Pote até aqui de mágoas

Pazuello se despede com mágoa, autoelogios e insinuações contra políticos

Ex-ministro da Saúde diz que políticos só querem saber de "pixulé", mas não cita nomes

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Eduardo Pazuello citou ética, probidade, honestidade etc, mas fez apenas insinuações e não citou qualquer dos políticos e médicos a quem atribui sua demissão - Foto: reprodução do Youtube.

Ao se despedir do cargo, nesta quarta-feira (24), o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello discursou para um grupo de servidores insinuando que foi demitido por haver negado pedidos políticos da “liderança do governo”, sem citar nomes, e destacando a cobiça dos políticos pelos recursos da pasta.

No discurso gravado e vídeo, ele aparece ao lado do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que se mantém atento, mas em silêncio, enquanto Pazuello tentava atribuir sua saída à própria conduta de combate à corrupção no ministério.

Sempre sem citar nomes, disse ter sofrido pressões de políticos interessados num “pixulé”, mas afirmou haver levado para a Saúde “atributos militares como probidade e honestidade”.

‘Boicote de médicos’

Pazuello, que é general e assumiu o ministério sem qualquer intimidade com sua atividade fim, também afirmou ter sido vítima de boicote de um grupo de médicos do ministério.

“Esse grupo tentou empurrar uma pseudo-nota técnica que nos colocaria em extrema vulnerabilidade, querendo que aquele medicamento, a partir dali, estava com critérios técnicos do ministério, e ele (o medicamento) não tinha”, disse.

Pazuello contou ter reunido a equipe no final de fevereiro para informar que sua gestão vinha sendo alvo de pressões e previa sua saída em breve.

“Eu reuni toda minha equipe no dia 23 de fevereiro: fiz um quadrinho e mostrei todas as ações orquestradas contra o ministério. Eram oito! Falei que não tinha como nós chegarmos até o dia 20 de março. Marcelo foi consultado já no início de fevereiro”, afirmou Pazuello, ao lado de Queiroga, que se mantinha em silêncio.

‘Pedidos políticos’

Em seu discurso, o general disse que se recusou a atender pedidos de pessoas cujos nomes constavam numa lista enviada ao ministério por “uma liderança política”.

“Ali começou a crise com a “liderança política que nós temos hoje […]. Aí chegou no final do ano, uma carreata de gente pedindo dinheiro politicamente […]. Foi outra porrada, porque todos queriam o pixulé no final do ano”, disse, ressaltando a cobiça pelos recursos do ministério.

“O ministério é o foco, o aval das pressões políticas. Por quê? Por causa do dinheiro que é destinado aqui de forma discricionária […]. A operação de grana com fins políticos acontece aqui. Acabamos com 100%? Claro que não: 100% nem Jesus Cristo. Nós acabamos com muito”, garantiu.

Na Saúde, ‘faltavam ética, probidade, honestidade’

Sem modéstia, o ex-ministro demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, e que agora vai assessorar o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse que ao chegar ao Ministério da Saúde “faltava gestão, liderança, ética, probidade, honestidade, responsabilidade.”

“Trouxemos esses atributos para onde, normalmente, pela própria construção política que se faz, não são atributos que vêm junto”, disse ele. “Quais são os atributos que vêm aqui? Relacionamento normalmente, composição política, direcionamento de politicas não sei do quê. ´E um cargo político”, justificou.

“Quando você vem com atributos como esses, causa um olhar. As pessoas começam a te olhar diferente: ‘poxa, você não tem interesse?’ ‘Não’. ‘Não quer falar com a empresa tal?’ ‘Claro que não’. ‘Você não recebe empresa?’ ‘De jeito nenhum’. ‘Não vai aceitar o cara aqui fazendo lobby?’ ‘Não’. ‘Não vai favorecer o partido A, B ou C?’ ‘Claro que não’. ‘E o operador do fulano, beltrano?’ ‘Não’. Porra, vai dar merda. É assim que funciona”, afirmou.

O ex-ministro disse que militares não possuem “conta bancária alta”, “carros caros”, “avião”. Moramos em casas pequenas, quatro de hotel e andamos com carros de classe média”.

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