Marin recebeu propinas de R$ 2 mi por ano pela Copa
Nike ainda pagou R$ 127 milhões à CBF
A administração de José Maria Marin cobrou propinas milionárias para fechar contratos comerciais e ceder competições a outros países. Investigações conduzidas pela Justiça americana e pelo Ministério Público da Suíça revelam que o ex-presidente exigia pagamentos e chegou a alertar parceiros comerciais que os valores de propinas pagos ao seu antecessor, Ricardo Teixeira, deveriam agora ser redirecionados a ele.
Num dos pagamentos, a CBF ficaria com uma propina de US$ 20 milhões (R$ 63 milhões) para contratos comerciais envolvendo a Copa América de 2019 no Brasil. No total, os contratos oficiais estavam avaliados em US$ 80 milhões (R$ 254 milhões).
Marin ainda cobrou R$ 2 milhões por ano de parceiros comerciais para a realização da Copa do Brasil enquanto foi presidente da CBF e tentou negociar o fim dos pagamentos de propinas para Ricardo Teixeira, transferindo os lucros para suas contas. Nesta manhã, ele foi um dos presos na Fifa pela polícia suíça e à pedido do FBI nos EUA.
Segundo a investigação americana, a CBF cobrou propinas de parceiros para que tivessem o direito de transmissão dos eventos. O valor, porém, subiu quando Marin assumiu a presidência, em 2012. Marco Polo Del Nero, presidente atual da CBF, saiu nesta manhã em defesa de Marin, alegando que todos os contratos eram da época de Ricardo Teixeira.
O cartola brasileiro que está preso na Suíça aceitou dividir os R$ 2 milhões anuais com outros dois dirigentes esportivos, não mencionados. Parte do pagamento foi feito por meio de contas no banco Itaú de Nova Iorque para outra no HSBC de Londres. Numa delas, o dinheiro ia para uma conta de uma empresa que fabrica iates de luxo.
Em abril de 2014, Marin usou uma coletiva de imprensa nos EUA para, nos bastidores, falar da Copa América para negociar o fim de pagamentos a Ricardo Teixeira. No encontro, segundo a Justiça americana, Marin declarou: "Chegou a hora de vir em nossa direção. Verdade ou não?". O interlocutor, não identificado, apenas respondeu: "Claro, claro. O dinheiro teria de vir para o senhor". Marin respondeu: "Está certo".
As propinas não começaram com Marin. Desde 1990 e até 2009, a investigação americana indica que um "alto funcionário da Fifa e da CBF solicitou receber propinas em conexão com o contrato de venda dos direitos da Copa do Brasil" Marin ainda recebeu em 2013 mais US$ 3 milhões (R$ 9 milhões) em propinas por contratos da Copa América, pagos pela empresa Datisa.
Outra constatação é de que a Nike pagou uma propina de US$ 40 milhões em uma conta na Suíça para fechar um contrato com a CBF para patrocinar a seleção brasileira. A informação faz parte da investigação conduzida nos EUA e que acabou com a prisão de José Maria Marin, ex-presidente da CBF.
Segundo o levantamento, o acordo avaliado em US$ 140 milhões (R$ 127 milhões) rendeu em pagamentos paralelos e depositados no paraíso fiscal alpino. As suas duas empresas que teriam recebido o dinheiro seriam a Traffic Sports International Inc. E a Traffic Sports USA Inc. -, que estão sediadas na Flórida (EUA). Ambas são citadas pela Justiça americana. Os suíços já indicaram que contas foram bloqueadas.
Marco Polo del Nero, presidente da CBF, se recusou a comentar o contrato da Nike. "Isso é algo antigo ", disse. O cartola participa de uma reunião de emergência em Zurique com dirigentes sul-americanos e deixou claro que a responsabilidade pelos contratos é de Ricardo Teixeira. " Eu não sabia de nada ", declarou. (AE)