PRAÇA DE GUERRA

Tiroteio que derrubou governador de Alagoas completa 20 anos

Livro relata o 17 de Julho que reescreveu História de Alagoas

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Vinte anos depois de presenciar o tiroteio na Praça Dom Pedro II, à porta da Assembleia Legislativa de Alagoas, o jornalista Joaldo Cavalcante reuniu histórias de mais de 160 personagens do episódio histórico que aconteceu em 17 de julho de 1997, em um livro-reportagem que eterniza as lembranças da manifestação quase trágica de dez mil manifestantes que exigiram o afastamento e forçaram a queda do então governador Divaldo Suruagy.

O livro “17 de julho – a gameleira, as lembranças e a história decidida à bala”, será lançado em Maceió, nesta segunda-feira (17), exatamente na data em que ocorreu o levante de servidores que lidavam com insustentáveis atrasos salariais e o caos nos serviços públicos. O lançamento será no restaurante Anamá, às 19h, na Ponta Verde.

Os 16 capítulos e 221 páginas de “jornalismo de reconstituição”, como classifica seu autor, mergulham nos arquivos antigos de jornais e na gravação de depoimentos de pessoas que vivenciaram os acontecimentos que culminaram no fogo cruzado entre policiais civis e militares do Estado e os recrutas do Exército.

Joaldo se abrigou sob uma gameleira, na hora dos tiros (Foto: Divulgação)“Foram quase quinze horas de gravação e algumas centenas de páginas, entre recortes de jornais, textos transcritos de áudios e documentos, como o IPM do Exército. Quando os disparos começaram, todos buscaram abrigo. No meu caso, refugiei-me no tronco da gameleira, que virou no livro meu gabinete literário para viajar no tempo, revisitar fatos e relatar outras lembranças”, revela Joaldo Cavalcante.

Em dezesseis capítulos, o livro dá voz a personagens como autoridades do governo, parlamentares e profissionais de imprensa que testemunharam os fatos e, o próprio autor estava na praça no momento do tiroteio.

Entre os depoimentos exclusivos, destaca-se dos do ex-governador Manoel Gomes de Barros, que sucedeu Suruagy, e o ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante, condenado na morte do delegado Ricardo Lessa e do fiscal de renda Sílvio Viana.

O Diário do Poder conversou com o autor do livro. Confira:

O livro mostra depoimentos e pontos de vista sobre o episódio. E você? O que viu naquele 17 de Julho?

Eu era secretário de Comunicação da Prefeitura de Maceió. A prefeita Katia Born resolveu comparecer e exigir a abertura do centro da praça, circundada de grades. Para que a multidão tivesse acesso e ali pudesse se manifestar. Quando a grade virou, começou o tiroteio. Eu me protegi deitado ao pé se uma frondosa gameleira. A sensação, diante da profusão de tiros, é que haveria uma carnificina no final. A maioria dos tiros foi de festim, e os disparos com real foram para o alto. O governo estava acuado e o parlamento sitiado. Cerca de 10 mil manifestantes deram o tom, com o tiroteio apressando o afastamento de Suruagy.

Mudou algo na relação das oligarquias com o povo, após o 17 de julho?

Eu diria que, desde aquela data, não mais houve atraso no pagamento de folha salarial do conjunto dos servidores. Até a relação entre a polícia e os manifestantes mudou de postura. Veja que esse processo levou ao surgimento do setor de gerenciamento de crises na PM.

Qual a lição que o 17 de julho deixou para os alagoanos?

Uma lição de cidadania. A organização das pessoas construiu o movimento.

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