GUERRA NO SERTÃO

Família denuncia proteção a assassinos de vereadores, em Alagoas

Filha de vereador assassinado denuncia perseguição em Alagoas

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A família Boiadeiro, de Batalha (AL), voltou a cobrar a exposição dos assassinos dos vereadores Tony Carlos Silva de Medeiros, o “Tony Pretinho” (PR), e Adelmo Rodrigues de Melo, o “Neguinho Boiadeiro” (PSD), depois de ser alvo de ação policial que derrubou o portão da casa da sogra do político, na madrugada dessa quinta-feira (04), em Arapiraca (AL).

Rival da família Dantas, os Boiadeiros voltaram a ameaçar deixar Alagoas “antes de serem mortos”. E questionam o motivo de o foco das investigações das mortes no Sertão de Alagoas estar voltado para uma caçada ao filho do vereador assassinado, José Márcio Cavalcante de Melo, o “Baixinho Boiadeiro”, procurado pela acusação de tentar vingar a morte do pai.

A Polícia Civil e a Secretaria da Segurança Pública de Alagoas não dão detalhes sobre os rumos da investigação, nem explicam se o motivo de derrubarem o portão da casa era mesmo uma caçada a Baixinho Boiadeiro, que após ver o pai assassinado, trocou tiros com José Emílio Dantas, este que é filho de um ex-prefeito assassinado em 1999, e sobrinho do presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Luiz Dantas (PMDB).

Neguinho Boiadeiro foi morto em 9 de novembro (Fotos de WhatsApp)A filha de Neguinho Boiadeiro, Maria da Conceição Cavalcante de Melo, a “Bahia Boiadeiro”, denunciou a truculência da ação policial com homens encapuzados, na casa em que dormia com a avó e crianças, em Arapiraca. Para a família Boiadeiro, as mortes dos dois vereadores em 36 dias estão interligadas, e toda a investigação está girando em torno da suposta proteção que o governador Renan Filho (PMDB) estaria dando a integrantes da família Dantas, aliados políticos dos Calheiros.

“Além de ter perdido meu pai, estamos desamparados no Estado. Não tem ninguém a favor da gente aqui. E a única saída e solução para nossa família é ir embora, enquanto estamos vivos. Porque, hoje, vi a morte na minha frente. Bastante complicado, porque parece até que somos os bandidos, não somos nem as vítimas. Meu irmão não está se escondendo da Justiça. Ele está reservado, por conta de uma ação dessa. Porque, se ele estivesse aqui, tinha morrido. Ele aguarda uma forma segura de se apresentar ao Estado”, disse Bahia Boiadeiro, em entrevista a Walter Gomes, do Canal TV Oops, de Arapiraca.

Ela relata não ter ouvido os policiais batendo à porta, mas somente a partir da batida da viatura, dando ré e arrebentando o portão. “Tenho certeza de que eles vieram atrás de meu irmão. E estavam sem o mandado de busca e apreensão”, disse Bahia Boiadeiro, em entrevista veiculada na TV Pajuçara.

Os policiais recolheram o HD da câmera e o aparelho celular que pertencem a Baixinho Boiadeiro. Bahia Boiadeiro disse que só teve acesso ao mandado ao chegar na delegacia.

‘VIÉS POLÍTICO’

Tony Pretinho articulava oposição em Bata (Foto: Gazeta de Alagoas)Bahia Boiadeiro afirma ainda que os crimes contra os vereadores Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho teriam relação com a articulação do grupo político de ambos para lançar candidatura a prefeito, após apoiar um deputado que faria oposição ao filho do presidente da Assembleia, Paulo Dantas, que é esposo da prefeita de Batalha, Marina Dantas.

“O Tony era amigo de meu pai e compadre de meu irmão [Baixinho Boiadeiro]. E ele, Tony, meu pai, Bruno Batalha e Lucinho [vereadores de Batalha] estavam formando um grupo para apoiar um deputado federal só, na eleição. E o primeiro-cavalheiro é consciente de que Tony não iria votar nele para deputado estadual. O candidato estadual de Tony era outro. Digo isso porque vi reuniões em minha casa com esses quatro vereadores”, afirmou a filha de Neguinho Boiadeiro.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil disse ao Diário do Poder que a operação de ontem, na casa de integrante da família Boiadeiro, em Arapiraca, foi para cumprir mandado judicial, e faz parte do procedimento investigativo. “Mas a PC não falará nada por enquanto para não atrapalhar o andamento das investigações”, declarou a Polícia Civil.

O presidente da Assembleia, Luiz Dantas, disse em discurso da tribuna do Legislativo, em dezembro, que não há mais ninguém interessado na elucidação desses fatos do que ele e sua família. "Quem sujou as mãos de sangue e cometeu seus malfeitos que pague pelas regras estabelecidas na legislação”, afirmou.

Em 10 de novembro de 2017, um dia após o primeiro vereador ser assassinado, o governador Renan Filho declarou que as forças de segurança do Estado atuam em conjunto com as instituições, para punir os acusados e evitar brigas na cidade que ainda vive clima de medo, sob ocupação das polícias, que não evitaram a morte do segundo vereador, em 15 de dezembro.

PM resgatou Zé Emílio Dantas após ser alvo de Baixinho BoiadeiroHISTÓRICO SANGRENTO

Sobrevivente do atentado da última quinta-feira, atribuído à família Boiadeiro, Zé Emílio Dantas é órfão do ex-prefeito Zé Miguel, assassinado em 1999, por “Laércio Boiadeiro”, que foi condenado a 35 anos de prisão.

Contando com o duplo homicídio do prefeito Zé Miguel e de sua esposa Matilde Toscano, em 1999, e com o assassinato do vereador Neguinho Boiadeiro, na quinta, as famílias de Batalha já perderam um total de seis pessoas.

Em 2006 foram assassinados Samuel Theomar Bezerra Cavalcante, irmão da prefeita Marina Dantas; e Edvaldo Joaquim de Matos, segurança de Paulo Dantas.

Em 2016, Emanoel Boiadeiro, que é sobrinho do vereador Neguinho Boiadeiro, foi morto em operação policial comandada pela Delegacia Especial de Investigações e Capturas (Deic). Emanoel era acusado de matar Samuel e Edvaldo.

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