Collor alerta que impeachment será favas contadas, se Bolsonaro virar réu
Senador lembra de seu queda e alerta que 'toma lá, dá cá' não é aproximação
O senador Fernando Collor (PROS-AL) declarou nesta terça-feira (28) que são favas contadas o processo de impeachment do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Para o ex-presidente que deixou o Palácio do Planalto em meio a um impeachment, em 1992, a abertura do inquérito contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) é o primeiro passo para o processo.
“Pelo que já vivi, isso são favas contadas. Se houver manifestação do Supremo [Tribunal Federal] indo para o Congresso, será autorizado esse processo imediatamente”, avaliou, em entrevista ao colunista Josias de Souza, do UOL.
O senador ponderou que ainda há dependência do oferecimento de denúncia, mas vê como inevitável o desenrolar do impeachment, se Bolsonaro se tornar réu, em decorrência das denúncias feitas pelo ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, ao se demitir do comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
“É imprevisível se vai ser de um lado ou do outro; mas que é um desenlace anunciado, é”, disse.
O ministro do STF, Celso de Mello, autorizou ontem a abertura de investigação para apurar as denúncias feitas por Moro.
‘Aproximação tardia e desagradável’
Na avaliação do ex-presidente, é tardia e desagradável a aproximação de Bolsonaro com o chamado Centrão, grupo que reúne parlamentares de partidos como o PP, PL, Solidariedade e Republicanos. Para Collor, Bolsonaro retoma a prática do “toma lá, dá cá”, ao se aproximar dos partidos de centro com ofertas de cargos na tentativa de criar base de apoio no Congresso Nacional.
“Demorou demais, e agora de afogadilho [isto é, de forma apressada] iniciar esse tipo de contato. Não é tão agradável essas investidas que o presidente está fazendo. Está fazendo de um modo equivocado, o presidente da Câmara não está participando”, destacou.
Collor ainda classificou a prática como “deletéria” e afirmou que entendimentos como esses “devem ser feitos à luz do dia”.
“Ninguém é a favor do toma lá da cá, mas todos nós, democratas, temos que ser a favor de um entendimento entre os Poderes. No caso do Legislativo e Executivo, com maior razão ainda. Toma lá, dá cá não pode ser confundido com aproximação”, frisou.
Na avaliação do senador, mesmo sendo necessário que um presidente tenha apoio do Congresso, a aproximação entre Executivo e Legislativo não pode ser confundida com a prática do toma lá, dá cá.
“Se não for feito à luz do dia, com transparência, e passar a ter encontros no final da noite, fora da agenda, começa esse vazamento de informações. ‘Porque ofereceu isso a tal partido, isso a tal outro’. Isso sim é que se confunde com o toma lá, dá cá e é isso que temos que evitar”, destacou.
Para Collor, Bolsonaro age de forma a negar os instrumentos republicanos, do regime democrático. “E isso vai pesar contra ele”, avaliou o senador, lembrando que há cerca de uma semana o presidente discursou em um ato pró-intervenção militar, em frente ao QG do Exército, em Brasília, quando Bolsonaro afirmou: “Nós não queremos negociar nada”.
Lição aprendida
O senador afirmou ainda que aprendeu uma lição, ao passar pelo processo de impeachment em 1992. “Governo que não tem maioria no Congresso Nacional, no sistema presidencialista, não consegue terminar o seu mandato”, disse Collor. “Presidente não tem como se sustentar sem apoio parlamentar majoritário”, completou.
Collor ainda disse ver semelhanças entre a situação em que Bolsonaro se encontra e o processo pelo que ele passou em 1992. “Essa falta de entendimento com o Congresso, eu já vi. E não gostei do que vi. Não tenho nenhum gosto que aconteça novamente”, analisou.
O senador afirmou ainda que a estratégia de Bolsonaro em apostar no apoio popular sem ter respaldo político é um erro que ele já cometeu nos anos 1990, após um “jejum eleitoral” e em uma dura disputa com nomes como Ulysses Guimarães, Mario Covas e Leonel Brizola.
“Foi uma eleição muito dura. A militância do PT era muito atuante, coisa que nós não tínhamos. Fomos para o segundo turno e ganhei a eleição. Depois de ter enfrentado todos esses obstáculos, imaginei que pudéssemos mudar o Brasil de um dia para o outro”, recordou.
O senador relembrou, ainda, o episódio em que pediu para seus apoiadores irem às ruas vestindo camisas verde e amarelas. O pedido, no entanto, acabou resultando em uma manifestação com pessoas vestidas de preto. “Quando aquilo ocorreu, meu governo acabou. O grande apoio que eu imaginei ainda ter estava no meio do povo. Por isso, acho que essa questão de se apoiar nesse ponto, em contraponto à falta de apoio do Congresso, isso não dá certo. Eu vivi, não dá certo”, sentenciou. (Com informações do UOL e da Gazetaweb)