Pacote de medidas de austeridade provoca novos protestos no Rio
Prédio da Assembleia Legislativa foi atacado por sindicalistas
Centenas de servidores estaduais protestam diante da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) contra o pacote anticrise enviado pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) à casa, que começa a discuti-lo na tarde desta quarta-feira, 16. Para evitar que o Palácio Tiradentes seja novamente ocupado pelos manifestantes, como aconteceu num protesto anterior, o prédio foi todo cercado por grades e guardado por dezenas de PMs, munidos de escudos e capacetes. aler
Os servidores de diversas áreas temem ter o salário reduzido por conta dos projetos enviados à Alerj pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). No caso dos funcionários do Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio (Iterj), a mobilização é contra a extinção do órgão, que trabalha pela regularização fundiária. O fim do Iterj consta do pacote do governo.
Há espaço para o humor no protesto. Funcionários do sistema penitenciário trouxeram uma "guarita" montada em frente à casa, chamada por eles de "presídio Alerjão 1", alusão a Bangu, unidade prisional do Rio.
"Os deputados são os piores bandidos. São covardes, se trancaram aí dentro", disse o agente penitenciário Marcos José, que faz as vezes de "vigia", no alto da estrutura metálica, trazida num ônibus fretado. Ele se referia à barreira feita com grades na porta da Alerj, montada para evitar que manifestante entrem no Palácio Tiradentes, como fizeram em ato anterior.
O ato conta com centenas de participantes e deve ficar maior de tarde, quando serão discutidas medidas do pacote de Pezão. Há faixas com frases como "Aqui jaz a decência" e "Para que polícia para o servidor, se quem rouba o Estado é o governador?".
Mais cedo, houve discussão entre os manifestantes. Uma parte chegou com cartazes onde se lia "Fora Temer", e foi rechaçada pelos que queriam apenas a pauta "Fora Pezão". "Somos apartidários", reclamou um servidor. Já no início da tarde, servidores tentaram derrubar a grade localizada na lateral da Alerj, na Rua São José, e foram contidos por PMs. O clima começou a ficar tenso na manifestação.
Os discursos de servidores no carro de som são de crítica ao uso de forte aparato policial para coibir o ato (são dezenas de PMs em todo o perímetro da Alerj, e um helicóptero sobrevoando ininterruptamente o palácio) e da manutenção de gastos pelo governo considerados supérfluos, como regalias para as áreas do legislativo e judiciário. De manhã, um servidor disse ao microfone que hoje a Alerj "não será invadida", diferentemente do que aconteceu em ato da semana passada.
Ao microfone, lideranças anunciam que a intenção é que esse seja o maior ato contra as propostas de Pezão até aqui: "Vamos juntar 30 mil pessoas", afirmam. O trânsito na Avenida Presidente Antônio Carlos já está bloqueado, pela presença de manifestantes na pista dos carros. Veículos tentam desviar para não ficarem presos na multidão. A rua provavelmente será logo fechada, como vem sendo feito em todos os protestos. As vias onde ficam as laterais da Alerj, o Largo do Paço e a Rua São José, também estão bloqueadas por cercas e ocupadas por PMs. Nos fundos, na Rua Dom Manuel, da mesma forma: a concentração é de mais de 50 policiais.
Diretor-secretário do Sindicato dos Servidores do Sistema Penal do Rio, Odonclei Boechat disse que os atos vão se suceder até o fim do ano em todos os dias em que houver discussão e/ou votação das medidas de Pezão, que visam ao reequilíbrio das contas do Estado, mergulhado num déficit de R$ 17, 5 bilhões. A mais controversa é a que aumenta a contribuição previdenciária dos ativos e inativos.
Hoje, deve ser debatida uma medida que agrada aos servidores: a redução do salário do governador, seu vice e secretários, em 30%. Os manifestantes bradam contra o "muro da vergonha" que os separa da entrada, e seguram faixas em que chamam a Alerj de "presídio de políticos". Os organizadores vão distribuir cestas básicas para os servidores mais necessitados – eles estão com salários atrasados, e não deverão receber o 13o.
"O (Jorge) Picciani (presidente da Alerj, deputado pelo PMDB) divulgou o calendário de discussões para desmobilizar os servidores. Ele pode mudar a ordem como quiser, que estaremos aqui. Uma das nossas preocupações é a perda do nosso triênio. Se não temos aumento, ele é nossa única salvação. Os sindicatos estão se reunindo e vamos nos revezar nos atos. A pressão dá resultado", afirmou. Pezão pediu e o Ministério da Justiça enviou agentes da Força Nacional Segurança para reforçar a guarda da Alerj, mas ainda não é possível visualizá-los.