Dados fornecidos pela Suíça devem ficar de fora da Lava Jato
Novas descobertas não devem chegar ao Brasil a tempo para serem incluídas nas denúncias que devem ser apresentadas ao Judiciário em dezembro
Os extratos bancários das contas suíças de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, poderão abrir novas frentes de investigação no escândalo da corrupção no País.
As novas descobertas, no entanto, não devem chegar ao Brasil a tempo para serem incluídas nos primeiras denúncias que devem ser apresentadas ao Judiciário em dezembro. As autoridades ainda precisam solicitar oficialmente alguns documentos e encaminhá-los à Justiça brasileira.
O Ministério Público pretende apresentar, até a segunda semana de dezembro, denúncia contra Paulo Roberto Costa e 11 executivos de empreiteiras suspeitos de participarem de esquema para desviar recursos da Petrobrás, segundo investigação da Polícia Federal. O juiz federal Sérgio Moro tem até 20 de dezembro, quando começa o recesso do Poder Judiciário, para decidir se aceita e torna réus os acusados ou se rejeita a peça.
Nesta sexta, 28, os três procuradores brasileiros que passaram a semana consultando documentos da investigação do Ministério Público da Suíça sobre o caso retornam ao Brasil repletos de novos materiais. As informações revelaram nomes de empresas e pessoas que os procuradores brasileiros nem sequer conheciam antes de aterrissar em Lausanne. Os documentos vão permitir que o Ministério Público brasileiro conclua as investigações e acelere o processo para abrir a fase de instrução contra os principais suspeitos.
Suíça. No início do ano, os suíços iniciaram sua própria investigação e identificaram como as contas encontradas tinham uma relação direta com refinarias em Pernambuco e nos EUA. Costa poderá responder a um processo de lavagem de dinheiro na Suíça.
Cinco contas em nome do ex-executivo da empresa foram encontradas com um total de US$ 26 milhões. Os recursos voltarão ao Brasil para uma conta que será administrada de forma conjunta pelo Ministério Público e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas é o que indicam os extratos e nomes de quem fez os depósitos que mais chama a atenção do grupo de brasileiros. O conteúdo dos extratos, quem alimentou as contas na Suíça e quem recebeu o dinheiro estão mantidos sob total sigilo enquanto a delegação brasileira estiver em Lausanne. O que os suíços fizeram, porém, foi traçar a origem e o percurso do dinheiro, o que revelou um caminho e envolvidos até agora desconhecidos no Brasil. Na Suíça, Costa não é o único investigado e a apuração do MP local avalia toda a rede de pagamentos.
Entre os nomes buscados na investigação estão Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, o suposto operador do PMDB, além de empresas e intermediários.
Os documentos foram liberados pelos bancos suíços por exigência da Justiça, que acumula verdadeiro dossiê sobre como funciona o pagamento de propinas no Brasil. Algumas das evidências apontam que as contas e o esquema já funcionam há anos nos bancos suíços, principalmente em Genebra.
Essa promete não ser a última visita do grupo de procuradores brasileiros – Orlando Martello, Deltan Dallagnol e Eduardo Pelella. Visivelmente entusiasmados com as descobertas, os procuradores também fornecerão informações para o processo que corre na Suíça e devem retornar à Lausanne nos próximos meses. (Jamil Chade/AE)