Bloco dos insatisfeitos

Renan ameaça Dilma para PMDB abocanhar segundo escalão

Insatisfeito com reforma ministerial, senador condiciona apoio do partido ao Planalto a indicações do segundo escalão no governo

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Portador da insatisfação do PMDB no Senado por ter perdido influência na reforma ministerial feita pela presidente Dilma Rousseff, o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), avisou a ministros que o partido não aceitará perder as indicações para o segundo escalão no governo. Em reunião na sexta-feira, 2, na casa do presidente do PMDB e vice de Dilma, Michel Temer, Renan disse aos ministros Aloizio Mercadante (casa Civil), Ricardo Berzoini (Comunicações) e Pepe Vargas (Relações Institucionais) que se isso ocorrer o partido vai declarar independência em relação ao Palácio do Planalto.

Dono da maior bancada, com 19 dos 81 senadores, o PMDB do Senado se considera “humilhado” por Dilma na reforma ministerial, conforme mostrou reportagem do Estado de S. Paulo. Opartido decidiu não dar mais apoio irrestrito ao governo Dilma.

No primeiro mandato da petista, o partido comandava as pastas de Minas e Energia, do Turismo e da Previdência Social. O partido avaliava que na mudança do primeiro escalão – após ter sido, no final do ano passado, o principal fiador da aprovação do projeto que permitiu ao governo abandonar o cumprimento da meta fiscal de 2014 – seria agraciado com, pelo menos, dois ministérios de peso. A bancada mirava conquistar as pastas das Cidades e da Integração Nacional, ministérios com bons orçamentos e capilaridade no Nordeste, reduto da cúpula peemedebista.

Na reforma, entretanto, Dilma não atendeu aos pedidos da cúpula do PMDB, embora tenham garantido quatro pastas: mantiveram os ministérios de Minas e Energia e do Turismo e ganharam o da Agricultura – embora a senadora Kátia Abreu não tenha sido considerada cota do partido e sim da própria presidente – e a Secretaria da Pesca.

Os peemedebistas assistiram a aliados com baixa representatividade no Senado, como o PSD de Gilberto Kassab, que elegeu três senadores, e o PROS, que não conquistou nenhum cadeira na Casa, levarem os ministérios, respectivamente, das Cidades, com Kassab, e da Educação, com Cid Gomes.

Em um tom duro no encontro de sexta-feira, Renan afirmou que, se o governo retirar os nomes do segundo escalão que o PMDB tem no Nordeste, será uma declaração de “guerra” à bancada. Chegou a ironizar ao dizer que, dessa forma, o Planalto terá de se socorrer no Senado de Kassab e de Cid Gomes.

Após perder a batalha do primeiro escalão, o PMDB do Senado quer manter ou garantir, principalmente, a presidência e os principais cargos do Banco do Nordeste (BNB), a Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). O Planalto quer dar esses postos a outros aliados, como o PP, que na reforma perdeu o Ministério das Cidades, mas foi deslocado para a Integração Nacional.

Durante o encontro com Mercadante, Berzoini e Vargas, Renan chegou a dizer que, por ele, o PMDB do Senado deveria ter soltado uma nota pública dizendo não ter sido consultado sobre as indicações do partido. E disse aos presentes que o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) e o filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), Helder, escolhidos, respectivamente para Minas e Energia, Agricultura e Pesca, são “amigos”, mas não indicação da bancada. Isto é, foi Dilma quem escolheu os nomes sem uma consulta prévia aos senadores do partido.

“Nunca vi o Renan daquele jeito”, afirmou um peemedebista presente ao encontro ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

Futuro. Na avaliação da cúpula peemedebista, o Planalto tem dado respaldo político para Kassab e Cid ganharem força política e criarem um partido. E, ao atrair parlamentares futuramente, eles tentariam reduzir a dependência do governo em relação ao PMDB, tanto na Câmara quanto no Senado. Em conversas com interlocutores nos últimos dias, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), afirmou que é preciso buscar a harmonia na bancada em torno de Dilma, mas tem dito que há uma “verdadeira rebelião” a ser administrada.

Além de medidas de ajuste fiscal da nova equipe econômica que precisam passar pelo crivo do Congresso, o governo Dilma terá uma extensa lista de propostas que precisam, obrigatoriamente, ser apreciadas pelos senadores: votação do Orçamento de 2015; aprovação das duas medidas provisórias que mudam regras para concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas; prorrogação para além do final de 2015 da Desvinculação das Receitas da União (DRU) – que permite ao governo utilizar livremente 20% dos recursos vinculados a áreas obrigatórias pela Constituição -; a nova política de salário mínimo a partir de 2016; a Lei Geral das Antenas; o novo Marco da Mineração e a reforma do ICMS.

Se o governo não atender aos pleitos, o PMDB do Senado, além de não avalizar todas as propostas enviadas pelo Executivo ao Congresso, pretende dividir com a oposição a administração de importantes postos na Mesa Diretora e em comissões temáticas na Casa. (Ricardo Brito/AE)

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