Sintoma do declínio

Renan Filho exalta o pai em raro discurso de elogio, na Assembleia

Governador exalta Renan e o compara a Ronaldo em final de Copa

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Em um momento de dificuldades de olho na reeleição do líder de seu clã político em Alagoas, o governador Renan Filho (PMDB) exaltou seu pai e senador Renan Calheiros (PMDB-AL) como “sustentáculo” para o Estado enfrentar a maior crise do período republicano no Brasil, em seu discurso na abertura do Ano Legislativo, nesta quarta-feira (15), diante de deputados estaduais e secretários, no plenário da Assembleia Legislativa (ALE).

Enquanto seu pai anda mal das pernas nas pesquisas de consumo interno pelo interior de Alagoas, como revelou um deputado ao Diário do Poder, Renan Filho chegou a comparar seu pai ao craque Ronaldo, na decisão da Copa do Mundo de 2002, em que o brasileiro aproveitou a falha do goleiro alemão Oliver Kahn, para garantir o título no Japão.

Ao atribuir qualidades a Renan Calheiros, o herdeiro disse recorrer ao pai para superar dificuldades no governo de Alagoas. E disse encontrar, “no respeito ao pai”, portas abertas por onde atua em nome de Alagoas.

Renan Filho disse ter pai como oráculo (Foto: Márcio Ferreira)

As declarações foram dadas quando Renan Filho dizia ter se surpreendido com a dificuldade de administrar o Estado e agradecia à bancada federal alagoana e a toda a classe política pelo apoio recebido para governar.

“Gostaria também, para não ser injusto, de dizer que não teria condição de fazer as coisas que faço se não contasse com o apoio integral do senador Renan Calheiros, que está em Brasília sempre esperando o momento de entrar em campo. É aquele jogador que já tá aquecido. Quando o problema aqui é grande, que eu estou sem saber bem o que fazer, que eu sinto que a dureza não permite que a broca rasque a pedra, aí eu conto com o senador Renan Calheiros, que ajuda demais. E é um sustentáculo para Alagoas enfrentar a crise, oscilando menos. Porque, em todos os lugares que a gente leva o nome de Alagoas, a gente encontra uma porta aberta e encontra respeito ao senador Renan. E isso é de uma valia muito grande”, exaltou Renan Filho.

A trajetória do craque Ronaldo, com sua lesões, até obter a vitória na Copa de 2002, inspirou Renan Filho à analogia: “Final de Copa do Mundo, quando a Alemanha tinha aquele goleiro, um galego, Oliver Kahn, e nós tínhamos o Ronaldo. Aí o goleiro bateu roupa e o Ronaldo decidiu a Copa. Mas não é todo mundo que decide a Copa. Para decidir a Copa tem que ter coração, força, valentia, história, propósito, liderança”, disse o governador, ao elogiar o pai.

SINTOMA DO DECLÍNIO

Desde a campanha de 2014, bem como em eventos oficiais após eleito, o governador Renan Filho muito raramente citou o pai em seus discursos. Ainda menos, para exaltá-lo como um “porto seguro” na hora do aperto. Mas sabe que o pai precisa de seu apoio, diante do avanço de sua rejeição para além da capital alagoana, onde o eleitor lhe impôs uma derrota na última eleição, elegendo Rui Palmeira (PSDB) com mais de 60% dos votos em 2º turno.

Para se reeleger em 2018, Renan Calheiros precisa de muito mais que propaganda positiva reforçada pelos discursos do filho governador. Afinal, é réu por crime de peculato na ação penal que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre desvio de verba de gabinete para uma locadora que não teria prestado o serviço. Sem contar com os 12 inquéritos a que Renan responde no Supremo, dos quais nove são decorrentes da Operação Lava Jato.

Renan em ato de campanha em 2016 (Foto: Divulgação)Nas eleições de 2016, a derrota foi expressiva. E não apenas pela pretensão frustrada do clã Calheiros de eleger 80% dos prefeitos de Alagoas. Mas, principalmente, pelas derrotas na soma dos votos nos cinco maiores colégios eleitorais alagoanos, onde o PMDB recebeu 336,7 mil votos, enquanto que seus adversários somaram o apoio de 700,1 mil eleitores, no 1º e 2º turnos na capital e interior; apenas 26,36% da preferência dos grandes colégios eleitorais.

Um deputado governista disse ao Diário do Poder que uma pesquisa feita em cidades do Agreste e do Sertão trouxe números nada dignos de final de Copa do Mundo. “Vi uma pesquisa em 30 cidades do Agreste e sertão. O pai tá ruim e muito. Vai ser difícil. E o filho sabe”, disse o parlamentar, ao analisar o discurso.

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