Volkswagen Saveiro Extreme, uma picape que ‘esqueceu’ de evoluir
Testamos a versão topo de linha da caminhonete compacta, que recebeu novo nome, mas segue parada no tempo
Em 1980, a Volkswagen apresentou o que seria o maior sucesso automotivo da história (até o momento) do Brasil, o Gol. O modelo, que ficou longos 27 anos como o mais vendido do país, foi responsável por toda uma reformulação dentro da marca, dando início a uma nova família de veículos de entrada.
Tanto que, no ano seguinte, veio a versão sedã, com o Voyage. Em 1982, outras duas variações, a perua Parati e a pedida – e muito esperada –, picape Saveiro. A caminhonete veio para brigar com rivais de peso há época, como Ford Pampa e Fiat Fiorino.
Nestes mais de 40 anos, o Voyage parou de ser produzido, voltou anos depois e aposentou novamente. A Parati foi descontinuada cedo também, em relação aos irmãos. E até o Gol “pendurou os pneus” deixando de ser fabricado em 2023. De toda a família, a única que ainda resiste ao tempo é, justamente, a Saveiro.
O que poderia ser uma grande virtude, se mostra o contrário. A picape está parada no tempo, mesmo após receber mais um facelift da terceira geração, lançada em 2010. Ela mantém muitos aspectos da família Gol, desde o pouco refinamento, a motorização. A maior novidade ficou pela nova versão topo de linha, a Extreme, o nosso “Teste da Vez”.
Assustador
Uma reclamação recorrente é que carro está caro no Brasil, mas alguns, como a Saveiro, parecem ir além. Na Extreme, ela parte de salgados R$ 115.690, mas pode chegar a surreais R$ 119.520 – R$ 1.650 da pintura metálica e R$ 2.180 do pacote “Tech” (assistente de descida, retrovisor eletrocrômico, piloto automático e sensores de chuva e crepuscular).
Para se ter uma ideia, a Renault Oroch parte de R$ 118.490 e a Chevrolet Montana e seu motor 1.2 turbo inicia em R$ 123.350, lembrando que ambas são da categoria acima, ou seja, bem maiores do que a alemã. E nem dá para compará-la com a principal rival, a Fiat Strada, que conta com motorização e câmbios melhores, sem falar nas quatro portas.
Recauchutada
Um porém da Saveiro é que, mesmo com quase 42 anos de mercado, ela está apenas na terceira geração (neste aspecto, a Volks sempre fez muita confusão por conta dos chamados “Gs” – G2, G3, G4, G5 – como ela chamava os modelos após um facelift dentro das gerações). Inclusive, no ano passado, a picape passou por mais uma atualização.
A maquiagem realizada em 2023 focou, principalmente, na dianteira, que ganhou para-choque e faróis redesenhados. Na traseira, houve um leve retoque no para-choque e nas lanternas. A maior alteração foi a adição de itens alusivos à nova versão e que seguem o padrão da irmã maior, a Amarok, como o badge “Extreme” na coluna “C”.
Por dentro, praticamente a única mudança foi a retirada do porta-celular. De resto, tudo igual. Com materiais pobres nas portas e no painel, é plástico duro para tudo que é lado, até não seria um problema, por se tratar de uma picape, mas pelo preço, deveria ter tido um cuidado a mais. Ao menos, os bancos são em vinil, com costuras em laranja.
Apesar da cabine dupla, dizer que ela leva cinco pessoas é praticamente um ultraje. Até duas crianças ficam apertadas no assento traseiro que, além de tudo, é de difícil acesso. Além disso, a caçamba é minúscula, tem apenas 580 litros de espaço e pode levar somente 605kg de carga.
Topo só de nome
Mesmo beirando os R$ 120 mil (com os extras) a lista de equipamentos da Saveiro Extreme não é lá essas coisas. Na verdade, os itens que a gente pode dizer que se destacam minimamente, são os do pacote “Tech”, que acrescenta assistente de descida em rampa, retrovisor interno eletrocrômico, piloto automático e sensores de chuva e crepuscular.
No mais, a lista é bem aquém. Ela vem com ar-condicionado manual, banco do motorista com ajuste de altura, coluna de direção com ajuste de altura e profundidade, câmera de ré, faróis de neblina, rodas de liga leve de 15 polegadas, sensor de estacionamento traseiro.
Ela ainda vem com computador de bordo com velocímetro digital, central multimídia “Composition Touch” com conexão para smartphones via Android Auto e Apple CarPlay com fio, volante multifuncional, assistente de partida em rampas, regulagem do facho do farol e itens básicos como retrovisores, vidros e travas elétricos.
A Extreme conta também com barra de teto, santo antônio, ganchos para amarração de carga, capota marítima, iluminação na caçamba. Falando da área de carga, a tampa conta com um sistema “anti-tombamento” interessante. Ao abri-lá, ela não despenca, fica entreaberta.
Antiquado
Hoje em dia, a Saveiro é o único modelo da Volkswagen a não contar com opção de motor turbinado na linha. Enquanto nos irmãos, as versões mais completas contam com propulsores modernos, a picape tem que se contentar com o antiquado 1.6 aspirado de 106 cavalos, com gasolina (116 com etanol) e 15,4kgfm de torque.
A direção é a ultrapassadíssima hidráulica (apenas ela e a Amarok não tem assistência elétrica dentre os modelos da marca), o câmbio é manual de cinco marchas (sendo que este propulsor já contou com transmissão automática em outros modelos da VW, como Gol e Voyage) e, ao menos isso, os freios são a disco nas quatro rodas.
Na condução do dia a dia, sem carregar peso, o motor fraco não faz muita diferença. Já que, mesmo com a cabine dupla, a picape é leve. Ele até permite uma condução mais segura, mas se tiver com a caçamba carregada, faltará força, principalmente nas ultrapassagens, saídas e retomadas. Ao menos, o câmbio é bem encaixado.
Agora, a direção hidráulica mostra que a picape ficou presa na década passada mesmo. As manobras, principalmente de estacionamento, são feitas com um pouco mais de esforço do que deveria. Curiosamente, o consumo foi melhor do que na Trendline e sua cabine simples, rodando praticamente em vias urbanas, ela fez bons 12,9km/l.
A opinião do Diário Motor
A Saveiro é a última resistência de uma linha de veículos criada há mais de 40 anos. Enquanto ela viu os irmãos abrindo espaço para modelos mais modernos, a própria ficou parada no tempo. Em mais um de inúmeros facelifts da terceira geração, ganhou novo nome na versão topo de linha e badges alusivos, mas nada do que realmente importa.
Sem grandes novidades, a picape mantém um conjunto mecânico antiquado, sem opção de câmbio automático, direção hidráulica para lá de ultrapassada e lista de equipamentos bem modesta. Mantendo estes atributos – ou falta deles – o ideal era ter um preço competitivo, mas passa longe disso nos quase R$ 120 mil finais. Não vale a compra! Nota: 4.
Ficha Técnica
Motor: 1.6 aspirado
Potência máxima: 106/116cv
Torque máximo: 15,4/16,1kgfm
Transmissão: manual de cinco velocidades
Direção: hidráulica
Suspensão: independente na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: a disco nas quatro rodas
Capacidade de carga: 605kg
Dimensões (A x L x C x EE): 1.560 x 1.721 x 4.493 x 2.752mm
Preço: a partir de R$ 115.690