Nova estratégia

Lava Jato crê que Cabral ainda tenta proteger mulher e esconder bens

Procuradores avaliam que ex-governador do Rio ainda omite fatos mesmo ao admitir propina

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Ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral: condenações que somam 425 anos de prisão.

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) admitiu na semana passada que recebeu propina e mesada, durante depoimento de duas horas e meia ao Ministério Público Federal (MPF). No entanto, os procuradores acreditam que o político, réu de 29 ações penais e condenado a quase 200 anos de prisão por corrupção no governo do Rio de Janeiro, ainda omite fatos para esconder bens e proteger a esposa, Adriana Ancelmo.

A intenção da nova equipe de defesa de Cabral é que ele assuma crimes, detalhe seus participantes e contribua com novas informações a fim de reduzir futuras penas. “Dr. Sérgio, eu quero colaborar com vocês. Quero ser parceiro do Ministério Público”, disse o político em depoimento na quinta-feira passada, 21, ao procurador Sérgio Pinel, membro da força-tarefa da Lava Jato. A possibilidade de se fechar um acordo de delação no curto prazo é vista como remota.

Pinel achou por bem expor a visão da Procuradoria sobre o novo comportamento do ex-governador do Rio.

“Nem por hipótese esse depoimento significa qualquer tipo de tratativa [para delação premiada]. A lei já tem previsão para quem confessa. A confissão tem que ser irrestrita do objeto da investigação. É diferente da colaboração, em que ele deve colaborar não só sobre aquele fato investigado, mas mesmo sobre aqueles que o órgão investigador sequer tem conhecimento”, afirmou o procurador.

Cabral já havia feito um movimento para reduzir sua pena há sete meses, quando, junto com Adriana Ancelmo, abriu mão de seus bens para leilão —os recursos, dessa forma, poderiam ser transferidos de imediato ao estado. A medida, contudo, foi feita sem confissão até aquele momento.

Adriana já foi condenada em quatro ações penais e já soma 36 anos e 1 mês de pena. Ela é acusada de auxiliar o marido na lavagem de dinheiro por meio de seu escritório de advocacia e com a compra de joias.

Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas nesta terça-feira, 26, ele afirmou que enganou a mulher ao pedir que dinheiro de propina fosse repassado ao seu escritório.

“A Adriana tinha o escritório dela e eu contaminei esse escritório quando eu pedi o repasse de caixa dois, que ela não sabia, para o dono da Rica [empresário Alexandre Igayara]. Eu contaminei. Ela insistiu comigo e questionou para saber por que estava sendo utilizado. Eu enganei e a prejudiquei. E ela entrou como orcrim [organização criminosa] de uma maneira que me dói o coração”, afirmou o emedebista.

A versão parece inverossímil para os investigadores. Cabral ainda não explicou como ela permitiu a entrada de recursos sem a prestação de serviço correspondente. O escritório de Adriana segue sob investigação por ter recebido dinheiro de outras empresas vinculadas ao estado, como a Fecomércio.

A ex-primeira-dama está em liberdade, usando tornozeleira eletrônica. Ela já foi condenada em segunda instância no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) e aguarda a análise de recursos para eventual início de cumprimento antecipado da pena.

Procuradores também desconfiam do esgotamento dos recursos acumulados por Cabral. Além de suspeitar do ocultamento de valores, investigadores insistem que as joias mais valiosas adquiridas pelo casal ainda não foram encontradas. O tema foi abordado por Pinel no depoimento na Procuradoria.

“O MPF já ofereceu algumas denúncias em relação ao sr. Para que a gente tivesse uma confissão eficaz, teríamos que recuperar esse dinheiro todo, essas joias todas. São bens que ainda estão sumidos”, disse o procurador, sem ter recebido resposta.

O ex-governador reconheceu que os cerca de R$ 300 milhões guardados em contas no exterior dos doleiros Renato e Marcelo Chebar eram seus. Ele negou por dois anos a propriedade desses valores.

No depoimento de terça, Bretas chegou a perguntar ao ex-governador se ele ainda mantinha bens em nome de algum outro laranja. Citou especificamente o empresário Arthur Soares, dono de empresa de terceirização de mão de obra também acusado de pagar propina.

“Não, em nenhum lugar”, respondeu Cabral. (Com informações da Folha Press)

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