Almada: Lobista escolhia no PT quem receberia 'doações'
Dono da Engevix relatou encontro de Pascowitch com Vaccari
O empresário Gérson de Mello Almada, um dos sócios da Engevix Engenharia, declarou à Polícia Federal que fez doações ‘oficiais’ a partidos políticos ou candidatos a pedido do lobista Milton Pascowitch, preso na semana passada na 13ª fase da Operação Lava Jato.
“Políticos ou candidatos de várias esferas compareciam à empresa a fim de pedir recursos para campanha, sendo a maior parte desses pleitos negada”, registrou Almada, em depoimento no dia 24 de março à Polícia Federal. “No caso de pleitos oriundos do PT, a situação era encaminhada a pessoa de Milton Pascowitch a quem competia examinar se tal candidato deveria ou não receber algum auxílio financeiro.”
Pascowitch é um dos 11 operadores de propina acusados de ligação com a Diretoria de Serviços da Petrobrás, no esquema de corrupção e cartel desbaratado pela Lava Jato. Ele seria um dos elos do então diretor, Renato Duque, braço do PT no esquema que arrecadava para partidos e políticos de 1% a 3% nos contratos de obras de refinarias da estatal, a partir de 2004.
Dono da Jamp Engenheiros Associados – empresa usada para intermediar contratos do cartel na estatal e receber propina, segundo depoimentos -, Pascowitch é o elo mais visível que a força-tarefa da Lava Jato tem de um membro de alto cargo no PT com o esquema. A Jamp e a Engevix pagaram entre 2008 e 2012 um total de R$ 2,6 milhões para o ex-ministro José Dirceu, via empresa JD Assessoria e Consultoria.
No depoimento prestado à PF no dia 24 de março e tornado público na última semana, o sócio da Engevix afirmou que certa vez participou de uma reunião com Pascowitch e o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que também está preso, em Curitiba. Ele será transferido da Custódia da PF para o Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na manhã desta terça-feira, 26.
Em 2014, a Engenvix Engenharia doou ao todo R$ 3 milhões a candidatos. Desse montante, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registra que R$ 1,5 milhão foram para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Outros R$ 4,6 milhões foram doados via diretórios e comitês, sendo que o Diretório Nacional do PT recebeu R$ 3,6 milhões.
Posteriormente, Almada diz que “papel semelhante” ao executado por Pascowitch em relação à distribuição de recursos da empreiteira para políticos, via doações, passou a ser desempenhado por Alberto Youssef – o doleiro, peça central da Lava Jato.
“Entretanto de forma diferente, eis que o mesmo procurou a Engevix com um discurso de que evitaria que a empresa tivesse problemas perante a Diretoria de Abastecimento, então ocupada por Paulo Roberto Costa”, afirmou Almada.
Costa e Youssef eram responsáveis pela propina arrecadada pelo PP, no esquema de indicações políticas na Petrobrás. O PMDB era o terceiro partido que controlava o esquema, à frente da Diretoria de Internacional.
No encontro que teve com Pascowitch e o ex-tesoureiro do PT, segundo Almada, Vaccari teria dito que ‘apreciava muito o trabalho da Engevix’. Naquela oportunidade, disse o empresário, Vaccari não solicitou “nenhum valor, embora posteriormente Pascowitch o procurou para negociar doações oficiais ao PT”.
Almada disse ainda que “não era compelido a realizar essas doações, as quais eram destinadas a outros partidos também”. Ele disse que entendia que deveria fazer as doações “por ser uma prática do sistema eleitoral brasileiro”.
Propina. Almada disse nunca ter tomado conhecimento de pagamentos feitos por Pascowitch a funcionário da Petrobrás ou a qualquer agente publico. “Embora presumisse que isso pudesse estar ocorrendo.” O que ele chama de “comissão” referente a “lobby”, é para a força-tarefa da Lava Jato “propina”.
“O serviço de Milton Pascowitch proporcionaria a Engevix ser convidada para obras de seu interesse junto a Petrobrás, a obtenção de informações e agilização de aditivos em relação a estatal e o acompanhamento de obras”, contou Almada.
O sócio da Engevix explicou à PF que “a remuneração de Milton Pascowitch era feito por meio de contratos de lobby com a empresa Jamp, na ordem de 0,5% a 1% dos contratos junto a Petrobrás”.
Amigo de golfe. O sócio da Engevix afirmou que conheceu Pascowitch por volta de 2003 ou 2004 – após esse fazer o gerenciamento e a supervisão de obras da empreiteira em escolas e casas populares. “Perguntou se não gostaria de incrementar o relacionamento da Engevix com a Petrobrás”, contou Almada.
Foi quando Milton teria dito a ele que “essa aproximação se daria por meio da Diretoria de Serviços, na época ocupada por Renato Duque”. Segundo Pascowitch teria afirmado, a amizade foi feita através de Pedro Barusco – ex-gerente de Engenharia e então braço direito de Duque -, com quem ele “jogava golfe”.
Barusco, delator da Lava Jato, entregou dados sobre duas contas em nome de empresas offshore a MJP International Group e a Farallon Investing Ltd.) que teriam sido usadas por Pascowitch para pagamentos de propina na Diretoria de Serviços da Petrobrás, que também teriam abastecido o PT, via Vaccari.
“Barusco revelou que Milton Pascowitch, para operacionalizar o fluxo das vantagens indevidas, efetuou transferências a partir da offshore MJP Internacional Group, no Banco UBS AG, no Estados Unidos para a conta da offshore Aquarius Partners Inc, mantida por Barusco no Banco Pictet & Cie”, informa a força-tarefa da Lava Jato. “Igualmente, efetuou depósitos por intermédio de contas da offshore Farallon Investing Ltd. para a offshore Natiras Investiments Inc., de Barusco.”
Elos do PT. A força-tarefa da Lava Jato vai triar o caminho desse dinheiro para buscar no detalhamento dessas operações bancárias em contas no exterior e em paraísos fiscais para tentar chegar a mais documentos do possível envolvimento de medalhões do PT, como Dirceu, no esquema de corrupção da Petrobrás.
Só a Jamp pagou R$ 1,45 milhão para a assessoria de Dirceu, entre 2011 e 2012. A maior parte foi no segundo ano, quando estava sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como um dos mentores do mensalão. Para o juiz da Lava Jato, o fato coloca os serviços prestados sob suspeita. Dirceu e a JD são alvos de inquérito. A suspeita é que as consultorias foram forma de ocultar recebimento de propina.
O advogado criminal Theo Dias, que defende Milton Pascowitch, sustenta que não há motivos para a prisão preventiva do cliente.
“Ele (Pascowitch) já prestou depoimento recentemente, houve busca e apreensão na residência dele, houve até sua condução coercitiva, em fevereiro. Desde então, o cenário não mudou. Ele continua no mesmo endereço, suas atividades todas estão paradas.”
O advogado assinala. “Ainda que o Ministério Público Federal entenda que tenha provas de envolvimento de Pascowitch em atividades ilícitas isso não é suficiente para a prisão preventiva. Não havia risco de fuga, ameaça à testemunha. O que me surpreende é um decreto de prisão sem nada que autorize tal medida, a não ser a metodologia de prender para forçar as pessoas a falarem.”
O ex-diretor Renato Duque, preso em Curitiba, negou o envolvimento em pagamento de propinas. Tanto sua atuação na Petrobrás, como posteriormente na empresa própria de consultoria, foram dentro da legalidade.
Procurado, o PT não se pronunciou. O partido tem reiterado que só recebeu doações legais e declaradas. (AE)