Bolivarianismo

Desunião da oposição a Maduro é invenção do Planalto, diz advogado

Advogado de presos políticos critica versão espalhada no Brasil

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O advogado Fernando Tibúrcio, que atuou no caso do senador boliviano Roger Molina, que ficou asilado na embaixada brasileira na Bolívia, trabalha agora na libertação de outro líder político oposicionista, mas na Venezuela. Leopoldo López está preso há mais de um ano e sua mulher, Lilian Tintori, veio ao Brasil para participar de audiências com o objetivo de sensibilizar as autoridades brasileiras a deixarem a inércia e agirem frente aos desrespeito aos Direitos Humanos no país vizinho.

Tibúrcio, entretanto, estranhou a versão que começou a ser espalhada no Brasil de que a oposição ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, está desunida. A principal alegação seria que Mitzy Ledezma, esposa de outro opositor, Antonio Ledezma, teria vindo ao Brasil acompanhando Lilian Tintori para promover o marido. A versão foi veementemente rechaçada pelo advogado, que acredita ter sido uma estratégia precipitada do Palácio do Planalto. Confira abaixo a nota na íntegra.

Tem circulado em alguns poucos veículos da imprensa a versão de que a oposição venezuelana estaria desunida e que essa desunião se fez patente durante a visita ao Brasil de Lilian Tintori e Mitzy Ledezma, esposas dos líderes políticos venezuelanos presos Leopoldo López e Antonio Ledezma.

Esclareço que a tal versão ecoou como parte de uma estratégia precipitada do Governo brasileiro – que mais tarde sensatamente recuou – de diminuir a importância da visita delas ao Brasil. O tema da desunião foi primeiramente levantado na Comissão de Relações Exteriores do Senado pelo senador governista Lindbergh Farias e mereceu uma enfática resposta negativa da parte de Lilian e Mitzy.

Ao contrário do que setores alinhados ideologicamente com a ditadura venezuelana quiseram fazer parecer, a visita delas ao Brasil foi tremendamente bem sucedida. Além de Lilian e Mitzy, veio ao país a mãe de Geraldine Moreno, uma garota de 23 anos que foi brutalmente assassinada pelas forças policiais durante uma manifestação contra o Governo de Nicolás Maduro.

Foram recebidas na terça no apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e no Palácio dos Bandeirantes pelo governador Geraldo Alckmin. A propósito, Fernando Henrique se comprometeu a ver de perto a situação na Venezuela nos próximos dias, em viagem que fará ao país acompanhado do ex-presidente do Governo da Espanha Felipe González. Lilian ficou em São Paulo na quarta para a gravação de um dos mais importantes programas de entrevistas da televisão brasileira. Já Mitzy viajou a Brasília, onde foi recebida pelo senador José Serra e pelo ex-presidente José Sarney.

Na quinta pela manhã as duas, juntamente com Rosa Orozco, a mãe da jovem Geraldine, participaram de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado, a convite do senador Aloysio Nunes. O senador Aécio Neves compôs a mesa. A sessão foi bastante prestigiada, com o plenário lotado e contando com a presença de inúmeros jornalistas. Inclusive senadores da base de apoio ao Governo manifestaram solidariedade às mulheres venezuelanas. Foi particularmente comovente ver Rosa mostrando a imagem da filha única com o rosto destroçado. Essa fotografia, que retrata a Venezuela real – e não a Venezuela disfarçada pelo comprometimento ideológico – deixou sem argumentos os parlamentares que foram escalados com a difícil e triste missão de sustentar que a nossa vizinha é uma Democracia.

Terminada a audiência pública, foram em seguida recebidas pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Almoçaram com o ministro Gilmar Mendes, no Supremo Tribunal Federal e, na parte da tarde, tiveram as suas presenças anunciadas em Plenário pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. No final da tarde quem as recebeu foi o presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho.

Durante a visita delas ao Brasil, o Senado aprovou voto de censura contra o regime venezuelano.

O Palácio do Planalto apoiou a infeliz iniciativa de determinar ao nosso chanceler que recebesse na mesma quinta-feira um alto funcionário do Governo venezuelano. O caricato senhor Tarek Saab, que ostenta os também caricatos títulos de Defensor do Povo da Venezuela e Presidente do Conselho Moral Republicano, foi ouvido, nesse mesmo dia, na Comissão de Direitos Humanos do Senado. A sessão teve a presença de pouquíssimos parlamentares e foi reconhecida pelo senador Randolfe Rodrigues, simpático à "Revolução Bolivariana" de Chávez-Maduro, como um erro estratégico.

Os apoios angariados durante a agenda no Brasil foram determinantes para que o Ministro das Relações Exteriores divulgasse uma nota informando que o Governo brasileiro havia nomeado um interlocutor, o embaixador Clemente Baena Soares, para receber as mulheres venezuelanas. Foi a primeira vez nos governos de Lula e Dilma Rousseff que uma linha clara de diálogo foi aberta com a oposição venezuelana. Na quinta-feira, o dia só terminou depois das dez da noite, quando foram recebidas no Palácio do Itamaraty. Um passo importante para que num futuro breve o Governo brasileiro se posicione contundentemente contra o estado de violação sistemática de direitos humanos na Venezuela.

Eu particularmente tive a oportunidade de enfatizar ao embaixador Baena Soares que o empenho das aguerridas mulheres venezuelanas para serem recebidas pela presidente Dilma não cessará. O Brasil é a única grande Democracia no mundo cujo governo ainda não designou um integrante do primeiro escalão para recebê-las. Elas mantêm viva a confiança de que a nossa presidente, com a sensibilidade de mãe e de uma mulher que viveu o pior da ditadura, se disporá a ouví-las.

Fernando Tibúrcio Peña

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