Candidatura à presidência

Fernando Giacobo: não sou governo e não sou oposição

O deputado tenta viabilizar sua candidatura ao comando da Casa

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Conhecido na Câmara dos Deputados por ter sido premiado 12 vezes na loteria em 1997, o atual segundo vice-presidente da Casa, Fernando Giacobo (PR-PR), viu na decisão do Supremo Tribunal Federal de afastar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e agora com a renúncia do peemedebista, uma oportunidade política valiosa. Segundo resume um aliado, "ele sabe a hora que o cavalo passa para pular em cima".

De perfil individualista, Giacobo desafiou a direção do partido e a bancada para chegar à segunda vice-presidência. Nesta semana, tenta viabilizar sua candidatura ao comando da Casa.

Na escolha para a vice, o PR havia feito uma eleição interna e Lúcio Vale (PR-PA) derrotou seu nome para a indicação oficial do partido. Inconformado, Giacobo lançou candidatura avulsa e, com ajuda de Cunha e da bancada ruralista – dos quais se aproximou no período em que presidiu a Comissão de Agricultura – venceu Vale na votação em plenário.

Como todos os antigos aliados de Cunha que decidiram disputar o mandato-tampão na presidência, Giacobo hoje afirma que nunca foi alinhado ao peemedebista. Durante a campanha de eleição para a Mesa Diretora, porém, distribuiu santinhos ao lado de Cunha. Na ocasião, o então líder da bancada Bernardo Santana (PR-MG) reclamou ao peemedebista do desconforto de ver seu liderado ao lado dele, uma vez que o partido havia decidido apoiar o petista Arlindo Chinaglia (PT-SP), então candidato do governo. Cunha respondeu que quem havia distribuído o material de campanha tinha sido o próprio Giacobo.

A relação com o PR, ao qual é filiado desde 2007, foi marcada por disputas, principalmente no Paraná. Ao tomar a direção estadual do partido, Giacobo quase foi expulso da sigla, mas conseguiu um salvo-conduto para mudar de partido sem correr o risco de a legenda pedir o mandato na Justiça Eleitoral. Não mudou porque, como havia conquistado o cargo na Mesa Diretora, se trocasse de legenda poderia perder a segunda vice-presidência.

Loteria. Enquanto Cunha presidia a Câmara com "mão de ferro", Giacobo – em seu quarto mandato de deputado federal – mantinha a fama de "festeiro", notívago e namorador. Quando questionado sobre a "sorte" na loteria, conta que era empresário e ganhou os R$ 124 mil em 1997 porque fez um bolão, comprou 2 mil bilhetes e, destes, 12 foram premiados.

Giacobo passou a ser notado no plenário quando o primeiro vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA), desistiu de presidir as sessões e ele assumiu o comando das votações. No primeiro momento, os líderes partidários contavam com a experiência do primeiro secretário Beto Mansur (PRB-SP) para presidir as sessões no lugar de Maranhão, mas Giacobo mandou um recado: na ausência de Cunha e Maranhão, ele presidiria as sessões.

Nestes dois meses de ausência de Cunha em plenário, Giacobo comandou a maior parte das poucas sessões realizadas e provou ao PR que é o candidato mais viável para suceder o peemedebista. Agora é considerado o candidato oficial da bancada, embora nomes como Milton Monti (PR-SP) ameacem sua candidatura.

Desconfiança

Mesmo com o apoio do partido, Giacobo terá de vencer a desconfiança do Palácio do Planalto. A derrota do governo na votação da urgência constitucional do projeto sobre a renegociação da dívida dos Estados com a União é atribuída a ele e ao líder do governo, André Moura (PSC-SE), que teriam decidido encerrar a sessão cedo demais, impedindo os governistas de chegar a tempo para votar e garantir vitória ao Executivo. Tudo o que o Planalto não quer é um presidente da Câmara que não saiba a hora de colocar projetos em votação. "Não sou governo, não sou oposição, sou presidente na hora em que me sento lá", respondeu ao jornal "O Estado de S. Paulo", negando ter atrapalhado o Planalto.

Nos corredores da Casa, há quem diga que a derrota foi um recado de Giacobo ao governo porque estaria insatisfeito com a demora na nomeação de seus indicados, principalmente na diretoria de Itaipu. O parlamentar nega. "Para Temer, a vitória de Giacobo é a pior coisa que pode acontecer. Ele vai tirar o couro", comentou um deputado. (AE)

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