Abandonadas para morrer

Rosa Weber nega liberdade a fazendeiro acusado de maus-tratos a búfalos em SP

Ministra ressaltou que a medida foi decretada com base em "elementos concretos, com demonstração da periculosidade do acusado"

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Rosa reproduziu trechos da decisão do ministro do STJ, os quais citaram que o fazendeiro "utilizava-se reiteradamente de crueldade com os animais" Foto: Instagram

Augusto Pinheiro de Souza, administrador da Fazenda Água Sumida, em Brotas (SP) vai permanecer na prisão, conforme decidiu a ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal (STF). Souza é suspeito de crime de maus-tratos contra mais de mil animais, no episódio que ficou conhecido como “As Búfalas de Brotas”.

Weber negou o habeas corpus para derrubar a prisão preventiva do fazendeiro, ressaltando que a medida foi decretada com base em “elementos concretos, com demonstração da periculosidade do acusado e da gravidade do delito, com risco ao meio social, à saúde pública e ao meio ambiente”.

No pedido de prisão preventiva formulado ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) relatou que Souza passou a tumultuar os trabalhos e a ameaçar os voluntários que atuavam no local para salvar as búfalas em situação mais precária.

Segundo o MP o fazendeiro chegou a coagir testemunhas e ameaçar os voluntários, “inclusive com o uso de armas” e, mesmo após a imposição de multa de mais de R$ 2 milhões, os animais continuaram privados de água e comida, e a área de pasto remanescente foi gradeada para evitar que se alimentassem.

No pedido feito ao Supremo, a defesa do fazendeiro alegou que o rebanho tinha acesso à água e que “a alimentação era complementada pela compra de toneladas de alimentos”. E alegou que o denunciado preparava a reforma da área de pasto degradada e o plantio de um novo pasto. Outro argumento era o de que Souza integra o grupo de risco para a Covid-19, por ter 61 anos e ter sido diagnosticado com erisipela.

Na decisão, a ministra apontou que a jurisprudência do Supremo é no sentido do não conhecimento de habeas corpus contra decisão monocrática de ministro Joel Ilan Paciornik, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por não ter sido esgotada a jurisdição do tribunal antecedente. “Ainda que fosse possível superar esse entendimento, a decretação da prisão preventiva fundamentou-se em elementos concretos, com demonstração da periculosidade do acusado e da gravidade do delito, com risco ao meio social, à saúde pública e ao meio ambiente”.

Em relação à alegação de grupo de risco para Covid-19, Rosa Weber salientou que esse tema não foi apreciado pelo STJ, impedindo seu exame pelo STF. Também observou que não há nos autos elementos indicando que o acusado não tenha sido vacinado.

Rebanho abandonado

No dia 6 de novembro do ano passado, a Polícia Ambiental recebeu uma denúncia e foi até a fazenda Água Sumida, em Brotas, onde encontrou uma cena degradante, com centenas de animais em situação de abandono, debilitados, sem água e sem comida. Além de 22 carcaças de búfalos enterrados.

Animais novos morreram por subnutrição e muitos foram enterrados ainda vivos Foto: MVZ/USP

Os animais estavam confinados, em um pequeno espaço de uma Área de Preservação Ambiental da fazenda, grande parte do pasto havia sido arrendada para a plantação de soja.

Assim que a história ficou conhecida vários grupos de voluntários foram para a fazenda para tentar salvar as búfalas que restaram do rebanho de mil cabeças. Um hospital de campanha foi erguido no local com ajuda de doações.

O dono da fazenda tentou proibir a entrada dos grupos, para cuidar dos animais. E proibiu que fosse dada alimentação para o rebanho.

No dia 21 de novembro, a Justiça confirmou a decisão da Polícia Civil de Brotas (SP) que colocou a ONG Amor e Respeito Animal (ARA) como depositária da tutela dos 1.056 búfalos encontrados em situação de abandono e 72 cavalos.

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