Entrevista DP

Juiza em Haia diz que combate à corrupção melhora imagem do Brasil

Para juíza de Haia, o País já se afasta da 'república de bananas'

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Representante brasileira no Tribunal Penal Internacional da Haia, na Holanda, a juíza Sylvia Steiner acaba de deixar aquele posto onde por treze anos atuou nas sessões de julgamentos e foi privilegiada observadora da cena do Judiciário internacional. Ao participar nesta segunda-feira (3) da abertura do V Forum Nacional dos Juízes Federais Criminais, promovido pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), ela afirmou que o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro no país é visto  como um marco.

 “Sem dúvida, a imagem do país melhora pelo fato de ter decidido finalmente combater a corrupção, afastando-se da imagem de república das bananas”, afirmou a juíza, ao elogiar a atuação dos juízes federais brasileiros nessa luta. Ex-procuradora regional da República de São Paulo e Mato Grosso do Sul, de 1982 a 1995, e ex-desembargadora federal no Tribunal Regional Federal (TRT) da 3ª. Região até 2003 – quando foi indicada ao Tribunal Penal Internacional -, Sylvia Steiner tem planos de se dedicar ao magistério agora que se aposentou. Ela concedeu hoje a seguinte entrevista sobre as operações de combate à corrupção no Brasil.

O Brasil passa por um momento delicado em que a Justiça Federal tem tido uma atuação muito forte no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. Lá fora, especialmente na Tribunal Penal Internacional da Corte de  Haia, na Holanda, qual a avalição que eles têm desse trabalho da Justiça brasileira?
O combate à corrupção no Brasil, não só na Holanda, no meu tribunal, mas na Europa como um todo é visto como um marco. O Brasil e outros países latino-americanos têm a fama de sobreviverem à custa de corrupção. Então, toda notícia que chega relativa ao combate à corrupção passa a ideia de que o Brasil está progredindo, está mudando seu perfil e, portanto, é muito bem vista essa notícia por conta disso. Por outro lado, a imprensa de lá não é tão bem infomada quanto deveria ser, pois muitas vezes as notícias chegam truncadas. Eu mesmo me vi parada muitas vezes pelos corredores da Corte para explicar o que estava ocorrendo, seja em relação ao movimento do impeachment ou a respeito da prisão de empresários. Às vezes, a imprensa noticia sem muito conhecimento do que está por trás das ordens de prisões…Mas de qualquer forma  acho que a imagem do Brasil melhora, como país que finalmente decidiu combater a corrupção.

A senhora avalia que esse trabalho de combate à corrupção precisa continuar aqui no país?
Com certeza. Eu tinha um professor que costumava dizer que precisamos passar a História a limpo, e nós estamos tentando passar e mudar esse perfil de que o Brasil é uma república das bananas e cada um faz o que quer, independentemente de qualquer aspecto político-partidário. Eu acho que já está suficientemente demonstrado que a corrupção tem sido a principal causa da pobreza da população num país extremamente rico.

Como é o trabalho de uma juíza federal brasileira na Corte Internacional e Justiça?
Muito mais que o trabalho de uma juíza brasileira, eu entendo, sem falsa modéstia, que fiz um bom trabalho, que representei bem o país nos últimos treze anos em que lá estive. Mais importante de tudo, em acho que é o Brasil ter sempre um representante nesse tribunal, ele não pode ficar de fora pois é um dos maiores contribuintes do tribunal e agora com minha saída julgo fundamental que as autoridades, por meio da Presidência da República e do Ministério das Relações Exteriores, comecem a trabalhar a candidatura para minha substituição. O Brasil não pode ficar sem um juiz brasileiro no Tribunal Penal Internacional.   

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