Cultura

Filho de Renato Russo diz que os outros legiões tentam abafar memória de seu pai

Ele acusa os outros legiões de tentar abafar a memória do pai

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Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, acredita que há uma ação dos outros integrantes da banda para abafar a memória de Renato. "Tudo se encaixa", diz. Sobre projetos que envolvam seu pai, ele afirma ter "para a vida inteira". Há uma exposição com os pertences de Russo sendo preparada pelo MIS, para 2017, e uma série de livros com escritos do cantor, que já começou a sair pela editora Companhia das Letras. 

Há algum peso no fato de ser filho de Renato Russo?
Não, mas uma responsabilidade. Estou aqui por desejo de meu pai. E vou lutar pela manutenção da memória e da obra por meio da empresa que ele criou e deixou para mim. Essa obra tem de chegar ao conhecimento das pessoas. Um dia, cheguei para ele, estávamos sozinhos, e ele estava na escrivaninha. Eu tinha quatro ou cinco anos. Perguntei: "Pai, por que você escreve tanto?". E ele: "Porque eu quero que as novas gerações saibam o que acontece hoje". 

Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá anunciaram o lançamento da caixa com a música 1977 e mostraram um documento dizendo que a autoria da canção é dos três, Renato, Dado e Bonfá.
A autoria é do Renato, só do Renato. Desde o início desse projeto, desde quando fomos comunicados, não criamos objeção nenhuma. Era uma produção do Dado, o projeto gráfico era da mulher dele. Não criamos nenhuma objeção. A gente quer que projetos em torno da obra de Renato sejam divulgados. Agora, esse projeto foi cancelado por eles, e houve uma tentativa de apropriação indevida da música 1977, que é de autoria do Renato

Giuliano com o pai, Renato Russo.E o documento do Departamento de Censura da Polícia Federal, que mostra as três assinaturas, Renato, Dado e Bonfá?
Esse documento não tem validade jurídica nenhuma. É apenas um papel datilografado. Meu pai deixou uma documentação que comprova sua autoria. E esses documentos serão usados caso venha algum processo.

Quais documentos?
São documentos que provam a autoria com instruções do Renato, planejamentos da música. Tudo manuscrito. Mas houve essa tentativa de se abafar a memória do meu pai.

Será mesmo, tudo assim, maquiavelicamente?
Eu olho os fatos. Tenho todas as trocas de e-mail, a substituição de Renato na banda por outro vocalista, a turnê de agora, acho que tudo se encaixa.

Você está dizendo que seria uma tentativa de se enfraquecer a figura do Renato?
Existe uma tentativa de apropriação de direito autoral. Não é apenas com relação à música, você tem que ver que isso faz parte de uma ação maior. O próprio fato de eles cancelarem o CD da Legião 30 anos por causa dessa música é uma tentativa de prejudicar o trabalho de manutenção da memória.

Mas eles não estão também fazendo essa manutenção?
Eles estão fazendo a manutenção da memórias deles.

Você quer lançar um livro com letras e desenhos de Renato. Como está isso?
Esse é outro ponto, a proibição deste livro. Um livro de letras do Renato. Aí você analisa o movimento. A gente não está usando a música, mas a letra. Existe então uma espécie de boicote, de perseguição. É muito difícil não pensar nessas coisas. Qual o objetivo? Não entendo. Seria um livro com todo o processo de criação de Renato, manuscritos, método de trabalho.

Você diria que não interessa a Dado e Bonfá que saia esse conteúdo?
Não estou dizendo isso, mas é o que me parece.

Vocês nunca se sentaram à mesa para resolver essas questões?
Tentei fazer isso quando fizemos o projeto sinfônico (em 2013). Chamei os caras. Eu acreditava que ali seria uma ponte elegante para a gente poder começar a fazer um trabalho em conjunto, retomar todos esses anos perdidos, em que não se fez quase nada. Eles não me querem aqui, mas vou lutar para que a memória do meu pai seja preservada e que prolifere. 

Se as outras partes quiserem acertar os ponteiros, acha possível um tratado de paz antes de uma nova batalha na Justiça?
Meu espírito sempre foi de apaziguar, sempre estive aberto. Eu não uso a obra do Renato como moeda de troca, não sou eu quem faz isso.

(Júlio Maria/AE)

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