Novo status das Forças Armadas põe em xeque credibilidade da PM
'Procuram-se inimigos para o Exército brasileiro', sugere Economist
Conhecido pelo pacifismo diplomático, o Brasil tem demonstrado crescente tendência a recorrer às Forças Armadas para a execução de atividades de defesa nacional. Grosso modo, a trindade militar é responsável pelo plano de defesa externa do país. Em análise, a revista "The Economist" sugere que o novo status policial conferido às tropas tupiniquins pode fazer com que a população passe a dar cada vez menos valor a instituições como a PM.
O último ataque a uma grande cidade brasileira ocorreu em 1711, quando o Rio esteve por alguns dias sob o domínio de um corsário francês. Um documento oficial do Exército afirma que, “no momento, o Brasil não tem inimigos”. Na ausência de vizinhos beligerantes ou insurreições armadas, e sem cultivar ambições no exterior, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, admite que as Forças Armadas do País “não exibem os atributos militares típicos”.
Contudo, estrategistas brasileiros garantem que a falta de adversários militares não é justificativa para economizar nos gastos com a Defesa. A alta hierarquia militar diz que, nas condições atuais — com uma tropa pouco qualificada, mal equipada, executando com frequência cada vez maior funções de policiamento de rotina — as Forças Armadas brasileiras não têm como cumprir os objetivos que lhes são atribuídos pelas autoridades civis.
Os militares têm competência legal para atuar preventiva e repressivamente numa faixa de 150 km das fronteiras terrestres. Quadrilhas internacionais há muito atuam nessas áreas: estacionado junto ao zoo de Tabatinga, há um avião cargueiro que se diz ter pertencido ao traficante Pablo Escobar.
Em 2015, os brasileiros abandonaram iniciativa conjunta com a Ucrânia para a construção de um veículo de lançamento de satélites. O submarino nuclear que o País começou a construir em 2012, a um custo de R$ 32 bilhões, está longe de ser concluído. O único porta-aviões de que a Marinha brasileira dispunha, que vivia no estaleiro, foi aposentado de vez em fevereiro.
Em períodos de austeridade, até operações rotineiras sofrem com a escassez de recursos. Uma unidade militar de fronteira, em Roraima, recebe suprimentos apenas uma vez por mês, enviados por um avião da FAB. Em razão disso, seu comandante, o general Gustavo Dutra, é obrigado a contar com os serviços de uma transportadora aérea privada, cuja hora de voo custa R$ 2 mil. Em janeiro, o Exército foi acionado para debelar um motim em uma penitenciária do Estado. Com as finanças estaduais em petição de miséria, o general Dutra teme que seus homens tenham de entrar em ação novamente em breve.