Retaliação

Receita acusada de retaliar ministro do TCU que pediu fim de gratificação para auditores

Bruno Dantas atribui perseguição a "meia duzia de marginais" instalados "no esgoto da Receita"

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Bruno Dantas, ministro do Tribunal de Contas da União. Foto: TCU
A notícia do relacionamento com Dallagnol caiu como uma luva para interessados em “queimar” Bruno Dantas na disputa para o STF. (Foto: TCU)

Três dias depois de se posicionar favoravelmente ao cobrança corte de bônus dos servidores da Receita Federal, o ministro Bruno Dantas, do TCU (Tribunal de Contas da União), foi intimado a explicar despesas médicas de três anos atrás, em relação às quais já havia apresentado todos os comprovantes e explicações. O ministro não tem dúvida de que é vítima de retaliação da Receita Federal.  é uma tentativa de constranger o tribunal.

O TCU aprovou na quarta-feira (7) medida cautelar com alerta para o Ministério da Economia em que indica a suspensão de pagamento de bônus de R$3 mil para auditores. O tribunal entende que os pagamentos infringem a Lei de Responsabilidade fiscal. Por ano, os pagamentos custam R$ 1 bilhão para os cofres públicos.

A Receita Federal intimou o ministro a comprovar pagamento de R$ 13,2 mil a um médico cirurgião, quando isso já tinha sido feito e o processo encerrado em setembro de 2018.

“Fizeram a restituição, e agora dias depois de que fui relator de processo que, de certa forma, impacta a vida dos auditores da Receita, recebo intimação de um processo que estava arquivado”, disse o ministro do TCU.

O secretário da Receita, Marcos Cintra, disse que a intimação seria “uma coincidência” e que “o sistema funciona de modo automatizado”. Bruno Dantas afirmou que os documentos e a cronologia dos fatos não permitem acreditar na coincidência.

“Esse tipo de situação tem uma ilegalidade, mas não só. É uma tentativa de provocação, de me trazer para um campo de que eu poderia não ser parcial para julgar as contas da Receita”, disse. “Não foi o ministro Bruno Dantas que foi constrangido com isso, a tentativa é constranger o tribunal”.

Dantas afirma que conversará nesta segunda (12) com o presidente do TCU, José Múcio Monteiro, para tratar sobre providências do ponto de vista institucional. “Eu não confundo a instituição Receita com a atuação de meia duzia de marginais que podem estar instalados no esgoto da Receita”, disse ele, que ressalta a boa postura do secretário.

A representação da Secretaria de Macroavaliação Governamental do TCU, que inspirou a decisão relatada por Dantas, indica também a análise nos honorários de sucumbência da AGU (Advocacia Geral da União). “Agora vamos começar a analisar os honorários de sucumbência da AGU, mas esse processo está no início”.

De acordo com Bruno Dantas, o governo precisa fazer um planejamento melhor para lidar com a crise fiscal e a frustração de receitas. A atuação do TCU, segundo ele, é uma forma de o governo saber de descumprimentos da Lei de Responsabilidade Fiscal e impactos nas contas públicas.

“Reconheço o esforço que a equipe econômica vem fazendo, mas talvez o que o governo tivesse que fazer, e acredito que possa fazer para o ano que vem, é um planejamento melhor”, diz. “Se o governo planejasse melhor, população poderia sentir menos os prejuízos dessa crise fiscal”.

Ele ainda critica cortes lineares promovidos pelo executivo. “São a prova da falta de planejamento. É obvio que em um governo há setores mais prioritários que outro. [Mas] se faz corte linear no ministério da Saúde, no Ministério da Educação, passando por setor de turismo, e é claro que tem que ter prioridade”.

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