Governo do DF

‘Vou governar para quem precisa’, afirma Ibaneis Rocha, novo governador do DF

Ibaneis Rocha escreve artigo exclusivo para o 'Diário do Poder'

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Foi ainda no início da campanha eleitoral, quando todos os números e oráculos me eram desfavoráveis, que sob a lona de uma barraca de uma feira livre resolvi não desistir e seguir em frente com o meu propósito na política. Ali, uma mulher me contou, com os olhos marejados, o drama da irmã que um dia antes, depois de perambular de um hospital a outro, perdeu o filho por falta de atendimento. Revoltada, ela disse ter desistido da fé na política e nos políticos.

Como advogado – e depois de ter vivido intensamente a experiência de presidir a Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal – meu pendor para a indignação diante de qualquer injustiça naquele momento se elevou à máxima potência. Some-se a isso a minha natural inclinação por gente e não conseguir ficar indiferente diante do destino humano. De repente lembrei-me do que me fez lançar na política sem rótulos e na contramão da forma da política tradicional.

Sempre acreditei que apesar de alguns estrangulamentos e hesitações, nosso País vinha registrando avanços, com as instituições funcionando e o conceito de Estado democrático de Direito levado à prática. Mas sabia que para as pessoas se reconhecerem como cidadãs numa sociedade como a nossa é preciso que lhes sejam assegurados alguns direitos fundamentais, como, por exemplo, de acesso aos serviços de saúde; de não sofrerem nenhum tipo de discriminação; de terem domínio sobre seu corpo; de acesso a um salário condizente para promover a própria vida; de receber educação; um lar para chamar de seu; além de expressar-se livremente para lutar por seus valores.

Ibaneis Rocha, governador eleito e diplomado do Distrito Federal. (Foto: Renato Alves)

Nos últimos anos, contudo, o que se viu foi um véu de incertezas baixar sobre o Distrito Federal em nome de uma crise. Em tempos de crise, é perfeitamente justificável buscar dividir o peso da carga com a sociedade, mas, convenhamos, exigir sacrifício das classes menos favorecidas nunca me pareceu justo. Afinal, de que crise estamos falando?

Para o povo que vive dando um duro danado, como a mulher na barraca, crise é falta de hospital, de casa, de comida na mesa, de educação, segurança e de lazer; crise é ver a violência banalizada (somente este ano, 27 mulheres foram assassinadas no DF); é a angústia do desemprego; é o rebaixamento do nível de vida. É também ver a política incapaz de promover mudanças. Disso vem a descrença.

Poderia acrescentar a esse rol a frustração, que atinge todas as classes sociais, de ver as leis não sendo cumpridas, causando um clima de insegurança jurídica a que me bati durante toda a campanha. É preciso repisar que apesar do ceticismo que a gente costuma ouvir com relação à Justiça, a lei é instrumento indispensável da cidadania, que precisa utilizar-se da melhor forma possível para assegurar o desenvolvimento pacífico necessário ao progresso.

Por isto escolhi de que lado ficar para enfrentar a crise. Aliás, gosto de lembrar que foi dessa forma, contra todas as previsões e em meio a turbulências, que Juscelino Kubitscheck cumpriu a façanha de erguer Brasília no meio do nada e transferir a capital do País para o cerrado.

O contato com a população pobre é uma experiência que traz muitos ensinamentos. Você é capaz de fazer um programa de governo inteiro e tirar lições importantes numa rápida conversa. Hoje, mais do que nunca, estou convencido que os avanços obtidos em várias áreas sociais se devem mais à força reivindicadora das pessoas anônimas, do povo, do que à consciência das chamadas elites. A ideia de pátria engendrada pelos mais pobres está sempre um passo adiante, e não surpreende que eles estejam sempre à frente da História.

Por isso, nas minhas caminhadas busquei forças, primeiro, em Deus; depois, nessa população cuja alegria não me canso de ver. Alguns podem até tirar disso conclusões de ordem antropológica e cultural, mas prefiro a mais simples: é que, como povo, temos uma predisposição para a vida solidária. Só assim, em meio aos escombros, podemos distinguir esperança. A esperança que me convidou a trabalhar para que Brasília entre na rota dos horizontes do progresso.

Represento a síntese que faz de Brasília a capital de todos os brasileiros: descendente de nordestinos, de origem humilde, aprendi a superar barreiras, reconhecer meus próprios erros para aprender com eles e fazer da vida um desafio pelo qual se vale a pena lutar. Sou a primeira geração desta cidade a receber do povo a missão de governar o Distrito Federal, cargo que assumo com humildade e com sentimento de convergência para que possamos escrever, juntos, uma história de avanço.

Da palavra à ação, da ação à execução e da execução à consolidação das ideias pelas quais lutamos. Pois o mínimo que se espera é que o Estado trate o cidadão com respeito, com as responsabilidades e os direitos de ambas as partes. É o que o DF pede e reclama neste momento. Sem nos esquecermos que a atividade de serviço público emerge como um instrumento de satisfação direta e imediata dos direitos fundamentais, notadamente a dignidade da pessoa humana, nos termos do art. 1º, inciso III da Constituição Federal.

Pudesse, voltaria à barraca na expectativa de reencontrar a mulher e pedir não aquele voto destinado à urna, mas sim o voto de fé no trabalho de quem realmente quer governar para os mais necessitados. Os ricos só precisam que o governo não os atrapalhe. Porque, ao decidir entrar na política estou, no fundo, assumindo as minhas velhas causas e já ando de couro grosso. Se tivesse ficado como mero expectador numa poltrona qualquer, seria um eterno frustrado, sem falar no desperdício que isso representa.

Renovo, portanto, o apelo à crença no poder transformador da política e o estendo à população em geral, sobretudo no momento em que ingressamos em um Ano Novo. Um ano de esperança. Não podemos, em nenhuma hipótese, perder essa oportunidade que a história nos oferece.

Estamos no despertar de uma nova aurora.

Ibaneis Rocha (MDB) assume nesta terça-feira, 1º de janeiro de 2019, o Governo do Distrito Federal.

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