceioenses. E aguarda a resposta da empresa.
A reportagem também pediu um posicionamento do prefeito João Henrique caldas, o “JHC” (PL). Mas não obteve retorno até a última publicação desta matéria.
Veja algumas das manifestações dos maceioenses indignados:
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1) Hoje completam cinco anos que Maceió entrou em pânico com um tremor de terra. O fato, ocasionado pela extração IRRESPONSÁVEL do sal-gema pela @braskem afetou 16.500 imóveis e mais de 60.000 pessoas, além de centenas de empreendedores, no maior desastre ambiental do País. (+)
— Leonardo Dias (@tocomleonardo) March 3, 2023