Renault Kwid E-Tech: porta de entrada para o universo dos 100% elétricos
Testamos a versão elétrica do supercompacto que tem direção divertida, mas itens de série que deixam a desejar e preço que precisa melhorar
No último Salão do Automóvel de São Paulo, realizado em 2018, diversas marcas aproveitaram a mostra para divulgar a expansão elétrica que surgiria nos anos seguintes. Durante a feira, uma das marcas a confirmar veículos 100% eletrificados no país, foi a Renault, com o Zoe.
Tecnicamente, o hatch compacto não foi o primeiro modelo elétrico da marca no Brasil, já que ela comercializava – apenas para empresas e governos – modelos como o Twizy e o Kangoo. Mas ele seria o primeiro disponível para o público geral.
De 2018 para cá, o mercado nacional ganhou diversos representantes entre os elétricos, atualmente há cerca de 35 modelos dos mais variados tamanhos, categorias e marcas. Dentre as generalistas, a francesa é uma das poucas que conta com mais de um veículo elétrico em seu portfólio.
Além do Zoe, que já está na segunda geração por aqui, a Renault conta também com o Kwid E-Tech, a variação 100% elétrica do supercompacto. Lançado no fim do ano passado, ele é um dos modelos que representam a porta de entrada para o universo dos totalmente eletrificados, mas que ainda pecam em um fator, o preço. Testamos o pequeno elétrico e seus salgados R$ 149.990.
Quase todo igual
No design, a única diferença entre o E-Tech para o Kwid à combustão é a grade frontal, que não existe no elétrico. A peça fechada tem um desenho diferenciado, que deixa o visual do hatch mais elegante. E é nela onde fica o “bocal” do carregador, dessa forma, a lateral fica limpa. E, em vez de três, as rodas contam com quatro parafusos, no mais, é tudo idêntico.
Por dentro, a principal diferença visual é a ausência óbvia da manopla do câmbio, que no elétrico é automático e conta apenas com um “joystick” para alternar entre “D”, “R” e “N”. Além disso, na parte de trás, há mudanças, o túnel central foi retirado, o que otimiza o espaço para os pés, e o banco traseiro foi homologado para levar apenas duas pessoas.
Se formos parar para pensar, é quase impossível levar cinco pessoas no Kwid. Dessa forma, essa homologação diferente só “regulariza” o que de fato acontece com o supercompacto. Assim, quatro adultos até conseguem ter um espaço digno no elétrico. O porta-malas manteve os bons 290 litros, para o porte do veículo.
O maior porém do interior é justamente ele ser – praticamente – idêntico ao Kwid “normal”, um modelo que custa menos da metade do preço do E-Tech. Dessa forma, os materiais passam longe de serem equivalentes a de um veículo de quase R$ 150 mil, pelo contrário.
O acabamento até que é bem-feito, sem rebarbas ou peças mal encaixadas. Mas o problema mesmo é a qualidade deles, claramente de um veículo popular, ou seja, é plástico duro para tudo que é lado. Além disso, ele conta com alguns pontos, no mínimo, estranhos.
O primeiro e mais bizarro deles é que os vidros traseiros são elétricos, mas não há comandos na dianteira, ou seja, o motorista não consegue controlá-los. As portas dianteiras não tem o pino da trava (presentes no modelo à combustão), mas a de trás tem, o que não faz sentido. Por fim, ele não conta com o clássico comando do som atrás do volante.
Deveria ser melhor
Apesar do preço, o Kwid E-Tech é um veículo de entrada, dentre os modelos 100% elétricos. Com isso, a lista de equipamentos, que inclusive é melhor que a do Kwid “normal”, deixa a desejar, principalmente quando olhamos para seus R$ 149.990.
O E-Tech vem com seis airbags (dois a mais que o “normal”), controle de estabilidade, assistente de partida em rampa, câmera de ré, sensor de estacionamento traseiro, alerta de pressão dos pneus e sistema AVAS, que emite um sinal sonoro de alerta aos pedestres até o veículo atingir 30km/h, velocidade comum em áreas urbanas.
Ele ainda vem com ar-condicionado manual (deveria ser automático e digital), travas das portas e vidros dianteiros e traseiros elétricos, ajuste de altura dos faróis (por meio de um botão estranho no painel), limitador de velocidade (com acionamento no volante), regulagem elétrica dos retrovisores e central multimídia Media Evolution.
O sistema tem tela de sete polegadas, espelhamento de smartphone via Android Auto e Apple CarPlay por fio e porta USB. Mas ele bem que poderia vir também com carregador sem fio para smartphones, chave sensorial, partida por botão e algum sistema a mais de segurança, como monitoramento de ponto cego ou alerta de colisão.
Surpreendente
Um ponto interessante de todo este novo universo dos veículos 100% elétricos é a falsa percepção que todo modelo terá uma condução esportiva e super divertida, apenas por ser eletrificado, o que nem de longe é verdade. Como qualquer categoria, há modelos bons de conduzir e outros chatos. E, ao contrário do esperado, o Kwid fica no primeiro grupo.
Ao ver os números frios do E-Tech, é até plausível pensar que ele seja mais um elétrico chato de dirigir. No entanto, a realidade é completamente outra. O pequeno utiliza um motor de 48kW que gera 65 cavalos – até menos que o modelo à gasolina – e 11,5kgfm de torque. A direção é elétrica como tem que ser neste tipo de veículo.
Mesmo assim a condução do E-Tech é divertida, claro, dentro do limite da caixa de força. A aceleração é feita de forma super otimizada e prazerosa. Por ser pequeno e leve (997kg), o Kwid garante boas e seguras retomadas, sem qualquer susto. O mais leve toque no acelerador faz o hatch disparar e, mesmo em movimento, ele garante divertidas aceleradas.
A direção elétrica, presente também na versão à combustão do Kwid, está ainda mais leve no E-Tech, fazendo que qualquer manobra em baixa velocidade, como em estacionamentos, seja feita sem o mínimo esforço. Por ser progressiva – muito importante para um veículo leve –, ela fica firme em alta velocidade, deixando a condução mais segura.
E, como qualquer elétrico, de início, tem aquela sensação estranha de sentir o carro acelerando sem emitir nenhum ruído, principalmente quando ele ganha velocidade. Mas é algo que o motorista se acostuma rapidamente.
De todo o conjunto, o que mais deixou a desejar foi a suspensão. Mas nem podemos culpar muito o Kwid, ou a Renault, por isso, já que as nossas vias, seja em qual cidade for, não ajudam. Com uma calibração mais firme, o conjunto repassa um pouco a mais do que deveria as – muitas – imperfeições do solo, mas no asfalto liso, não há nenhum repique incômodo.
Na tomada
O E-Tech conta com frenagem regenerativa permanente, que recupera energia a cada vez que se deixa de exercer pressão sobre o pedal do acelerador e, também, quando freia, mas que não chega a ser um sistema “one pedal”. A autonomia pode ser otimizada pelo modo de condução ECO, que limita a potência em 33kW e a velocidade máxima em 100km/h.
A recarga pode ser feita em uma tomada comum, Wallbox de 7kW e em carregadores de corrente contínua (DC). Para carregar dos 15% até 80% são necessários 40 minutos de carga em um DC, 2h54 em um Wallbox e 8h57 em uma tomada doméstica. Nos números divulgados pela Renault.
Durante o nosso teste, ao utilizar um carregador do tipo Wallbox, ganhamos 32% de carga, indo de 30% para 62% em 1h30. A autonomia disponível foi para 147 quilômetros, um ganho de 76. Ao plugá-lo na tomada, aparece um aviso no painel informando o tempo necessário para chegar em 80% e em 100% de carga nas baterias.
Um ponto importante, quando lançado, o E-Tech tinha uma autonomia informada de quase 300km no padrão WLTP, que é europeu. Mas recentemente o Inmetro finalmente divulgou os dados oficiais no Brasil e, pelo Selo Conpet, o Kwid E-Tech tem autonomia de 186km, que corresponde mais com a realidade, já que, de 100% a 30% rodamos 158 quilômetros.
A opinião do Diário Motor
Os elétricos estão longe de se popularizarem de verdade, basicamente por conta do preço. Mas em um momento do mercado que não existem mais modelos ditos populares, é até complicado criticar – muito – o valor do Kwid E-Tech, principalmente quando olhamos os valores de modelos como o Stepway da própria Renault, por exemplo, que supera os R$ 110 mil.
Saindo por praticamente R$ 150 mil, o Kwid E-Tech é caro, pelo porte e pela lista de equipamentos, pensando no mercado como um todo. Mas ao olhar para modelos 100% elétricos, ele é, ainda, um dos mais baratos, ou seja, é uma tecnologia que ainda demorará para se difundir. Assim, dentro do que ele se propõe a ser, um carro urbano e “ecologicamente correto”, vale a compra! Nota: 8.
Ficha técnica
Motor: elétrico
Potência máxima: 65cv
Torque máximo: 11,5kgfm
Transmissão: automática
Direção: elétrica
Freios: a disco na dianteira e tambor na traseira
Autonomia: 187 quilômetros (padrão Inmetro)
Porta-malas: 290 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.500 x 1.770 x 3.734 x 2.423mm
Valor: R$ 149.990