Vingança e política

PGR lida com ‘balcão’ paralelo, após Lula desdenhar de lista tríplice

ANPR divulgou apenas três candidatos à lista tríplice, a ser eleita por membros ativos do MPF em 21 de junho

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O servidor foi temporariamente afastado de suas funções por um período de 30 dias. (Foto: Antonio Augusto/Secom PGR).

Seguem aflorados os sentimentos de vingança e desconfiança do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com integrantes do Ministério Público Federal (MPF) que levaram à condenação do petista por corrupção e à prisão por 580 dias. Tal mágoa presente em discursos de início deste terceiro mandato de Lula força procuradores da República a lidar com um “balcão” de interesses políticos, paralelo à lista tríplice que o chefe do Palácio do Planalto prometeu ignorar, na escolha do próximo chefe da Procuradoria-Geral da República (PGR), como afirma a Coluna Cláudio Humberto desta terça-feira (30).

Após o baixo interesse dos membros do MPF em entrar na disputa que será ignorada por Lula, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) encerrou ontem as inscrições para sua lista tríplice a ser eleita em 21 de junho com apenas três candidatos: os subprocuradores-gerais José Adonis Callou, Luiza Frischeinsen e Mário Bonsaglia.

Entretanto, há ao menos quatro nomes com chances infinitamente maiores do que estes. O primeiro deles a surgir ainda em 2022, o subprocurador-geral da República Nicolao Dino, já teria sido enfraquecido pela presença de seu irmão e ministro da Justiça, Flávio Dino, na cúpula do governo. Nicolao, inclusive, já foi eleito e rejeitado em duas listas tríplices anteriores, pelos ex-presidentes Michel Temer, em 2017, e Jair Bolsonaro, em 2021, como 1º e 3º mais votado, respectivamente.

Outro nome cotado seria o do subprocurador Antonio Carlos Bigonha, que tem grandes chances de comandar a PGR por ter criticado a Operação Lava Jato, que conseguiu condenar e prender Lula em 2018. O petista foi tratado por Bigonha como “um dos maiores líderes populares de todos os tempos”, quando comentou a prisão de Lula e o papel do Ministério Público, em artigo na revista Carta Capital.

Também corre por fora da lista tríplice a ser eleita o conservador vice-procurador-eleitoral, Paulo Gonet Branco, fortalecido pela sua proximidade com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, integrante da cúpula do Judiciário que esteve presente ao churrasco oferecido por Lula na última sexta-feira (26). Gonet chegou a apontar falhas no registro de candidatura de Lula, por falta de certidões criminais, em 2022.

Ainda há expectativa da escolha do subprocurador Carlos Frederico Santos, responsável pelos inquéritos que tramitam no STF contra acusados de tentativa de golpe contra a eleição de Lula, nos ataques de 8 de Janeiro aos Poderes da República. Ex-presidente da ANPR, Carlos Frederico tentou, sem sucesso, ser eleito nas listas tríplices de 2015 e 2017.

Procurador-geral da República Augusto Aras. Foto: Antonio Augusto/SecomPGR

Mudança de tradição

No contexto em que Lula declarou que “não pensa mais em lista tríplice” para escolha do sucessor do atual PGR, Augusto Aras, pouco interessam os currículos e histórico dos subprocuradores-gerais José Adonis Callou, Luiza Frischeinsen e Mário Bonsaglia, ao longo de suas carreiras no MPF.

Mesmo sem haver obrigação legal, em todos os governos petistas anteriores, Lula e Dilma Rousseff respeitaram a indicação da lista tríplice, nomeando os mais votados para comandar a PGR.

Em 2001, quando foi elaborada a primeira lista tríplice para a escolha do PGR, esta foi ignorada pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, o “FHC” (PSDB), escolhendo Cláudio Brindeiro.

Em 2017, ex-presidente Michel Temer quebrou a tradição petista e rejeitou o primeiro colocado, Nicolao Dino, para escolher a segunda colocada da lista, Raquel Dodge.

E o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), repetiu o gesto de FHC, de ignorar a lista tríplice da ANPR para escolher Augusto Aras para comandar a PGR, em 2019 e em 2021.

Em tempo, a pena de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, que Lula começou a cumprir em 2018, na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, foi anulada em 2021 pelo STF. Mas o MPF ainda é visto como seu inimigo.

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