Pecado permanente: Nissan Versa continua vacilando no preço e motor
Testamos a versão topo de linha do sedã que encosta nos R$ 130 mil, mesmo com propulsor de míseros 113 cavalos
O mercado de sedãs, principalmente o de compactos, é um dos mais ecléticos no momento. Com representantes em diversos momentos, há modelos recém reformulados, que estão no fim de vida da geração, que recebeu facelift recentemente, com os mais variados tipos de equipamentos, com motores turbo e aspirados e, claro, os mais diversos preços.
Atualmente, no Brasil, existem oito sedãs compactos à disposição do público. Como outros segmentos, o de três volumes vem perdendo espaço para os SUVs. Para se ter uma ideia, neste ano, a categoria emplacou menos até que as picapes, estando atrás dos hatches e, claro, dos utilitários também.
São apenas 10,61% de participação de mercado em 2024 e, mesmo se acrescentarmos os médios e grandes, sobe pouco, para 13,6%. Mas o que mais assusta mesmo, é a média de preço. Do mais simples, que custa R$ 98.300, ao mais completo de todos (R$ 139.100), os valores, como dizem no mundo do futebol, “assustam”.
Mas o que mais impressiona são os modelos que unem motores aspirados ultrapassados a preços exorbitantes, como o nosso “Teste da Vez”, o Nissan Versa na versão topo de linha, a caríssima Exclusive, que sai por R$ 129.590 e, mesmo com um interessante facelift de meio de vida, insiste no fraquíssimo propulsor 1.6 de míseros 113 cavalos.
Surto coletivo
O problema de preço não é só com o Versa. Mesmo custando quase R$ 130 mil ele é “só” o terceiro sedã compacto mais caro do país, analisando as versões topo de linha. Ele fica atrás do Volks Virtus e do Honda City. Mas o que mais impressiona é o fato dele custar quase R$ 10 mil a mais que o modelo mais vendido da categoria, o Chevrolet Onix Plus, que sai por, não menos salgados, R$ 120.900.
Mas o japonês produzido no México pode ficar ainda mais caro, por conta da pintura. A unidade que testamos mesmo, conta com a nova cor batizada de “cinza lunar”, que acrescenta R$ 2 mil ao valor final do sedã, ou seja, ele bate nos R$ 131.590. Ao menos, não há opcionais, a lista de equipamentos já é bem completa.
Mais executivo
Neste ano, o Versa recebeu o facelift de meio de vida da atual geração com uma mudança profunda no visual, focado na dianteira do veículo. Agora, ele conta com um estilo mais executivo e elegante, completamente diferente do visto na geração anterior.
Um ponto interessante é que, apesar da grande reformulação, ainda é possível perceber, de forma mais discreta, o estilo “V-Motion” na grade, caracterizado principalmente pelos detalhes cromados que seguem a linha do farol. O resto da peça é em preto brilhante. Ele ainda conta com rodas exclusivas de 17 polegadas.
Por dentro, a principal novidade é a possibilidade de escolher a cor do acabamento em couro sintético de dois tons, que pode ser azul e preto (como na unidade testada) ou em bege e preto. A tela da central multimídia de oito polegadas poderia ser maior e sem os botões físicos. Falando nas teclas, os comandos na porta não serem iluminados é surreal, sem falar que apenas o vidro do motorista tem abertura e fechamento por um toque.
Falando do acabamento, ele é muito bem feito, sem qualquer tipo de rebarba ou peça mal encaixada. Como sempre, o grande destaque do interior é o generoso espaço interno, podendo levar até cinco pessoas com certo conforto, até o ocupante do meio não fica muito apertado. Além do generoso porta-malas, de 482 litros.
Ao menos, completo
Para tentar compensar o motor super ultrapassado, a Nissan “carregou” bem a lista de equipamentos do Versa. Ele conta com algumas novidades, como alerta de colisão frontal, assistente inteligente de frenagem (mas sem leitura de pedestre ou ciclistas) e carregador sem fio para smartphones.
Estes itens se juntam aos seis airbags, controles de tração e estabilidade, auxiliar de partida em rampa, sensores de estacionamento e crepuscular, piloto automático, câmera 360º com detector de objetos, faróis full LED, alertas de objetos no banco de trás, de tráfego cruzado traseiro, de atenção do motorista e de cinto de segurança e monitoramento de ponto cego.
Na parte da comodidade, central multimídia de oito polegadas com conexão (com fio) via Android Auto e Apple CarPlay, chave sensorial, partida por botão, console central com apoio de braço e entrada USB-C, painel de instrumentos com tela de sete polegadas, aerofólio traseiro, função “welcome”, antena tipo “tubarão” e ar-condicionado digital.
Além da ausência de sensor de chuva, retrovisor eletrocrômico, piloto automático adaptativo, freio de estacionamento eletrônico e partida remota, o grande porém fica por um item que era para ser interessante, a câmera 360º. Aliada a pequena tela da central com uma visualização confusa, o sistema mais atrapalha do que ajuda e, no fim, se mostra inútil.
O de sempre
Apesar de superar os R$ 130 mil, da atual geração ter sido apresentada há pouco tempo – no final de 2020 – e de ter acabado de passar por um facelift, a Nissan insiste em utilizar o ultrapassado motor 1.6 quatro cilindros que rende míseros 113 cavalos e 15,3kgfm de torque, isso com etanol, com gasolina é ainda mais fraco, com 110 cavalos e 15,2kgfm.
Transmissão automática do tipo CVT, direção elétrica, freios a disco apenas na dianteira – pelo preço do veículo, deveria ser nas quatro rodas – e suspensão independente a frente e eixo de torção na traseira, completam o conjunto mecânico do Versa.
Câmbio CVT nunca foi sinônimo de esperteza, mas algumas marcas estão conseguindo otimizar este tipo de transmissão aliando a motores turbinados, como as do grupo Stellantis e a Renault (que tem aliança com a Nissan), mas em modelos com propulsores aspirados, como no caso do Versa, é um sofrimento só.
Com um motor longe de ser forte, as manobras são feitas com uma certa “aflição”. É preciso pisar fundo, deixar o giro subir e ter cuidado redobrado, principalmente nas ultrapassagens e nas retomadas de velocidade. A aceleração é bem progressiva e as saídas são morosas. O motorista precisa de uma atenção redobrada, já que as respostas não são imediatas.
Assim como já visto na atual geração, antes do facelift, o isolamento acústico do Versa está muito bom. Isso porque, outro ponto natural de câmbios CVT é o excesso de ruído, que não há no japonês. Com os vidros fechados, o barulho da transmissão trabalhando fica do lado de fora, deixando a viagem mais agradável.
Falando nisso, como um bom sedã, a suspensão trabalha bem, não repassando as inúmeras imperfeições do solo para a cabine. Já o consumo foi honesto, na casa dos 12km/l (11,9km/l mais precisamente), não foi ruim, mas poderia ter sido melhor.
A opinião do Diário Motor
Como aconteceu com o lançamento da atual geração, o Versa poderia ser um excelente veículo, não fosse o preço e o motor. O ideal seria ele ser mais barato e ter um propulsor melhor, de preferência turbinado, mas ao menos um desses já deixaria o sedã mais interessante. Até a lista de equipamentos, que é generosa, poderia ser melhor aproveitada.
Não adianta, por exemplo, ter uma câmera 360º, se ela é de difícil visualização e mais atrapalha do que ajuda. O espaço interno e o porta-malas generoso são os pontos fortes do japonês. Mas o motor – com todos os seus predicados – e o preço acabam “freando” uma melhor avaliação do Versa. Vale apenas o teste drive! Nota: 6.
Ficha Técnica
Motor: 1.6
Potência máxima: 113cv
Torque máximo: 15,3kgfm
Transmissão: automática do tipo CVT
Direção: elétrica
Suspensão: independente na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: a disco a frente e tambor atrás
Porta-malas: 482 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.475 x 1.740 x 4.549 x 2.620mm
Preço: R$ 129.590