'Tem que ter coragem'

Ex-PM diz que faturou mais ao postar vídeo votando em urna para viralizar

Influencer celebra ter aumentado número de seguidores e faturamento com post que configura crime eleitoral

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Influenciador digital explicou em grupo do Instagram como e para quê editou e divulgou imagens de seu voto na urna eletrônica, em Maceió. Fotos: Redes sociais

No mesmo dia em que o Ministério Público Eleitoral acionou a Justiça Eleitoral para intimar o ex-policial militar Kel Ferreti por crime de filmar e divulgar o ato de votar em urna eletrônica de Maceió no último domingo (2), o influenciador digital detalhou ontem (4), em um grupo de aplicativo de mensagens, que fez edição e divulgação do vídeo, com o objetivo de aumentar seguidores e faturamento de vendas em seu perfil do Instagram. 

Ao divulgar o vídeo original do momento em que votava na Seção 272, da Fundação Bradesco, Kel Ferreti alegou, em um grupo do WhatsApp: “Peguei, cortei e coloquei minha voz. Pro povo pensar que foi eu [sic].Tudo de propósito para viralizar. Pq a galera sabia do meu bordão. Fiz marketing reverso. Meu stories bate 20 mil pessoas. Marketing e visibilidade. Trabalho com isso. Agora seguinte tem que ter coragem! sic]”, celebrou o influencer que tem 1,4 milhão de seguidores. 

Na sequência do diálogo que já chegou ao conhecimento do MP Eleitoral, Kel Ferreti celebra ter aumentado seu número de seguidores e o faturamento: “Puxei 12 mil seguidores pro meu Insta que é minha empresa, aumentei meu faturamento nas vendas”, comemora o influenciador digital. 

No domingo (2), Ferreti  divulgou vídeo votando no ex-presidente Fernando Collor (PTB), que perdeu a disputa pelo governo de Alagoas, e no presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta reeleição contra Lula (PT) no 2º turno.
Ele vangloria-se por resistir a um suposto “ataque” da imprensa, no episódio que ele mesmo chegou a tratar como fake news, mas também protestou em live por chamarem de criminoso quem só quis filmar o voto para evitar “fraude”. 

“Quebrei a cara da mídia que tava me atacando como criminoso”, gabou-se. “Fiz live com mais de 5 mil pessoas puxando voto pro Bolsonaro”, completou, referindo-se à transmissão ao vivo em que ele prometeu uma festa com R$ 15 mil em carne e cerveja, e negou os crimes que o MP Eleitoral identificou na sua publicação do vídeo em pleno horário de votação do 1º turno.

No vídeo original da votação que Kel Ferreti divulgou, o voto foi dado em silêncio, também no candidato a senador Davi Davino Filho (PP), além de Collor e de Bolsonaro.

Assista e compare:

Crimes e consequências

A promotora da 1ª Zona Eleitoral de Maceió, Fernanda Moreira, concluiu que Kel Ferreti cometeu os ilícitos eleitorais previstos no parágrafo único, do artigo 91-A da Lei 9.504/1997, incluído pela Lei 12.034/2009, que proíbe “portar aparelho de telefonia celular (…), dentro da cabina de votação”; bem como no artigo 347 do Código Eleitoral, que prevê o crime de recusar “cumprimento ou obediência a diligências, ordens ou instruções da Justiça Eleitoral (…)”; e no artigo 39, parágrafo 5º, inciso III, da Lei 9.504/1997 que consta “constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de cinco mil a quinze mil UFIR: (…) III – a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de seus candidatos”.

Uma transação penal foi proposta ao investigado, que é um instrumento jurídico que pode ser usado diante de crimes de menor potencial ofensivo. E prevê que o acusado comprometa-se a cumprir pena antecipada de “prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas pelo prazo de 9 (nove) meses, à razão de 1 (uma) hora por dia em entidade cadastrada em juízo”.

O MP Eleitoral informou à reportagem que o cartório eleitoral providenciou ontem a intimação de Kel Ferreti.

Outro lado

Sobre caso investigado pelo Ministério Público Eleitoral que pode ser convertido em ação penal contra Kel Ferreti, o Diário do Poder enviou questionamentos ao ex-PM. E obteve a seguinte resposta da advogada Nívea Rocha, responsável pela defesa do influenciador digital:

Nós que fazemos a assessoria jurídica do Kel Ferreti não temos nenhuma informação oficial sobre qualquer procedimento que tenha sido instaurado contra nosso cliente, haja vista que o mesmo não foi intimado. Até então, não temos reposta para o que juridicamente ainda não tomamos ciência. Mas, podemos adiantar e registrar nosso respeito ao Ministério Público, bem como a todas outras entidades judiciais. 

Sobre essa suposta conversa, o STJ entende que os prints das telas de conversas do WhatsApp Web, juntadas através de denúncia ANÔNIMA, não têm valia, portanto, é de ser considerada ilícita. Esta advogada acompanha o entendimento da Corte Superior.

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