Operação Lava Jato

Zelada é elo para apurar extensão do Petrolão

Prisão reforça indícios de corrupção nos contratos de sondas

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A prisão do ex-diretor de Internacional Jorge Luiz Zelada, na 15 ª fase da Operação Lava Jato, reforça os indícios de que o esquema de cartel e corrupção revelados nas obras de refinarias da Petrobrás entre 2004 e 2012 foi reproduzido nos contratos de construções offshore, como plataformas, embarcações e navios-sondas – mercado aquecido a partir de 2007 após a descoberta do pré-sal.

Dois novos personagens dessa frente de apuração são Hamylton Padilha Pinheiro Júnior e Raul Schmidt Fellipe Filho, investigados pela força-tarefa da Lava Jato como elos da propina paga ao ex-diretor Zelada. Ambos foram representantes de empresas internacionais contratadas pela Petrobrás, em especial na área Internacional, e podem estar envolvidos com a fortuna de 11 milhões de euros oculta de Zelada descoberta em contas secretas na Suíça, Principado de Mônaco e China.

Hamylton Padilha, como é conhecido, é apontado como representante de empresas internacionais no Brasil vencedoras de dois contratos da Diretoria de Internacional, em 2008 e 2009. Raul Schmidt é ex-diretor de uma subsidiária da Petrobrás, em Angola, entre 1994 e 1997, ex-representante de multinacional norueguesa contratada da Petrobrás e atual sócio de Zelada.

Único preso da Operação Conexão Mônaco, o ex-diretor de Internacional é suspeito de ter dado continuidade entre 2008 e 2012 ao esquema do PMDB de cobrança de propinas na área de Internacional, iniciado pelo seu sucessor Nestor Cerveró (2005 a 2008).

O ex-diretor que antecedeu Zelada está preso desde janeiro, em Curitiba, pela Lava Jato. Cerveró já foi condenado por lavagem de dinheiro e é réu em processo de corrupção pelo recebimento de US$ 30 milhões de propina nas contratações dos navios-sondas Petrobras 10.000, em 2006, e Vitória 10.000, em 2007.

Segundo a Lava Jato, nessas primeiras duas contratações foram comprovadas a participação de dois operadores. O lobista Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano – que está preso desde dezembro acusado de elo do PMDB no esquema – e o lobista Julio Gerin Camargo – delator da Lava Jato com elos com integrantes do PT.

Camargo, como representante da coreana Samsung Heavey Industries em parceria com os japoneses do Grupo Mitsui, confessou ao juiz federal Sérgio Moro – que conduz os processos da Lava Jato – ter pago os US$ 30 milhões por intermédio de Fernando Baiano para Cerveró.

Novos nomes. Com Cerveró fora da Petrobrás em 2008, foi Zelada quem fechou a contratação dos dois outros navios-sondas que faziam parte do projeto iniciado pelo antecessor, o ENSCO DS-5 e o Titanium Explorer.

Os contratos desses quatro navios-sondas passaram por auditoria da Petrobrás que apontaram prejuízos milionários à estatal. “Diversas irregularidades foram constatadas pela auditoria da Petrobrás que analisou a contratação da empresa Vantage, tendo apurado a responsabilidade do ex-diretor Jorge Luiz Zelada pelas desconformidades”, registra a Procuradoria.

Os dois navios sondas restantes do pacote foram vencidos pelas empresas Pride International e Vantagem Deepwater Company, que tinham como representante nas negociações com a Petrobrás Hamylton Padilha. Seu papel seria similar ao de Julio Camargo, como representante da Mitsui e da Samsung, nas negociações dos primeiros dois navios-sondas fechados com Cerveró.

No caso do primeiro contrato com a empresa Pride para o navio-sonda ENSCO DS-5, o MPF registra que “auditoria da Petrobrás” detectou “um superfaturamento de US$ 118 milhões”.

No caso do segundo contrato, de 2009, com a Vantagem para o Titanium Explorer, o MPF informou que “inúmeras irregularidades marcaram a contratação desse navio-sonda pela Petrobrás”. O prejuízo foi de US$ 14,5 milhões.

Em decisão que decretou a prisão de Zelada, o juiz federal Sérgio Moro sintetizou as principais irregularidades. Listou “superfaturamento”, “assinatura dos contratos antes da autorização da Diretoria Executiva” e “taxa de bônus de performance de 17% em favor da contratada, superior à praxe de mercado de 10%”, entre outros.

Para a força-tarefa da Lava Jato, o esquema de propina nos dois primeiros contratos de navios-sondas (de 2006 e 2007) que levaram Cerveró, Fernando Baiano e Julio Camargo ao bancos dos réus, foi mantido nos contratos de 2008 e 2009, sob a gestão de Zelada.

Sócio. O segundo personagem investigado por ligações com a propina que teria sido paga a Zelada é um ex-funcionário da Petrobrás. Raul Schmidt Fellipe Junior foi gerente da Braspetro Oil Service, em Angola, e fundador e representante da norueguesa Sevan Marine.

Zelada e Raul são sócios desde 2010 na TVP Solar Brasil, que segundo o MPF é subsidiária da empresa TVP Solar – sociedade de tecnologia ligada à utilização de energia solar térmica, sediada em Genebra.

“Há indicativos de que a parceria entre Raul Schmidt Fellipe e Jorge Luiz Zelada é utilizada para lavagem de dinheiro obtido ilicitamente por intermédio de contratos com a Petrobrás”, afirma a Procuradoria no pedido de prisão de Zelada.

Dentro da lei. O empresário Raul Schmidt informou, por meio de seu advogado Leonardo Muniz, que “a única relação comercial” que tem com Zelada é na empresa TVP Solar e que todas suas transações financeiras foram feitas dentro da lei.

“O sr. Zelada após sua saída da Petrobras, foi convidado a atuar como membro do board da TVP, há três anos. A empresa não tem e não fez negócios no Brasil até o momento, apesar de estar tentando já há algum tempo prospectar estes negócios na sua área de atuação.”

Em nota divulgada após o pedido de prisão de Zelada, o investigado afirmou que “todas as suas transações financeiras respeitam as legislações pertinentes dos países onde são realizadas”.

“Todas as vezes em que recursos foram transferidos para o Brasil houve registro no Banco Central brasileiro. Todas as suas atividades são regulares e legais”, informa o advogado.

O advogado Celso Vilardi, que defende Hamylton Padilha, diss que o executivo “nega veementemente que tenha havido qualquer tipo de irregularidade nas negociações em que teve participação e está à disposição das autoridades.

O criminalista Eduardo de Moraes, que defende Zelada, classificou de “absolutamente desnecessária” a prisão do ex-diretor e que não há ilegalidades. (AE)

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