Primeiras impressões: Nissan Sentra e a tentativa de voltar a ‘briga’
Rodamos na versão topo de linha do sedã que chega completamente renovado e com bons itens de série, mas com pequenos deslizes
São Paulo (SP) – Na última semana, a Nissan finalmente apresentou a oitava geração do Sentra no Brasil. O sedã médio, que era esperado por aqui em 2020 mas teve os planos de lançamento atrasados por conta da pandemia de Covid-19, chega renovado em duas versões, ambas com o mesmo conjunto mecânico, que não é híbrido.
Para tentar competir em um segmento que tem o Toyota Corolla como líder absoluto e detentor de nada menos que 74,83% das vendas da categoria em 2022 – neste ano, ele começou ainda mais agressivo, com 86,24% da fatia de mercado –, o Sentra aposta em uma boa reformulação e preço agressivo, considerando os rivais.
A opção topo de linha, a Exclusive, que fomos até São Paulo capital conhecer de perto, sai por R$ 171.990. Comparado com as versões mais completas dos rivais, ele só não é mais barato que o Caoa Chery Arrizo 6 e seus R$ 152.490.
Honda Civic e Volkswagen Jetta, apesar de serem da mesma categoria, têm propostas completamente diferentes do Sentra. E como o Corolla é praticamente inalcançável, o grande rival do japonês é o Chevrolet Cruze, que ficou com o segundo lugar da categoria no ano passado, e é levemente mais caro que o novo rival.
Maior pecado
Olhando para a concorrência, o grande porém do Sentra é a motorização. O modelo, que chegou a atual geração em 2019, parece ter parado por lá. Ele é o único da categoria que utiliza um motor puramente aspirado. Os rivais ou tem propulsor turbo, ou conta com uma caixa elétrica de auxílio, ou os dois, no caso do Civic e do Arrizo 6.
Velho conhecido, o motor do Sentra continua o mesmo 2.0 aspirado, mas, ao menos, com algumas recalibrações importantes que, segundo a Nissan, otimizaram o consumo. Agora, o propulsor gera 151 cavalos, 11 a mais que na geração anterior, mas com o mesmo torque, de 20kgfm. A transmissão é a automática CVT, mas que agora tem trocas virtuais.
Direção elétrica, suspensão independente e freios a disco nas quatro rodas completam o conjunto mecânico que na cidade até que vai bem, o problema mesmo é na estrada. Como qualquer veículo com este tipo de câmbio, o Sentra demanda paciência na hora de realizar ultrapassagens e nas saídas e retomadas de velocidade.
Como a adoção de marchas é puramente virtual, a transmissão permanece contínua, ou seja, demora para o sedã ganhar velocidade, sem falar no excesso de ruído. A Nissan até afirma que a acústica do carro foi melhorada, mas ainda está aquém do desejado, principalmente ao pisar, mesmo que levemente, no acelerador, já em 3.500rpm, ele “berra”.
Mesmo com o giro em média rotação, o câmbio faz o motor urrar e repassa boa parte do barulho para a cabine, deixando uma sensação de que o veículo está sofrendo mais do que realmente está para realizar uma manobra, mas no fim é só ruído demais. A suspensão, independente, é um dos pontos altos, bem acertada, macia e confortável.
Um ponto que a Nissan afirma ter melhorado e, neste primeiro contato, aparenta que realmente foi, é o consumo. O dado oficial do sedã aponta 13,9km/l na estrada e 11km/l na cidade. Como esta é apenas a “primeiras impressões” do japonês, não é possível cravar estes dados, mas no breve contato que tivemos com o carro, ele se mostrou econômico.
Elegante
Como sempre costumamos dizer, design passa muito pelo gosto pessoal, o que uma pessoa pode achar bonito, outra pode não considerá-lo, é uma linha muito tênue. Sendo assim, é possível que haja pessoas que não curtam o novo visual do Sentra, mas é inegável que ele está muito mais elegante e, provavelmente, conta com o melhor desenho entre os rivais.
Sem perder a essência da marca, o Sentra chega com um visual muito mais refinado do que a geração anterior. Ainda assim, é possível ver os detalhes conhecidos da Nissan, como a grade “V-Motion”, que está mais “aberta” e conversa muito melhor com os faróis, que são em LED e estão bem mais finos.
Apesar de elegante, o logo em preto ficou meio sumido na grade. O teto bicolor apresenta um charme a mais à carroceria. As lanternas, no padrão bumerangue, também estão mais finas. As saias laterais e nos para-choques, apresentam um ar mais esportivo ao sedã.
Um ponto interessante, e que chega a ser controverso, é o tamanho do Sentra. Ele está 55mm mais largo e 10mm mais comprido e o entre-eixos ganhou 7mm. Mas mesmo assim, o porta-malas perdeu espaço, 37 litros para ser mais exato, caindo para – ainda bons – 466 litros. A tendência lógica seria ele ganhar volume e não perder.
Por dentro, o visual melhorou muito também, apesar de alguns deslizes. Tudo foi redesenhado, do volante ao console central, passando pelo painel, central multimídia e bancos. Para a versão topo de linha, há opção de acabamento bicolor, em um tom de caramelo, mas que a Nissan chama de “Sand”, ou seja, areia.
Com materiais de boa qualidade e um bom acabamento, os poréns da cabine ficam pelas colunas e teto em tom claro, fosse escuro deixaria o interior mais elegante e a ausência de saída de ar para a traseira, falha grave em um veículo familiar de porte médio. Falando nisso, o conforto atrás segue otimizado, levando quatro adultos sem aperto algum.
Os maiores deslizes
Como é de se esperar, a lista de equipamentos também foi bem reformulada. Mas ainda assim faltaram alguns detalhes para que a evolução fosse completa. Ao menos, o único opcional é o acabamento bitom do interior (R$ 1,7 mil), de resto, tudo é de série.
Assim, na parte da segurança, a Exclusive conta com seis airbags, sensores crepuscular e de estacionamento dianteiro e traseiro, auxiliar de partida em rampa, monitoramento de pressão dos pneus, faróis full LED, controles de tração e estabilidade, alerta de objetos no banco traseiro e câmera 360º
Ele vem também com assistente inteligente de frenagem, alertas inteligente de atenção do motorista, avançado de colisão frontal, de tráfego cruzado traseiro e inteligente com assistente de prevenção de mudança de faixa, monitoramento de ponto cego, piloto automático adaptativo (ACC) e faróis automáticos inteligentes.
Na parte da comodidade, ar-condicionado automático digital de duas zonas, banco do motorista com regulagem elétrica, chave sensorial, partida por botão, três portas USB, central multimídia com tela de oito polegadas e conexão via Android Auto e Apple CarPlay, painel de instrumentos com display digital, partida remota do motor, retrovisores interno eletrocrômico e externos rebatíveis, teto solar e sistema de som premium da Bose.
A principal falha da lista de equipamentos é o freio de estacionamento, que regrediu. Em vez da Nissan utilizar um eletrônico, como “manda” a categoria, ela fez uso de um de pé, remetendo aos utilitários da década de 1990. Com isso, não há sistemas auto hold e “stop and go” para o ACC e, além de ser um completo inconveniente, a posição é muito ruim.
Para completar a lista de ausências, há a já citada saída de ar-condicionado para a traseira, que ao menos conta com uma porta USB, faltam também carregador e conexão são fio para a central multimídia (que poderia ser mais moderna também) e sensor de chuva.
A opinião do Diário Motor
O Sentra evoluiu bastante, apesar de que deveria ter ido além. O visual ficou muito mais elegante e o japonês conta com o melhor design da categoria – pelo menos na visão deste que vos escreve –, recebeu novos equipamentos e cresceu. Só faltou uma atenção maior ao conjunto mecânico. Um motor turbo cairia bem, mas um sistema híbrido seria melhor.
Com preço dentro da realidade da categoria, pode fazer frente a quem deve rivalizar diretamente, o Chevrolet Cruze, já que o Corolla é praticamente inalcançável. Tirando os pequenos deslizes, a lista de equipamentos é boa. O conjunto mecânico, principalmente o motor, poderia trabalhar melhor, mas ganha pontos pelo conforto. Vale o teste com possível compra! Nota: 7,5.
Ficha Técnica
Motor: 2.0
Potência máxima: 151cv
Torque máximo: 20kgfm
Transmissão: automática CVT
Direção: elétrica
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: a disco nas quatro rodas
Porta-malas: 466 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.456 x 1.816 x 4.646 x 2.707mm
Preço: R$ 171.990
*Viagem a convite da Nissan