Oposição a Bolsonaro entrega pedido de CPI para investigar corrupção no MEC
Comissão quer investigar gestão do ex-ministro Milton Ribeiro e suposto vazamento das investigações do PF por parte do presidente
O senador Randolfe Rodrigues (Rede), líder da oposição no Senado, protocolou nesta terça-feira, 28, pedido de abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar suspeitas de corrupção na gestão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. O requerimento conta com a assinatura de 30 senadores, duas a mais do que a necessária. Ele afirma que tem promessas para chegar a 34 apoios, uma margem sobre as 27 assinaturas mínimas necessárias. Ao mesmo tempo, a base governista no Senado atua para reverter o aval de alguns senadores que assinaram o requerimento.
O filho do presidente Jair Bolsonaro (PL) e coordenador da campanha de reeleição do pai, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foi convocado para reforçar o trabalho dos aliados do Planalto para barrar a CPI.
“Em circunstâncias normais não necessitaria de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Mas as circunstâncias é que ela [a investigação] está sob ameaça, sob intervenção do senhor presidente da República [Jair Bolsonaro] e do senhor ministro de Estado da Justiça. A necessidade de uma CPI se impõe para dar ao delegado Bruno Calandrini, aos investigadores e ao Ministério Público, a retaguarda necessária para que conduzam com tranquilidade as investigações”, afirmou Randolfe, em coletiva de imprensa ao lados dos senadores Jorge Kajuru e Jean Paul Prates — também responsáveis por coletarem as assinaturas.
O escândalo do MEC resultou na queda do então ministro Milton Ribeiro. Denúncias apontaram para a existência de um balcão de negócios para a distribuição de recursos para a educação, esquema que seria operado pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura — ambos presos na semana passada.
A crise ganhou novas proporções com a divulgação de um áudio pela Folha de São Paulo, no qual o então ministro afirma que prioriza amigos e indicações do pastor Gilmar Santos, a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Ele ainda indica haver uma contrapartida supostamente direcionada à construção de igrejas.
Em depoimento ao Senado, prefeitos confirmaram que os pastores atuavam como intermediários e exigiam pedidos de propina.
“Não há dúvida que se instalou uma quadrilha no Ministério da Educação, os indícios são fortes que os esquemas dessa quadrilha chegam ao Palácio do Planalto”, disse Randolfe, afirmando que “só a atuação firme do parlamento” pode dar a retaguarda necessária para as investigações.
A instalação do colegiado depende do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que já afirmou que os culpados pelo escândalo no MEC “devem ser responsabilizados”, mas reconheceu que não vai se precipitar sobre o caso.
Durante a coletiva, o senador Randolfe Rodrigues falou sobre o andamento das investigação na Polícia Federal e mencionou as supostas tentativas de interferência no inquérito, questionando a falta de respostas sobre possível apreensão do celular do ex-ministro Milton Ribeiro, preso preventivamente na semana passada durante operação da PF na quarta-feira, 22, por suspeita de corrupção.