Ford Mustang Mach-E, quando o principal erro está no nome
Testamos o SUV elétrico que se mostra um carro para lá de interessante, mas que está longe de ter a ‘aura’ do clássico muscle car
O mundo automotivo vive uma “SUVzação”. Não é só no Brasil que os utilitários esportivos estão dominando os mercados, mas em todos os continentes. Com o apelo de modelos mais altos, algumas marcas cometem “heresias” ao batizar os novos veículos. A ideia é utilizar um nome conhecido ou muito famoso, para chamar a atenção para o SUV.
A questão é que, nos últimos anos, nas marcas que utilizaram essa proposta, os modelos novos não eram exatamente a versão alta do anterior. São casos emblemáticos, como o da Mitsubishi, conhecida por bons utilitários esportivos, a japonesa resolveu reviver um nome clássico, Eclipse, para batizar a novidade, acrescida de Cross.
Esta parece ser uma forma de separar o modelo clássico da novidade “altinha”. A Toyota também foi na onda da compatriota e, ao lançar um novo SUV médio (já contava com o Rav4), resolveu usar a atenção de um dos veículos mais vendidos do mundo com um novo sobrenome, assim, surgiu o Corolla Cross, que em nada tem a ver com o irmão sedã.
O caso mais recente, e provavelmente, mais emblemático até o momento, é o da Ford. Na ideia de criar um SUV de pegada esportiva e totalmente elétrico, em vez de escolher um nome novo, resolveu batizá-lo de Mustang Mach-E, com o sobrenome indicando a fusão da esportividade com a eletrificação, vista na versão GT Performance, o nosso “Teste da Vez”.
Precificação
O Mach-E GT Performance é um caso à parte. Ele não é um simples SUV elétrico, mas sim um verdadeiro utilitário esportivo eletrificado. Hoje, no Brasil, os rivais parecidos são o Audi SQ8 Sportback e-tron e o BMW iX M60. Mas enquanto o americano sai por R$ 486 mil, os alemães partem de surreais R$ 864.990 e R$ 1.101.950, respectivamente.
Há também concorrentes na mesma faixa de preço, mas com uma pegada mais voltada para o conforto ou autonomia, sem o “espírito esportivo”, como o BMW iX3 (R$ 500.950), Mercedes-Benz EQB (R$ 449.990) e o conterrâneo Chevrolet Blazer EV (R$ 479.990). Ou de pegada parecida, como o BYD Seal, mas um sedã coupê e mais barato (R$ 299.800).
Elegância esportiva
Apesar do erro crasso do batismo do SUV de Mustang, o Mach-E tem similaridades com o irmão esportivo e, ao mesmo tempo, é um veículo completamente diferente. Além do logo, com o clássico cavalo selvagem, na dianteira e espalhado pelo veículo, as lanternas e o perfil do modelo são similares ao do muscle car.
Fora o logotipo, os detalhes mais idênticos são as lanternas triplas, que remetem diretamente ao clássico desenho utilizado pelo Mustang desde sempre. O capô alongado e de perfil alto, a carroceria larga e o estilo coupê também remetem ao irmão à combustão.
Como sempre falamos, visual é questão de gosto, algo pessoal. Mas o Mach-E não deixa de ter um estilo ousado, elegante e que inspira esportividade, garantido pela grade fechada, mas com desenho imitando colmeia. A peça, assim como as saias vistas nos para-choques e nas laterais, os frisos, os retrovisores e outros detalhes, são em preto brilhante.
O teto, que a princípio parece ser apenas bicolor, é em vidro, no estilo panorâmico, mas sem abertura. Ele termina em um grande aerofólio também em preto brilhante. O estilo coupé é reforçado pelas maçanetas futuristas, são simples botões, que realçam as linhas laterais do SUV. As gigantes rodas de 20 polegadas completam o desenho esportivo.
A cabine é bem futurista, com destaque para as telas, uma outra gigante na vertical e outra, sem moldura, para o painel de instrumentos. O minimalismo, sem exageros, é a “ordem da casa”, nada no interior é exagerado. Os materiais são de extrema qualidade e muito bem acabados, não há nenhuma peça mal encaixada ou com qualquer tipo de rebarba.
Todas as áreas onde há contato com a mão ou braço, o acabamento é confortável. Falando em conforto, o espaço atrás é generoso, levando até mesmo três adultos sem apertos, afinal, são 2.984mm de entre-eixos. Ele ainda conta com duas portas USB e saída de ar para a traseira. O porta-malas leva bons, para um SUV esportivo elétrico, 402 litros.
Ponta do lápis
Tudo bem que o Mach-E tem toda uma pegada esportiva e é totalmente elétrico, mas ainda assim, estamos falando de um veículo de quase R$ 500 mil. Ou seja, os itens de série têm que ser generosos, coisa que ele manda bem. Destaque para central multimídia com tela de 15,5 polegadas, conexão sem fio via Android Auto e Apple CarPlay, GPS e seis portas USB.
Ele vem também com painel de instrumentos de 10,2 polegadas, som premium da B&O, carregador por indução, bancos dianteiros com ajuste elétrico, aquecimento e memória para o do motorista, ar-condicionado de duas zonas (até podia ser de três) com saída para a segunda fileira, luz ambiente colorida e teto solar panorâmico.
Na parte da segurança, faróis full LED, assistente de estacionamento automático, câmera 360°, freio de estacionamento eletrônico, nove airbags, detecção, manutenção e centralização em faixa com alerta de ponto cego, piloto automático adaptativo com stop&go, frenagem autônoma de emergência com detecção de pedestres, assistente de manobras evasivas e reconhecimento de placas de velocidade.
Ele ainda conta com o aplicativo FordPass, que o motorista pode utilizar para localizar carregadores públicos, agendar e acompanhar o andamento da recarga, pré-condicionar a cabine e a bateria antes da partida, travar e destravar as portas remotamente, localizar e verificar o status do veículo (odômetro, autonomia, pressão dos pneus e nível da bateria).
Cavalos elétricos
O visual esportivo do Mach-E é corroborado com o conjunto mecânico imponente. O SUV conta com dois motores elétricos, um em cada eixo, que deixam a tração integral. Juntos, eles geram ótimos 487 cavalos e excelentes 87,7kgfm de torque. Os freios, da Brembo, são a disco nas quatro rodas e a suspensão independente nos dois eixos.
Todo este poderoso conjunto mecânico elétrico culmina em uma direção agressiva, muito esportiva e para lá de divertida. Hoje, pouquíssimos veículos abaixo dos R$ 500 mil disponíveis no Brasil entregam tanto quanto o Mach-E. O zero a 100km/h na casa dos três segundos (3,7) é visto nas acelerações absurdas do SUV.
O mais leve toque no acelerador faz com que o utilitário saia “comendo” asfalto e que os ocupantes colem no banco. Ele ganha velocidade com extrema facilidade e, por não ter nenhum ruído, chega a ser perigoso, já que rapidamente passa dos 100km/h e de forma até pouco perceptível, já que não tem um motor urrando, como estaria em um V8 aspirado.
É o que falta no Mach-E, o urro de um motor, para quem não tá acostumando com elétricos extremamente potentes, é estranho perceber ele ganhando velocidade sem ruído algum. Dentro até existe o modo que imita o som de escapamento pelos alto-falantes, mas é um som bem artificial, que no fim, é melhor nem utilizar.
A falta de barulho gera outro fator. Mesmo extremamente esportivo e potente, além do visual agressivo, ele chama pouca atenção na rua, se a pessoa não estiver olhando. Não gera aquelas “quebradas de pescoço”, já que não escutam ele passando.
Ainda sobre a dirigibilidade, além de divertida e esportiva, ela é muito segura. Claro que manobras básicas, como ultrapassagens, saídas e retomadas de velocidade são feitas de forma primorosa. Mas a condução em si é protetiva, em momento algum ele tende a querer fugir do traçado, mesmo em curvas de alta, o motorista sempre tem o SUV na mão.
A suspensão tem porém, mas que é zero culpa do veículo. Por se tratar de um modelo bem esportivo, o sistema é, obviamente, mais rígido, ou seja, no asfalto ruim (que infelizmente tem em abundância por nosso país), ele tende a repassar mais as imperfeições do solo para a cabine. As molas mais firmes, trabalham menos nestes momentos.
Mas ele foi feito pensado para asfalto liso e, quando se acha um assim, é pura perfeição. Não há incômodo algum e a viagem volta a ser apenas divertida e prazerosa para todos os ocupantes. E, ah, sobre o “consumo”, a bordo de um Mustang, mesmo que um SUV elétrico, é o famoso “quem liga?”. Ainda assim, ele também manda bem.
Na tomada
A bateria é tão grande quanto a cavalaria. Ela tem excelentes 91kWh de potência, uma das maiores do mercado brasileiro. Assim, pelo padrão PBEV do Inmetro, a autonomia é de 379 quilômetros. Mas com 100%, ele apresentava mais de 400 quilômetros. No entanto, um veículo elétrico é como um a combustão, depende muito a forma de utilizar.
Mesmo em um uso, digamos, agressivo, em muitos momentos com o modo mais esportivo ativado, rodamos pouco mais de 300 quilômetros até próximo de 20% de carga. Com 24% ele ainda tinha 87 quilômetros de autonomia. Para carregar, utilizamos um ponto AC de 30kW, em uma hora, ganhamos cerca de 140 quilômetros, ao custo de R$ 60.
A opinião do Diário Motor
Como chamamos a atenção no título, o Mustang Mach-E GT Performance tem um erro crasso, o nome. Batizá-lo com a mesma nomenclatura do clássico esportivo, o coupé mais vendido do mundo e cultuado há 60 anos em todos os continentes, beira a heresia automotiva. Mas deixando de lado a forma de chamá-lo, é um excelente veículo.
Quem hoje procura – muita – esportividade, conforto, segurança e tecnologia em um veículo, o Mach-E é uma opção para lá de acertada. Claro que R$ 486 mil é muito dinheiro, mas nenhum outro modelo entrega o que tem nesta faixa de preço. Certamente, quem tem R$ 500 mil para gastar em um carro, se for no SUV elétrico, verá que vale cada real gasto. Vale a compra! Nota: 10.
Ficha Técnica
Motor: elétrico
Potência máxima: 487cv
Torque máximo: 87,7kgfm
Autonomia: 379 quilômetros
Direção: elétrica
Suspensão: independente nos dois eixos
Freios: a disco nas quatro rodas
Porta-malas: 402 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.613 x 1.881 x 4.743 x 2.984mm
Preço: R$ 486 mil