Rios perenes agonizam

Seca atinge rios que mataram 27 em enchente de 2010 em Alagoas

Quase sete anos após enxurrada, alagoano sofre com falta d'água

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Os rios Mundaú e Paraíba do Meio, na Zona da Mata de Alagoas, estão em nível crítico sem vazão suficiente para abastecer que margeiam suas bacias hidrográficas. A situação de calamidade acontece quase sete anos depois de os dois rios federais terem protagonizado a maior tragédia natural da história de Alagoas, em junho de 2010, em uma enxurrada que arrastou pontes, ruas, casas, árvores e, com elas, 27 vidas de quem ergueu seus sonhos às margens dessas bacias hidrográficas, mas foram levadas pela força das águas.

Em Alagoas, quase 80% das prefeituras decretaram situação de emergência devido à estiagem. E os rios que deixaram 32 mil desalojados, quase 26 mil desabrigados estão agonizando. E, agora, os milhares de alagoanos dos 19 municípios que sensibilizaram o Brasil após a destruição da enxurrada de 18 de junho de 2010, apelam pelas autoridades pela falta de água.

Sem hábito de estocar água em cisternas como se faz no semiárido e sem infraestrutura hídrica capaz de dar conta das consequências do sexto ano da mais dura seca do último século do Nordeste, a população dos municípios da Zona da Mata de Alagoas conta com gestores sem experiência em lidar com a inédita estiagem, que nunca havia rompido os limites do Agreste e Sertão do Estado para a região da Mata, serrana e com água naturalmente farta.

Os rios Mundaú e Paraíba do Meio têm importância histórica para o Estado de Alagoas, não só por garantir o sustento de por abastecer as respectivas lagunas conhecidas como Lagoa Mundaú e Lagoa Manguaba, que deram nome ao Estado de Alagoas. Mas, ambos, perderam as forças até para arrastar plantas aquáticas como as baronesas.

Veja o registro enviado ao Diário do Poder, feito na última quinta-feira (16):

RACIONAMENTO

O maior exemplo de dificuldades vem de União dos Palmares, que teve cinco mil casas destruídas pela enchente do Rio Mundaú, e desde o fim da semana passada convive com a distribuição de água por carros-pipas e racionamento de água, com previsão de um abastecimento por semana em algumas regiões.

Em União dos Palmares, o Rio Mundaú expõe, desde o último fim de semana, quase todas as pedras do fundo de sua calha, que ficaram à mostra na área do sistema de captação. Água bruta com coloração barrenta chegou a ser distribuída à população, por meio de carro-pipa, nesta segunda-feira (20).

Estação de captação antes e durante seca no Mundaú: pedras à vistaO Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) foi autorizado a improvisar barragens com sacos de areia para poder juntar água suficiente para ser bombeada para a estação de tratamento.

O prefeito Areski Freitas, o Kil (PMDB), decretou emergência e, com o apoio do Governo do Estado, apreendeu bombas de empresas e agropecuaristas locais, e tenta coibir que lava-jatos e grandes empresas, como a Usina Serra Grande, captem ou contenham a água do Mundaú e de seus afluentes clandestinamente, prejudicando o consumo humano.

Sem água nas torneiras, a população está indo ao Rio Mundaú para lavar pratos, roupas e até tomar banho, na região que é endêmica para a esquistossomose. Baldes, bacias e reservatórios de água já estão escassos no comércio local.

Alguns donos de propriedades com açudes e nascentes estão dando acesso à população para a retirada de água. Outros, como o Park Hotel Quilombo dos Palmares, construído aos pés da Serra dos Frios, pôs à venda mil litros de água a R$ 60.

“Fora o que estamos fazendo, o que nos resta é rezar; pedir a Deus, a Nosso Senhor Jesus Cristo, à Santa Maria Madalena e ao Padre Cícero, para que nos ajude e traga chuva. Porque, definitivamente, é a única coisa que vai resolver”, desabafou o prefeito Kil, em vídeo postado em seu perfil do Facebook.

PROVIDÊNCIAS

O secretário de Recursos Hídricos do Estado de Alagoas, Alexandre Ayres, disse ao Diário do Poder que a situação do Mundaú é muito preocupante e que o Governo de Alagoas acompanha de perto e realiza ações emergenciais que possam amenizar a situação. Em janeiro, o secretário reuniu usuários mais importantes, como o SAAE de União dos Palmares, usinas e agricultores, para orientação e capacitação.

Ayres propôs em janeiro pacto para uso da água (Foto: Ascom Semarh)“Houve uma redução da vazão em razão da ausência de chuvas por seis anos consecutivos, abaixo da média na região. Somado a esse fato, temos a desregulação das captações realizadas pelos usuários em toda a bacia. Esses dois fatores contribuíram para o agravamento da situação”,

Ayres disse que, por serem o Mundaú e o Paraíba do Meio rios federais nascidos em Pernambuco, a concessão de outorgas e a gestão do comitê da bacia fica sob a responsabilidade da Agência Nacional de Águas (ANA), que estaria sendo contatada para agilizar a criação do comitê da bacia que possibilitará uma melhor gestão e regulação do uso das águas.

“O que precisamos fazer é investir em infraestrutura hídrica para não ficarmos reféns da ausência ou diminuição das chuvas. É nisso que estamos investindo, em planejamento para os próximos 20 anos. Otimizando os gastos e direcionando o planejamento conseguiremos a segurança hídrica pretendida. Já realizamos perfurações em Viçosa, Capela, Atalaia e temos outras previstas. Estamos investindo no abastecimento de água de Capela, onde a qualidade da água é um problema de décadas. Em União dos Palmares realizamos a recuperação de nascentes e estamos estudando a viabilidade de poços”, disse Alexandre Ayres.

 

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