Renault melhora motorização do Captur, mas deveria ter ido além
Testamos a versão topo de linha do SUV, que recebeu um banho de tecnologia, mas insuficiente para justificar o alto preço pedido
Carro nunca foi algo barato no Brasil, mas nos últimos tempos os preços estão cada vez mais altos. Com a crise gerada pela pandemia do coronavírus, o setor automotivo nacional se viu em uma situação difícil, primeiro pelo fechamento das fábricas por causa das medidas sanitárias, depois com a falta de componentes que assola o mundo inteiro.
Com isso, os preços, que já eram altos, vem subindo cada vez mais e sem perspectivas de queda. Mas como sempre, mesmo em um momento de valores salgados, algumas marcas acabam indo além. Uma delas é a Renault, com o novo Captur.
O SUV compacto ganhou a atualização de meio de vida em julho e chegou custando alto. Mas passados apenas três meses do lançamento, o preço da versão topo de linha, a Iconic, nosso “Teste da Vez”, já teve uma atualização. Agora, o modelo parte de impressionantes R$ 140.690, R$ 2 mil a mais que no lançamento.
Mas quando o assunto é carro, nem sempre só o preço justifica, o que ele oferece pode acabar “fundamentando” o alto valor investido. Um dos pontos que a Renault melhorou no Captur foi a motorização. Agora equipado com um propulsor turbo, o utilitário evoluiu bem neste aspecto. Ele também recebe novas tecnologias que colocamos à prova.
Discretas
Um grande porém do Captur, desde o seu lançamento, é que o modelo brasileiro não é alinhado visualmente com o francês, mas sim com a versão russa do SUV. Para o facelift, a marca manteve a padronização com o país do leste europeu.
Como ele não segue o padrão francês, que conta com um visual ainda mais arrojado e elegante, o estilo do brasileiro foi levemente alterado. As mudanças focaram basicamente a dianteira, o para-choque foi reformulado e está mais robusto. O conjunto óptico foi levemente redesenhado. Na traseira, nenhuma mudança.
Por dentro, as alterações também foram poucas, ou quase nenhuma. Basicamente focaram a tela da central multimídia que agora é de oito polegadas, com uma nova moldura. O volante e o console central foram levemente redesenhados. A topo de linha, versão na qual testamos, ganhou acabamento em dois tons em marrom e preto.
As partes em marrom passam a ser com material macio ao toque, o que eleva um pouco a qualidade da cabine. Além disso, as peças seguem muito bem encaixadas, sem qualquer tipo de rebarba. O espaço interno continua o mesmo, nem tão grande como no Duster, mas sem ser tão apertado também, levando quatro adultos com conforto. O porta-malas tem bons 473 litros.
Maiores poréns
O Captur recebeu um “banho” de tecnologia, mas poderia — deveria — ter ido além. Um ponto que deveria ter melhorado, tanto na questão do visual quanto da lista de equipamentos, é o ar-condicionado. O sistema continua o mesmo, com um design ultrapassado e sem ser digital, como já é no Duster. Além disso, falta saída de ar para o banco traseiro.
A lista de equipamentos melhorou. Na parte da segurança, a Iconic conta com quatro airbags, sensores de estacionamento, crepuscular, de chuva e de ponto cego, controles de tração e estabilidade, sistema de câmeras 360º, luz de circulação diurna e faróis full LED e assistente de partida em rampa.
Na parte da comodidade, ele vem com a central multimídia, o ar-condicionado automático mas que não é digital, duas portas USB para a traseira, monitoramento de pressão dos pneus, piloto automático, chave tipo cartão sensorial para abertura das portas e partida do motor e sistema Start&Stop.
Mas por ser um veículo que supera os R$ 140 mil, o Captur deveria contar com mais itens, seja de segurança ou de comodidade. Além do ar-condicionado digital, um teto solar seria bem-vindo, assim como ajustes elétricos nos bancos, auxiliar — ou ao menos um alerta — de frenagem, carregador sem fio, mais dois airbags, assistente de permanência em faixa e até mesmo um piloto automático adaptativo.
Ponto alto
Dentre as novidades do Captur, o conjunto mecânico é, sem dúvidas, a melhor. Se até então o SUV sofria com a falta de força do motor 1.6, agora, com a novíssima caixa 1.3 turbo ele tem fôlego de sobra. Além disso, a transmissão automática CVT recalibrada surpreende positivamente. O único deslize do conjunto são os freios, a disco apenas na dianteira, a traseira utiliza o sistema de tambor.
O casamento do câmbio com o motor é impressionante. Os 170 cavalos, quando abastecido com etanol, ou 162 quando com gasolina, e o alto torque de 27,5kgfm com ambos os combustíveis, trabalham muito bem com a transmissão, que nem de longe lembra as CVTs clássicas.
Primeiro que o isolamento acústico trabalha bem para não repassar ruídos excessivos para a cabine. Segundo, as respostas são rápidas, algo raro em caixas CVTs, ela atende bem aos comandos do acelerador. A capacidade do câmbio é tão grande, que chega a “levantar suspeitas” se realmente é uma transmissão continuamente variável.
Dessa forma, todas as manobras são feitas com extrema facilidade e segurança. A cada pisada no acelerador, o carro “instiga” o motorista a acelerar ainda mais, mostrando que o motor trabalha de forma vigorosa. Ultrapassagens e retomadas são feitas sem nenhum esforço.
Se antes ele era manco, com o motor 1.6, agora ele se torna um dos modelos mais espertos da categoria. O propulsor trabalha muito bem e ficou impressionantemente bem encaixado com a transmissão. A direção elétrica, outra novidade, otimiza ainda mais a condução do SUV, deixando o volante firme em altas e leve em baixas velocidades.
Na questão do consumo, durante nosso teste, ele ficou com média de 10,3km/l, o número pode não ser bom, mas é justificável. Como ele “instiga” a acelerar, acaba gastando um pouco mais, ainda assim é bem melhor que os dados anteriores e basta maneira no pé que o gasto será melhor.
A opinião do Diário Motor
Como praticamente todo veículo zero quilômetro à venda no Brasil, o Captur Iconic exagera no valor pedido. Custando R$ 140.690, podendo chegar a R$ 143.890 de acordo com a pintura, como a da unidade que testamos, ele é um dos mais caros entre os SUVs compactos. Pelo menos, agora o conjunto mecânico está a altura do visual, que sempre foi agradável.
O propulsor 1.3 turbo é, de longe, o grande astro do utilitário, com fôlego de sobra, ele anda muito bem. Outro aspecto positivo é a transmissão automática, que nem parece uma caixa CVT. O maior deslize é a lista de equipamentos, que é boa, mas deveria ser melhor. Vale o teste drive com possível compra! Nota: 7,5.
Ficha técnica
Motor: 1.3 turbo
Potência máxima: 170/162cv
Torque máximo: 27,5kgfm
Transmissão: automática do tipo CVT
Direção: elétrica
Suspensão: independente na dianteira e barra estabilizadora na traseira
Freios: a disco na dianteira e tambor na traseira
Porta-malas: 437 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.619 x 1.813 x 4.379 x 2.673mm
Preço: R$ 140.690