‘PP não vai fechar questão com o governo’, afirma Evair de Melo
Segundo o capixaba, possível ida de André Fufuca à composição ministerial de Lula não vai gerar imposição sobre votos.

Vice-presidente do Progressistas e vice-líder da oposição, o deputado Evair de Melo (PP-ES), falou ao Diário do Poder sobre como é manter postura inflexível com o governo Lula em um partido que dialoga com o Planalto.
“Sentei com o partido e falei: o governo Lula tem valores que, para mim, são impossíveis de dialogar. Para mim não tem acordo com esse governo. Os colegas que forem para a base até podem ter benefícios. Eu não quero. Só quero o que é meu: Comissão de Agricultura, Fiscalização Financeira e Controle e participar de investigações”, descreveu.
Segundo o parlamentar, a titularidade na CPI do MST e CPMI do 8 de janeiro é resultado da sinceridade que adotou com a cúpula do Progressistas. Melo revela que seu destaque na oposição ao governo Lula causou pequeno mal estar na bancada pepista, mas que, logo, o presidente da Câmara, Arthur Lira, cedeu ao ingresso do bolsonarista no posto de vice-líder da oposição.
O capixaba se declara leal ao ex-presidente, Jair Bolsonaro, e foi o responsável pela apresentação do requerimento de convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que tumultuou as duas comissões de inquérito mais vigiadas do parlamento e despertou uma série de investidas do governo pela desarticulação dos trabalhos.
O vice-líder da oposição garante que a postura combativa à base lulista em nada afeta a atual relação com o Progressistas. “Não tenho nenhuma objeção sobre Fufuca, Lira ou Ciro”.
Confira a entrevista na íntegra:
DP: O Progressistas dá ‘carta branca’ para o exercício da oposição no parlamento?
Evair de Melo: No PP, palavra vale. Na transição do governo Bolsonaro para esse atual, eu sentei com o partido e falei: o governo Lula tem valores que, para mim, são impossíveis de dialogar. Para mim, não tem acordo com esse governo. Os colegas que forem para a base até podem ter benefícios. Eu não quero. Eu vou ser oposição orgânica. Só quero o que é meu: Comissão de Agricultura, Fiscalização Financeira e Controle e participar de investigações.
Sobre a vice-liderança da oposição, no começo, o presidente Lira ficou receoso. Ele tinha um pouco de dificuldade. Mas depois, ele deixou eu exercer. Ou seja, valeu a minha sinceridade com o partido. Não tenho nenhuma objeção sobre Fufuca, Lira ou Ciro
DP: Qual é o seu entendimento sobre o atual relacionamento entre parlamento e governo. Há êxito da base governista nas tratativas?
Evair de Melo: Não tem governo. Se nós entendermos isso, todo mundo vai ajudar um pouquinho. É necessário um esforço tremendo do PP e outros partidos de centro, pela aprovação das matérias tidas como urgentes. A dificuldade se dá principalmente na negociação de matérias estruturantes. E não há, da parte do governo, habilidade para articulação e aperfeiçoamento de matérias que interessam ao Brasil. Resta à oposição e aos partidos de centro pressionar em favor da população.
DP: Quais são os efeitos dessa ‘desarticulação’ sobre o setor produtivo?
Evair de Melo: A salvação do setor produtivo é que o Congresso é conservador. Mas o governo não está nem aí. O Lula não quer trabalhar. Ele já mostrou que é refém da Janja. Mesmo carregando o Brasil nas costas e pagando a conta, o setor produtivo não é prioridade para o governo. Para o parlamento é.
Veja a dificuldade com a pauta econômica. O ministro Haddad é um mordomo engomadinho, que sentou à mesa porque não tinha ninguém para ocupar aquela cadeira (Ministério da Fazenda). E hoje quem segura as pontas da nossa economia é o presidente Lira e o [presidente do Banco Central] Roberto Campos Neto.
4. DP: Com a eventual ida do Líder André Fufuca ao governo Lula, como ficará a autonomia da oposição que integra o Progressistas?
Evair de Melo: O PP não vai fechar questão com o governo. Haverá orientação partidária sobre os votos, mas não haverá imposição. No Espírito Santo, o partido está dividido. Mas no Paraná, a bancada é toda de oposição, não irá para a base governista, assim como a bancada do Mato Grosso não irá, do Mato Grosso do Sul não irá e Santa Catarina não irá.
5. DP: Para o PP, senhor é um potencial sucessor do líder André Fufuca ?
Evair de Melo: Fui sondado. Se o partido estivesse unificado, eu iria. Mas na atual situação é difícil encontrar argumentos para me convencer. Eu me cobro a continuidade do legado de Bolsonaro e estou onde eu queria estar. Tenho autonomia para fiscalizar o governo na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (FFC), vou relatar a Comissão que investigará as obras do PAC e integro as duas CPIs (MST e 8 de janeiro). Por que eu ia querer trocar o que eu tenho para ser líder do partido ?