Ação tresloucada

Policial que matou irmãos com deficiência intelectual se torna réu e irá a Júri

PM ainda é acusado de ferir três policiais, matar pedreiro e fraudar cena do crime

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Cabo Johnerson Simoes Marcelino é réu pela morte dos irmãos Josivaldo e Josenildo Ferreira Aleixo, em Maceió. Fotos: Reprodução

Na última quinta-feira (1º), a Justiça de Alagoas tornou réu o cabo da Polícia Militar Johnerson Simões Marcelino, que será julgado no Tribunal do Júri da 9ª Vara Criminal da Capital pelo crime de duplo homicídio triplamente qualificado, que vitimou os irmãos Josivaldo Ferreira Aleixo, 18, e Josenildo Ferreira Aleixo, 16, durante uma abordagem policial no bairro do Village, na periferia de Maceió (AL), em 2016. Os irmãos possuíam deficiência intelectual e estavam desarmados, durante a ação tresloucada do policial.

O policial também será julgado pelo homicídio culposo do pedreiro Reinaldo da Silva Ferreira, e por lesão corporal dos policiais Ronald Allysson Dantas Lobo, Luiz Fernando Alves da Silva e Micivan Pereira da Silva. Todos feridos pelos tiros disparados por Johnerson contra os irmãos, durante a abordagem truculenta que provocou a reação de uma das vítimas, em defesa de seu irmão.

A decisão do juiz Geraldo Amorim manteve a prisão preventiva do réu, que está preso desde fevereiro de 2017. E o réu ainda deve ser julgado por fraude processual, por ser apontado como um dos responsáveis por tentar implantar na cena do crime uma pistola PT 938, calibre 380 (CBC), trinta e três munições calibre 22 standard, dois estojos calibre 36 deflagrados e ainda uma espingarda calibre 36 de fabricação artesanal quebrada, sem marca aparente.

À exceção da espingarda, o arsenal não foi visto por qualquer testemunha no local dos fatos, mas no hospital que socorreu as vítimas. E o soldado Jailson Stallaiken Costa Lima também foi denunciado pela tentativa de alterar a cena do crime.

“Não parece natural que esses bens tenham sido encontrados somente no hospital. Assim, tendo aparentemente o réu Johnerson Simões Marcelino inovado artificiosamente o estado de lugar e de coisa, com o fim de induzir a erro o juiz, em futuro processo penal, deve o Conselho de Sentença se manifestar, também, quanto ao suposto crime conexo de fraude processual destinada ao processo penal”, diz o juiz na sentença.

O réu será julgado por homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, emprego de meio de que possa resultar perigo comum (expondo outras pessoas aos tiros deflagrados em via pública), e por recurso que dificultou a defesa do ofendido (disparando contra as vítimas com deficiência mental, desarmadas).

Na mesma decisão, o juiz Geraldo Amorim determinou a abertura de inquérito policial para investigar a possibilidade de ter havido afirmação falsa, ou negativa ou omissão da verdade, por parte de testemunhas.

Um dos investigados será Franscico Bazilio da Silva, vulgo “França”, que se responsabilizou sobre a suposta denúncia que levou policiais a abordar os irmãos e relatou que um deles lhe teria mostrado uma espingarda desmontada, dentro de uma bolsa. Bem como Rúbia Estevam dos Santos, funcionária do Hospital Geral do Estado (HGE), que atendeu as vítimas, e relatou ter encontrado munições em na roupa de um deles.

Protegido pela SSP

Johnerson Simões Marcelino foi protagonista do mais grave caso de violência policial da gestão do governador reeleito Renan Filho (MDB), na trágica abordagem na noite de 25 de março de 2016. E foi protegido pela Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL), em fevereiro de 2017, quando a pasta passou quase duas semanas escondendo uma prisão relacionada a um dos crimes de maior repercussão da história policial de Alagoas.

Àquela época, o comandante do 5º Batalhão da PM, tenente-coronel Carlos Amorim, explicou que a ausência de divulgação da prisão foi uma forma de preservar a imagem do cabo Johnerson Simões Marcelino, elogiado pelo oficial como um dos melhores militares de seu batalhão. Tratamento dispensado para a maioria dos cidadãos suspeitos de crimes.

“A gente preserva muito também a situação do nosso policial militar e da família dele, entendeu? Porque, quando é divulgada certas situações, a gente sabe que a força do mal tem conhecimento, que o cara tá preso, aquilo outro. E a gente tenta resguardar também o lado do policial. Também porque o cabo Johnerson, para mim, é um dos melhores militares que tenho no meu 5º Batalhão. Ele está cumprindo a decisão judicial e só quando for transitado em julgado ele será considerado culpado de qualquer situação”, disse o tenente-coronel Carlos Amorim ao Diário do Poder, por telefone, depois de questionar qual o interesse da imprensa no caso.

Em depoimento, o réu Johnerson Simões Marcelino disse que atirou nos irmãos Josenildo e Josivaldo, em legítima defesa; que não atingiu qualquer outra pessoa e que, além dele, a vítima, identificada como “o mais alto”, atirou. E ainda alegou ser vítima de uma suposta trama de outro policial.

Cópia do interrogatório de Johnerson será enviada para a Promotoria responsável pelo controle externo da atividade policial do Ministério Público Estadual de Alagoas, diante de uma declaração surpreendente do réu, que pediu em depoimento para ter uma reunião com o procurador-geral de Justiça Alfredo Gaspar de Mendonça Neto, a fim de relatar “comentários que lhe chegam” de que oficiais da PM “querem lhe matar e já invadiram duas vezes sua casa”.

 

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