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Órfão de ex-prefeito duelou com filho de vereador executado, em Alagoas

Morte de vereador e atentado ameaçam nova guerra política

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Tiroteios, pânico e policiais resgatando alvos potenciais de novos crimes no Sertão de Alagoas evidenciaram a gravidade do clima de guerra desencadeado pelo assassinato do vereador Adelmo Rodrigues de Melo, o “Neguinho Boiadeiro” (PSD), à porta da Câmara Municipal de Batalha-AL. Nessa quinta-feira (9), as famílias Dantas e Boiadeiro voltaram a se enfrentar, trocando acusações e, segundo um dos três sobreviventes, tiros.

Após o vereador ter sido trucidado na saída da sessão da Câmara, José Emílio Dantas foi emboscado em sua própria casa, reagiu e foi baleado no ombro. Zé Emílio é filho de um ex-prefeito assassinado em 1999, e sobrinho do presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Luiz Dantas (PMDB). Quando foi resgatado pela polícia, declarou ter reconhecido seu algoz como sendo “Baixinho Boiadeiro”, apelido de José Márcio Cavalcanti de Melo, que é filho do vereador assassinado.

"Foi o Baixinho. Que olhei para ele e falei: 'Não mostre a cara, não!'", disse Zé Emílio, antes de entrar na viatura policial, ensanguentado. Já no Hospital Geral do Estado, deitado numa maca após ser socorrido de helicóptero, repetiu: “Baixinho Boiadeiro. Eu vi!”, ao conversar com um homem, enquanto era filmado.

Assista:

A tentativa de assassinato de Zé Emílio Dantas sucedido a execução do vereador Neguinho Boiadeiro, certamente porque o homem caçado em sua própria casa foi visto como suspeito de ter envolvimento na morte do vereador de Batalha. O motivo da suposta vingança dos Boiadeiros seria porque Zé Emílio é filho do ex-prefeito do município José Rodrigues Dantas, conhecido como “Zé Miguel”, assassinado em 1999 com a esposa Matilde Tereza Toscano de Souza.

Pela morte do ex-prefeito Zé Miguel, a Justiça condenou o agropecuarista José Laelson Rodrigues de Melo, 'Laércio Boiadeiro', a 35 anos de prisão. Laércio é irmão de Neguinho Boiadeiro.

Mas quem comanda o município, atualmente, é a família Dantas, após serem eleitos no pleito de 2016, marcado pelo pedido da Justiça Eleitoral local pela presença do Exército no dia da votação. A prefeita de Batalha é Marina Dantas, nora do presidente da Assembleia Legislativa e esposa de Paulo Dantas, que pretende suceder o pai em 2018, com o apoio do governador Renan Filho (PMDB).

‘FOI A PREFEITA’

A Polícia Civil diz já ter pistas dos dois assassinos de Neguinho Boiadeiro, que chegaram à cidade no dia anterior, distribuindo panfletos que ofereciam serviços de limpeza de caixa d’água. Mas Mércia Boiadeiro, viúva do vereador executado ontem, tratou de divulgar à imprensa sua convicção de que seu marido foi morto a mando da prefeita Marina Dantas e de Paulo Dantas.

Baixinho e Pretinho Boiadeiro já foram acusados de duplo homicídioQuem a acompanhava na entrevista era seu filho José Anselmo Cavalcanti de Melo, o “Pretinho Boiadeiro”, suspeito de ter participado da emboscada contra Zé Emílio Dantas, junto com o irmão Baixinho Boiadeiro. A dupla conhecida como Irmãos Boiadeiro já foram denunciados pelo Ministério Público por envolvimento na morte de Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e do sargento reformado da Polícia Militar, Edvaldo Joaquim de Matos, 62 anos, em 2006. As vítimas eram cunhado e segurança, respectivamente, do então prefeito de Batalha, Paulo Dantas.

“Já mataram meu primo, um amigo da gente, e agora, meu pai. Então, Marina Dantas e Paulo Dantas e o policial civil, Eudes…”, disse Pretinho, ao ser complementado imediatamente pela viúva: “Têm que ir para a cadeia! Tem que mofar na cadeia, ele e a Marina Dantas. Porque eles dois mataram o meu marido sem precisão. Estamos tudo é doido, sem saber de nada. Só sei que botei o almoço na mesa e telefonei no meu marido e ele disse, ‘chego já’. E o almoço ainda tá lá”.

Assista:

O CRIME

Na manhã dessa quinta-feira (9), dois homens abordaram Neguinho Boiadeiro, à porta da Câmara, e o vereador foi alvejado com tiros de pistola 9 milímetros. O vereador ainda conseguiu entrar no carro, uma Pajero Full. E seu motorista e segurança, Joaquim Pirauá, de 54 anos, tentou fugir do local, mas perdeu o controle do veiculo, ao ser baleado no tórax e ombro. Os tiros ainda acertam um homem identificado como José Elson.

Vereador Neguinho Boiadeiro foi morto ao sair da sessãoO crime mobilizou um forte aparato da Segurança Pública de Alagoas. E o secretário executivo da SSP, delegado Acássio Júnior, esteve no município disse ter pistas sobre a dupla que executou o crime.

O delegado-geral da Polícia Civil, Paulo Cerqueira, também se deslocou para a região de Batalha e designou uma comissão de delegados para investigar o caso, formada por Cícero Lima, gerente de Polícia Judiciária da Região 4, Rômulo Monteiro, titular da 3ª Delegacia Regional de Batalha, que já estavam atuando no caso desde o primeiro momento, ainda terá o reforço do delegado Rosivaldo Vilar, titular do 51º Distrito Policial de  Major Isidoro.

“Além de agir com o contingente policial, a cúpula da Segurança  Pública está monitorando a situação para evitar que outros fatos como este voltem a ocorrer e criem um clima de insegurança na cidade”, disse a SSP em nota.

O Diário do Poder tentou e não conseguiu contato com os envolvidos das famílias Dantas e Boiadeiro. E chegou a afirmar que Neguinho Boiadeiro presidia a Câmara, mas Waldeck Barros Santos (PTB) é o atual presidente.

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