Renascido das cinzas

Operação Combustão mira lobista Milton Lyra em esquema de R$ 89 milhões no Postalis

FT Postalis cumpriu 30 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Brasília, Recife e Maceió

acessibilidade:

A Força-Tarefa Postalis, em conjunto com a Polícia Federal, deflagrou a Operação Combustão. Foram cumpridos 30 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo (SP), Brasília (DF), Recife (PE) e Maceió (AL), em endereços ligados ao lobista Mílton de Oliveira Lyra Filho e a empresas utilizadas pelo investigado para lavagem de dinheiro e ocultação de provas. A operação divulgada hoje (19) foi deflagrada na última quinta-feira (15), tendo sido negado pela Justiça o pedido pela prisão de Mílton Lyra. Nesse caso, estima-se que a Orcrim recebeu mais de R$ 87 milhões, em prejuízo do Postalis.

Mílton já era alvo de outras investigações, e já foi apontado como operador de esquemas de corrupção do MDB e do ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL). O lobista é apontado como líder de organização criminosa voltada a crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, tráfico de influência e lavagem de capitais.

A operação foi motivada após os procuradores terem acesso a informações que revelaram a prática reiterada de abertura e encerramento de empresas ligadas a Mílton. Segundo a Força-tarefa Postalis, o objetivo era ocultar e dissimular a natureza, localização e movimentação de valores ilegais recebidos pelos envolvidos.

As investigações concluem que os recursos eram movimentados de sua origem ilícita, remetidos para o exterior – utilizando para isso a Fênix, que possui off shore na Flórida – e posteriormente enviados aos beneficiários finais.

Rede criminosa e o poder público

Segundo os investigadores, Mílton Lyra construiu, ao longo dos anos, ampla rede de vínculos, diretos e indiretos, com pessoas jurídicas, funcionários, sócios e outros parceiros, a fim de obter vantagens por meio de crimes como aqueles contra o Sistema Financeiro Nacional e tráfico de influência. Os procuradores também apontam que a organização criminosa atua influenciando em decisões de agentes públicos.

Apesar das medidas restritivas impostas ao investigado em outros processos nos quais Mílton já figura – tais como a impossibilidade de viajar para o exterior, ou o bloqueio de valores em contas bancárias – o lobista é acusado de criar novos meios para a continuidade dos crimes, a partir do mecanismo de uso de várias pessoas jurídicas, ligadas a diferentes pessoas físicas.

Além disso, o MPF tomou conhecimento de que o investigado possivelmente passou a utilizar um storage para guardar documentos que desejava ocultar das autoridades policiais. A conduta foi adotada na época da deflagração da Operação Rizoma, em 2018.

Novos fatos

A Operação Combustão apreendeu laptops, celulares, cartões de memória, documentos e até obras de arte. A partir dessas apreensões, os procuradores esperam elucidar os novos fatos descobertos, bem como reunir provas sobre os desvios de valores. Nesse contexto, a medida também pode servir para a recuperação dos danos causados pela organização criminosa.

O nome combustão faz referência à Fênix Consultoria e ao fato de Mílton ter se reinventado para continuar praticando ilícitos, mesmo após o avanço de investigações contra ele. Segundo a mitologia grega, a Fênix entrava em processo de autocombustão quando morria, para então, renascer das suas próprias cinzas.

O caso tramita na 12ª Vara de Justiça federal, sob o número 1025824-60.2020.4.01.3400 . (Com informações da Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República no Distrito Federal)

Reportar Erro