Testes de estresse

BC: sistema financeiro permaneceu estável, com nível de capital elevado

Testes de estresse mostraram elevada capacidade do sistema, diz diretor

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O diretor de Fiscalização do Banco Central, Anthero Meirelles, disse nesta quinta-feira, 15, ao comentar o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) publicado hoje que o sistema financeiro se manteve saudável e solvente no primeiro semestre deste ano, com um nível de capital elevado. Ele comentou que os testes de estresse mostraram elevada capacidade do sistema de suportar choques. “A própria retração do crédito implicou em um aumento de liquidez do sistema”, avaliou.

Anthero Meirelles apontou que instituições aumentaram suas provisões acompanhando o movimento de alta na inadimplência, mas buscaram compensar aumento de provisões com redução de custos e na busca por outras fontes de receitas. “Há cautela na concessão de crédito e as reestruturações de dívidas continuam elevadas”, acrescentou.

Ele lembrou que o cenário financeiro global permaneceu desafiador no primeiro semestre, citando a manutenção de taxas e juros negativas em diversos países. “O cenário macro no Brasil também permaneceu bastante desafiador, com retração da atividade. Houve maior pressão sobre a qualidade do crédito e maior crescimento da inadimplência, embora tenha havido certa retração no fim do primeiro semestre”, completou.

Inadimplência

O diretor de Fiscalização do Banco Central comentou que o aumento da inadimplência no primeiro semestre foi compensado pelos bancos com um significativo aumento de provisões. “Mesmo se a gente somar a inadimplência às reestruturações de dívidas, esse índice de cobertura continua elevado, em 1,4%”, detalhou.

Segundo o diretor, o sistema tem se movimentado para aumentar o seu colchão de segurança diante do atual ambiente econômico. “O aumento da provisão acompanhou esse aumento do risco e a deterioração da qualidade do crédito”, acrescentou.

Ele lembrou que a inadimplência mostrou crescimento durante toda a primeira metade do ano. “Houve uma pequena queda na inadimplência no fim do semestre, mas ainda não temos indicadores para acreditar em uma reversão da inadimplência”, completou, citando um movimento de renegociação de dívidas ao fim do semestre.

Ao comentar o REF, Anthero pontuou ainda que houve continuidade na retração do crédito no País no primeiro semestre, com queda nominal 2,8% no primeiro semestre em relação a dezembro.

Rentabilidade

O diretor de Fiscalização do Banco Centra disse que, ainda que o sistema financeiro nacional continue dando lucro, houve queda na rentabilidade em decorrência do aumento de provisões no primeiro semestre de 2016. “Os esforços para reduzir despesas e aumentar receitas não foram suficientes para compensar essa redução no lucro”, completou.

O REF mostrou que aumento de provisões no período decorreu do contínuo aumento da inadimplência. Embora haja um movimento de reestruturações de dívidas, o diretor apontou que é preciso esperar um “tempo de cura” para saber exatamente qual será o sucesso dessas renegociações. “Do crédito reestruturado, geralmente cerca de 30% volta a inadimplir”, comentou.

Lava Jato

Anthero Meirelles afirmou que os impactos da Operação Lava Jato no Sistema Financeiro Nacional continuam sendo uma preocupação para a autoridade monetária. Segundo ele, o BC segue acompanhando não apenas as empresas envolvidas nas investigações, como também suas cadeias de fornecedores e empregados. “Fazemos simulações em função da exposição do sistema a esses grupos”, completou.

O diretor apontou ainda que alguns dos riscos apontados pelo BC em Relatórios de Estabilidade Financeira (REF) publicados anteriormente se materializaram, com algumas empresas entrando em processos de recuperação judicial. “Parte do aumento das provisões dos bancos no primeiro semestre deste ano decorre do aumento do risco dessas empresas”, confirmou.

Ele disse, no entanto, não ter informação sobre o peso das empresas investigadas pela Lava Jato no aumento das provisões dos bancos, mas avaliou que empresas mais frágeis têm impacto maior nesse movimento.

Mais cedo, o diretor havia detalhado que a carteira de crédito das instituições financeiras vem perdendo qualidade nos últimos semestre. Ele apontou, sobretudo, o aumento significativo do crédito de classificação entre E e H, que são as classificações de maior risco.

“Por isso, o nível de provisões do bancos tem acompanhado não apenas o aumento da inadimplência, mas também essa piora de classificação de parte das carteiras”, completou.

O diretor explicou que os bancos fazem essa classificação ao conceder um financiamento e ao longo da duração desse crédito. “Na largada os bancos já constituem uma provisão em função dessa análise, mas se uma determinada operação tiver atraso de pagamento, mesmo se o risco de perda for baixo, é necessário aumentar novamente o nível de provisão”, explicou.

Fed

Anthero Meirelles disse que um eventual aumento de juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ou a possibilidade de problemas em bancos europeus trazem riscos pequenos para o Sistema Financeiro Nacional (SFN). Segundo ele, as instituições que operam no País são pouco dependentes de linhas de financiamento externo, já que captam principalmente no mercado interno.

“Boa parte das captações feitas externamente são para operações lá fora, ou são para financiar produção (ACC). Mas mudanças no cenário externo podem refletir no ambiente doméstico com aumento da volatilidade e da aversão ao risco. Portanto, é um impacto indireto, e não direto”, respondeu.

Novamente questionado sobre os impactos da Operação Lava Jato no Sistema Financeiro Nacional, Meirelles voltou a dizer que os riscos decorrentes das investigações na capacidade de empresas envolvidas honrarem seus compromissos financeiros podem ser absorvidos pelos bancos. “A Lava Jato é um risco que o sistema tem capacidade de absorver”, concluiu. (AE)

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