Vice-governador de Goiás reclama de secretária de Segurança do DF
Secretária reclamou que estão 'apertando demais' os bandidos
A personalidade explosiva e por vezes agressiva da secretária de Segurança do Distrito Federal, Márcia de Alencar, ultrapassou as fronteiras brasilienses e causou indigesta crise com a cúpula da Segurança Pública de Goiás. Mais uma para a conta dela.
A secretária ligou para o vice-governador de Goiás e atual secretário de Segurança do estado, José Eliton (PSDB), para pedir que eles parem de reprimir o crime porque, segundo ela, os bandidos estavam 'saindo de lá e atacando o DF'. Na ligação, Márcia jogou a culpa dos altos índices de criminalidade da capital no estado vizinho.
"Ela me procurou e disse: olha, vocês estão 'apertando demais' aí e o pessoal está vindo pra cá", disse o vice-governador em entrevista divulgada pelo programa de internet 'Comando do Fonsecão' (vídeo abaixo).
O secretário de segurança goiano então respondeu à Márcia: "meu interesse não é exportar bandidos, é solucionar o problema e nós vamos a partir daí interagir em ações conjuntas das forças policiais para atacar a causa do problema e talvez por isso nós temos observado resultados muitos eficientes em favor da população".
Em grupo de policiais militares no WhatsApp, a secretária foi criticada. "Isso é o que dá a SSP/DF ser gerida por uma socióloga/psicóloga. Pede pra sair", disse um dos policiais.
Colecionadora de polêmicas
A secretária Márcia enfrenta graves denúncias em relação à sua conduta à frente da segurança do DF. Em maio foi revelado que ela usa carros descaracterizados da polícia como escolta para a família e como transporte aos filhos. Além disso, descobriu-se que ela nomeou a empregada doméstica para exercer cargo de assessora técnica na Secretaria de Segurança.
Como se não bastasse, Márcia levou o filho adolescente para dar um passeio de helicóptero do Detran sobre Brasília no dia da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, em abril.
Em junho, a também psicóloga brigou com coronéis da PM e mandou demiti-los. Isso porque eles esperaram o comandante-geral chegar em uma reunião para entrar na sala. Ela não gostou de ficar esperando.
Em setembro, Márcia fingiu que não viu a guerra que estava instalada entre as polícias do DF e foi para a Costa Rica passar uma semana e participar do XIX Comitê Sectorial de Seguridad y Policía Municipal. O fato que chamou atenção é que a a Costa Rica foi considerada no ano passado um dos países mais violentos do mundo e teve taxa de homicídios recorde.
Entre setembro e outubro, a secretária foi para Buenos Aires, na Argentina, sem motivo explicado pelo Palácio do Buriti, passar mais uma semana com dinheiro público. A publicação do Diário Oficial informava que ela "acompanharia o excelentíssimo Sr. governador".
A situação de Márcia se agravou com a paralisação da Polícia Civil. Em uma reunião, ela disse que, durante a Olimpíada em Brasília, "eles não fariam falta" e gerou embate entre as instituições.
Entre outubro e novembro, para desagradar ainda mais a Polícia Civil, a psicóloga foi ao Tribunal de Justiça defender que policiais militares façam termo circunstanciado, atribuição exclusiva da polícia judiciária. Policiais civis e delegados ficaram indignados. A titular da SSP conversou até com o desembargador presidente do TJDFT. A situação foi vista como 'lobby'.
Tanto desgaste para o GDF levou o governador Rodrigo Rollemberg a convidar o ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame para comandar a pasta em Brasilia, em outubro. Ele recusou.
Resposta da Secretaria
Por meio de nota, a assessoria da SSP/DF informou que não houve pedido, por parte da secretária Márcia de Alencar, para que o estado de Goiás não atuasse na prevenção de crimes. O que houve, segundo a SSP, foi uma proposta, por parte da SSP-DF, de um acordo de cooperação entre os dois estados para coibir os crimes contra o patrimônio que estavam acontecendo na região fronteiriça entre o DF e Goiás
Márcia não foi localizada pela reportagem para comentar o caso. Por outro lado, ao Diáro do Poder o secretário adjunto de Segurança, coronel Márcio Pereira, confirmou que não houve esse pedido alegado pelo vice-governador de Goiás. "Eu participei desse encontro na residência oficial do estado de Goiás, no Lago Sul, sete meses atrás. Jamais foi abordado esse assunto. A secretária propôs o acordo e ele gostou tanto da ideia que no mesmo dia à tarde estava na nossa SSP tratando da formatação do projeto", garante.
O acordo selado faz parte do Pacto Integrador de Segurança Pública Interestadual, que atualmente conta com mais oito estados: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia, Amazonas, Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Márcia de Alencar é a vice-presidente do referido Pacto, que é presidido pelo vice-governador de Goiás, José Eliton.
Veja o vídeo: