Esposa do Coronel Naime desabafa: ‘não sabemos quem são nossos inimigos’
Esposa do militar falou com exclusividade ao Diário do Poder

Mariana Adorno Naime se encontrou neste sábado (15) pela primeira vez com o esposo, o coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandate de operações da Polícia Militar do Distrito Federal, desde que ele foi achado desacordado dentro da cela em que está preso, após ser atingindo por um armário que caiu sobre seu corpo.
Mariana soube pela impressa do ocorrido com o esposo e não teve autorização para levar um médico particular à visita agendada. Atualmente, Naime não tem acesso a progressão dos tratamentos médicos aos quais foi submetido ainda no último ano e não pode ajustar as doses de sua medicação, segundo a avaliação dos profissionais de saúde que o acompanhavam, já que esses não são autorizados pela justiça a encontrar-lo.
O terror vivido pela família de um dos militares mais experientes do Distrito Federal mistura a angústia pela falta de informações com o peso da sensação de injustiça. “Quanto mais lemos o processo, mais temos certeza da inocência dele e menos essa situação faz sentido”, avalia a esposa.
Na última quinta-feira (13), o coronel que acumula comorbidades comprovadas em laudo, foi encontrado inconsciente. Quando o Corpo de Bombeiros chegou para os primeiros socorros, a pressão dele estava em 6/4, segundo relato exclusivo ao Diário do Poder.
O armário sobre Naime e a negligência com a família
“Ele sofreu o acidente por volta de 0h00 e eu fiquei sabendo por volta de 10h. A impressa me avisou e eu avisei os advogados. Repórteres me ligaram perguntando se meu marido estava bem após o acidente. Eu não entendi. Na hora, cheguei a pensar que fosse fakenews ,pois não fomos comunicados”.
“Somente após essa ligação da imprensa, me confirmaram o ocorrido. Mas não me autorizaram a vê-lo. Pedi autorização para que médicos de confiança avaliem o quadro dele, mas também não autorizaram”, detalha a esposa do coronel.
Família
Mariana revela que os seis filhos do ex-comandante de operações da Polícia Militar não vêem o pai desde o início da prisão em fevereiro. Dentre eles, apenas um é maior de idade. “Temos filhos com depressão profunda e uma criança com hidrocefalia”.
Foram quatro tentativas de revogação de prisão negadas sob justificativa de risco de fuga e omissão.
Semelhante a situação dos mais de 200 presos acusados de depredação que aguardam julgamento nas unidades da Papuda e Colmeia, a família do coronel Naime se sente negligenciada.
“Apresentamos diferentes pedidos de revogação de prisão e medida cautelar, negados com o mesmo texto apresentado na primeira solicitação. A impressão que fica é que sequer estão lendo o processo”.
No dia 8 de janeiro
Mariana refaz a trajetória de Naime às vésperas do fatídico 8 de janeiro até o dia atual: “Ele estava de férias. O comandate geral pediu para que ele aguardasse o mês de janeiro, quando as coisas ficam mais tranquilas em Brasília. Isso já estava acordado com um ano de antecedência”. Ela explica que se somariam às férias um curto período de licença em virtude dos problemas de saúde do coronel que envolvem hipertensão e pré-diabretes.
Segundo o relato ao DP e a nota técnica da defesa, Naime não fazia parte de nenhum grupo de planejamento militar para as manifestações do 8 de janeiro, mas recebeu pedido de ajuda de coronéis que trabalhavam aquele dia, após a situação sair do controle. “Entre 16h40 e 17h, ele se equipou e foi para a esplanada”.
Orgulhosa, a esposa revela que a chegada de Naime ao episódio de depredação dos prédios públicos deu estabilidade ao trabalho da PMDF.
“Ele assumiu a missão, realinhou a tropa e evacuou a cúpula. Justamente na hora em que ele chegou à esplanada, por volta das 18h, o relatório da ABIN, a qual tivemos acesso, aponta que a PMDF retomou a ordem”.
Experiência de comando
Segundo a esposa de Naime, o militar esteve à frente de eventos que reuniram cerca de um milhão de pessoas na esplanada, a exemplo das tradicionais cerimônias do dia 7 de setembro e manifestações que ocorreram pró-governo Bolsonaro. O coronel também teria coordenando as operações da Polícia em situações de grande complexidade, como a tentativa de invasão por parte de caminhoneiros ao STF. Durante esses episódios “nada aconteceu”, reflete.
“Diante disso, nós não entendemos como 6 mil pessoas conseguiram invadir os prédios públicos, mas provavelmente não houve planejamento adequado. Fato é que meu marido não tinha nenhuma responsabilidade. Foi cooperar, mesmo sem obrigação, e agora está preso injustamente”.
Dois pesos, duas medidas
Mariana reclama que o ex-comandante da Polícia Militar e o atual, ambos investigados, continuam em liberdade, diferente do tratamento dado a Naime. A redação do Diário do Poder questionou sobre as impressões da família: informações, bastidores, indícios de o porque Naime compõe a narrativa do 8 de janeiro como criminoso. E aí vem uma fala carregada de significado, talvez a mais forte de toda a conversa entre redação e fonte:
Bode expiatório
“Chegamos a uma conclusão que não sabemos quem são nossos inimigos. Estamos cercados por pessoas que não conhecermos de verdade. É complicado eu falar o nome de uma pessoa. Mas a própria corporação o escolheu como bode expiatório”.
Para os advogados de defesa, “há uma clara antecipação de pena em relação ao Coronel Jorge Eduardo Naime, já que se encontra acautelado com base em ilações abstratas que não encontram guarida no devido processo legal e no Estado Democrático de Direito”.