Memória

Completam-se 30 anos, nesta quinta, da morte de Gonzaguinha em acidente

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Gonzaguinha imortalizado pela fotografia de Rudi Bodanese.

Gonzaguinha e o pai.Luiz Gonzaga.

Há trinta anos, no dia 29 de abril de 1991. Aquela segunda-feira seria mais um dia de trabalho normal para o dentista Eduardo Scirea. Pela manhã, ele saiu de carro de Francisco Beltrão para fazer atendimentos em Renascença. Por volta do quilômetro 181 da PRC 280, entre Marmeleiro e Renascença, ele avistou um acidente de trânsito, envolvendo um Monza bordô e uma camionete Ford. A polícia estava no local e as vítimas já estavam a caminho do hospital. No Monza estavam três pessoas. Scirea não viu nenhuma delas.

No carro havia uma pochete, vasculhada pelo policial em busca de documentos, sob o testemunho do dentista. Nela havia 19 notas de um Cruzeiro e um documento de identidade. “Eles disseram: ‘esse aqui morreu na hora’”, lembra ele. O documento era de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior. Possivelmente, Scirea foi o primeiro a se dar conta de quem era aquele homem. “Mas esse aqui é o Gonzaguinha!”, exclamou.

Fazia sentido, pois o músico excursionava pela região e havia se apresentado em Francisco Beltrão dias antes, em show assistido por Scirea. Chegando em Renascença, o dentista telefonou para um contato da Rádio Educadora, de Francisco Beltrão, para quem repassou a notícia da possível morte do cantor.

Gonzaguinha foi levado em uma Ford Pampa para o hospital Policlínica São Vicente de Paula, em Francisco Beltrão. Lá seu corpo foi fotografado por Jacir Walter, que trabalhava para o Jornal de Beltrão. O cadáver estava coberto, em uma maca. Segundo Walter, no registro é possível ver um corte na sobrancelha do cantor.

Suas imagens foram publicadas em vários jornais do Brasil. Os negativos originais, porém, se perderam. Walter também fotografou o acidente, sem saber que Gonzaguinha estava envolvido. “Eu estava indo a Pato Branco, na época vendia assinaturas e comerciais. Quando entrei em contato com a redação, fui intimado a voltar, pois eles sabiam que eu tinha feito uma foto”, recorda.

Os outros ocupantes do carro eram o empresário e advogado em Brasília, Renato Manuel Duarte Costa e Aristides Pereira da Silva. Duarte foi o único sobrevivente. Os veículos teriam se chocado de frente quando a camionete, que vinha no sentido Marmeleiro-Renascença, dobrava a esquerda para acessar uma estrada secundária. O músico tinha 45 anos.

Gonzaguinha subiu ao palco pela última vez por volta das 20h30 do dia 28 de abril de 1991, um domingo, no Clube Pinheiros, em Pato Branco. O salão estava praticamente lotado, como lembra Erlindo Rosa, que assistiu ao show. Naquela turnê o cantor se apresentava acompanhado apenas de um violão. Erlindo lembra que o público fez coro em várias canções. “Foi um show muito bom. Ele estava animado, com toda a adrenalina, conversou bastante e foi simpático com as pessoas”, conta.

A apresentação foi promovida pela Casa da Cultura, entidade sem fins lucrativos fundada por entusiastas da arte, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, e durou cerca de uma hora e meia. Erlindo conta que soube da morte do cantor pelo rádio, por volta das 9h do dia seguinte. O fato gerou muita comoção e colocou a região no noticiário nacional.

Gonzaguinha e sua equipe se hospedaram no Hotel Província. O empresário Valmir Rodrigues Junior foi testemunha de alguns dos últimos momentos da vida do músico. De acordo com Valmir, Gonzaguinha chegou ao hotel poucas horas antes do show, e antes de ir para o quarto conversou com funcionários, promotores do evento e outras pessoas que o aguardavam.

Valmir não soube precisar o horário em que Gonzaguinha voltou ao hotel após a apresentação. Na manhã seguinte o cantor acordou cedo, pois pegaria a estrada rumo a Foz do Iguaçu, onde embarcaria em um voo. “Ele foi sempre muito simpático, e me disse que estava com saudades da família”, disse Valmir.

O empresário Valmir Junior, com o autógrafo de Gonzaguinha, exposto no lobby do hotel Província
Antes de partir, Gonzaguinha tirou fotos com funcionários e distribuiu seus últimos autógrafos, um deles para o próprio Valmir, que o guarda até hoje em um pequeno quadro.

No quarto de hotel, Gonzaguinha esqueceu alguns pertences. Eram cartas, bilhetes e cartões postais das cidades por onde passou, todos dedicados à família. A equipe do Província já pensava nos trâmites de devolução quando a notícia do falecimento chegou. Foi Valmir quem entrou em contato com a esposa do cantor, e acabou lhe dando a notícia. Segundo ele, os profissionais de hotelaria são treinados para lidar com situações como falecimento, doença ou acidentes com hóspedes.

O carro do acidente de Gonzaguinha ficou destruído.

Os possíveis últimos autógrafos do cantor. A datilografia traz um erro na data da hospedagem
“Muita gente ficou em frente ao hotel, buscando notícias. A imprensa nacional também buscava informações”, conta. Familiares do cantor vieram a Pato Branco para acompanhar o translado do corpo, que seria feito de avião até Belo Horizonte.

Segundo Erlindo Rosa, muitas pessoas foram ao aeroporto prestar homenagens e se despedir do artista. Valmir entregou pessoalmente os pertences de Gonzaguinha a sua esposa. “Ele praticamente se despediu de todos por aquelas mensagens”, conta. Para Erlindo, um dos momentos mais comoventes foi quando todos cantaram “Asa Branca”, o maior sucesso de seu pai, Luiz Gonzaga.

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