Cultura

Filme 'Olhar de Nise' é selecionado para festivais da Inglaterra, Portugal e EUA

Conta a história da psiquiatra e humanista Nise da Silveira

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O filme "Olhar de Nise", de Jorge Oliveira e Pedro Zoca, exibido na Mostra Panorama Brasil do 48º Festival do Cinema Brasileiro de Brasília, continua embalado na sua carreira internacional. Depois da exibição no Hollywood Brazilian Film Festival de Los Angeles no final do ano passado, agora foi selecionado para os festivais de cinema na Inglaterra, Estados Unidos (Colorado) e Portugal.

A primeira apresentação será  no festival Vail Film Festival, em Denver, um dos mais importantes do Colorado, no dia 08 de abril e reapresentação no dia 10. Na Inglaterra, a exibição do filme  – o único brasileiro escolhido – ocorrerá nos dias 5 e 6 de maio, no Derby Film Festival, mostra competitiva com mais de 60 filmes. Em Lisboa, Olhar de Nise está no festival de cinema de países de língua portuguesa, um dos mais tradicionais de Portugal.

O documentário, produzido pela jornalista Ana Maria Rocha, foi exibido, em caráter beneficente, no cine Odeon, no Rio, onde foi aplaudido de pé por mais de 500 pessoas que lotaram o cinema. A renda foi revertida para a Casa das Palmeiras, uma clínica (aberta) criada em 1957 pela doutora Nise da Silveira para receber pacientes sem a obrigação de permanecer internados, o que inspirou  anos depois as mudanças nos manicômios brasileiros.

O documentário, um longa-metragem de 90 minutos, com cenas de ficção, foi rodado na Alemanha, no  Rio e em Alagoas,  terra da psiquiatra. No Hospital do Engenho de Dentro, onde trabalhou durante toda vida, Nise introduziu seus pacientes à arte-terapia com a ajuda do artista plástico Almir Mavignier, transformando muito deles, que até então viviam isolados, trancados em celas, em artistas  reconhecidos em várias partes do mundo.

Entre os depoimentos de pessoas que conviveram com a psiquiatra, o filme mostra também uma entrevista com Almir Mavignier, gravada em Hamburgo, na Alemanha, onde o pintor mora desde que se mudou pra lá na década de 1950 e virou professor de artes plásticas. Mavignier conta como ajudou a doutora Nise da Silveira a escolher os pacientes no hospital que ele achava terem aptidão para pintura. Os quadros, descobertos depois pelos críticos de arte cariocas, foram expostos em vários museus no Brasil e no exterior. Olhar de Nise mostra pela primeira vez essas pinturas em tela grande, o que tem despertado grandes emoções em quem assiste ao filme.

 

Quem era Nise da Silveira

Nise da Silveira.Nise da Silveira morreu em 1997, aos 92 anos. Era  uma “alagoana miudinha, de olhos esbugalhados” na definição de Graciliano Ramos, com quem ficou presa na ditadura de Getúlio Vargas. Esta mulher, a primeira a se formar em medicina na Bahia, protagonizou feitos que ficarão para sempre na história da psiquiatria. Na década de 1950, ela trouxe um olhar novo aos pacientes de doenças mentais do hospital Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio, criando-lhes a oportunidade de manifestar suas angústias interiores através da arte e da terapia ocupacional.

O método da doutora Nise revelou grandes artistas como Emygdio de Barros, Raphael, Adelina Gomes, Fernando Diniz e outros comparados aos grandes nomes da pintura universal. Os quadros desses pacientes fazem parte de um acervo de mais de 350 mil obras do Museu da Imagem do Inconsciente, no Engenho de Dentro, criado por essa psiquiatra que se revelou ao mundo pela criatividade e humanismo no tratamento da esquizofrenia. 

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