Ex-deputado confessa ter recebido dinheiro do doleiro Alberto Youssef
Francisco de Souza disse que dinheiro era de campanhas do PT em 2012
O ex-deputado estadual Francisco Carlos de Souza, que construiu um império de gráficas em torno de serviços prestados ao Partido dos Trabalhadores, confessou à Polícia Federal ter recebido valores em espécie do doleiro Alberto Youssef relativos a campanhas petistas nas eleições de 2012, não registrados pela Justiça Eleitoral. Ele negou que os repasses em caixa dois tenham sido para a campanha do ex-prefeito Fernando Haddad, indiciado pela PF, mas envolve o ex-ministro e atual prefeito de Araraquara, Edinho Silva, em acertos para outros candidatos petistas naquele mesmo ano.
Ao lado de Haddad, do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e outros quatro investigados, o ex-líder sindical foi indiciado no âmbito da Operação Cifra Oculta, que investiga repasses da UTC Engenharia para a quitação de dívidas de R$ 2,6 milhões referente à campanha de 2012. A PF atribuiu ao ex-prefeito o crime de falsidade ideológica, a Vaccari lavagem de dinheiro e aos demais investigados lavagem e associação criminosa.
Segundo o ex-presidente da construtora Ricardo Pessoa, o doleiro Alberto Youssef operacionalizou os repasses destinados às gráficas responsáveis pela campanha – todas de Chico. Ricardo Pessoa alega que recebeu o pedido de João Vaccari Neto, que intermediou os contatos com o ex-parlamentar.
"As transferências para a conta da LWC oriundas das empresas Construtoral Rigidez, Phisical, bem como de um laboratório de Santa Catarina, cujo nome não se recordou, no valor de R$ 800 mil, tiveram essa finalidade, ou seja, promover a quitação de dívidas da campanha eleitoral de 2012", narrou.
A PF afirma que a quebra de sigilo bancário do empresário confirma as transferências. "Confessou Francisco, também, que em relação a esses serviços não houve prestação de contas à Justiça Eleitoral, bem como que os depósitos em espécie feitos na conta das empresas LWC e Cândido & Oliveira por Marcelo Miranda Cândido, no ano de 2013, 'possivelmente referem-se aos pagamentos em espécie que lhe foram feitos por Alberto Youssef'".
No entanto, em seu depoimento, o ex-deputado disse que a "dívida de campanha paga por meio das empresas de fachada de Alberto Youssef, bem como por meio de dinheiro em espécie obtido junto a esse operador financeiro, não era da campanha de Fernando Haddad, mas sim do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT)".
"Tal dívida, segundo Francisco, seria relativa a serviços prestados a diversos políticos, concorrentes aos cargos de prefeito e vereador, contratados pelo Diretório Estadual do PT. Disse, então, que as tratativas da contratação desses serviços para o Diretório Estadual do PT deu-se com o presidente estadual do partido à época, Edinho Silva. Afirmou, então, haver emitido uma nota fiscal 'a posteriori', no valor de R$ 2.600.000,00 (dois milhões e seiscentos mil reais), contra o mencionado diretório", consta no relatório.
No âmbito do inquérito, Edinho Silva foi ouvido e "negou veementemente a contratação de tais serviços, o estabelecimento de tratativas com Francisco, bem como a emissão da aludida nota fiscal". "Disse, ainda, ser impossível que o Diretório Estadual fique com o encargo de organização e elaboração de materiais para o Diretório Municipal", relata a PF.
De acordo com o relatório, o ex-deputado nunca apresentou os nomes dos candidatos para quem prestou serviços utilizando-se de caixa dois.
Defesa
O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, se manifestou por meio de nota, enviada por sua assessoria de imprensa. "Edinho já afirmou em depoimento à Polícia Federal que desconhece tal assunto e não entende o envolvimento de seu nome nessa questão, totalmente alheia à sua atribuição".
Por meio de sua assessoria, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) negou enfaticamente envolvimento em irregularidades na campanha de 2012. (AE)