Os Sessenta de Brasília

Primeiro craque brasiliense e campeão pelo Sobradinho F.C., Álvaro agora é advogado

acessibilidade:
Álvaro de Castro, de atleta que fez história no time do Sobradinho a advogado especializado em direito sindical - Foto: Dênio Simões.

Perto de completar 60 anos, Brasília ainda é uma recém-nascida se comparada a cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. A pouca idade da capital federal oferece algumas particularidades como, por exemplo, conhecer a primeira geração de nascidos em seu solo. Esse é o caso do advogado Álvaro de Castro, que nasceu em 1966, é filho de pioneiros e conhece como poucos o quadrilátero demarcado por Luís Cruls.

Álvaro de Castro integra a série OS SESSENTA DE BRASÍLIA, que registra a vida e a experiência de brasileiros, alguns ilustres, outros desconhecidos, todos absolutamente fundamentais na construção da História da cidade que hoje proporciona a melhor qualidade de vida do País. É a declaração de amor da equipe do Diário do Poder a Brasília.

Álvaro é a reposta para a pergunta se Brasília teria conseguido integrar o Brasil, como propôs o ex-presidente Juscelino Kubitschek. O pai, mineiro de Araxá, conheceu sua mãe, cearense de Iguatu, e juntos construíram família no início de vida da nova capital. “A saga da construção fez com que meus pais se conhecessem. Sou fruto dessa Brasília cosmopolita, que integrou e continua integrando o Brasil”, diz.

A primeira infância de Álvaro foi vivida no Gama. O pai, comerciante, levou a família para Sobradinho ao perceber uma melhor oportunidade para venda de refrigerantes. O brasiliense conta uma curiosidade da época. “O estabelecimento do meu pai contava com as primeiras geladeiras daquela região. Assim, o posto de saúde pedia sempre para estocar as vacinas e medicamentos que necessitavam de temperaturas controladas”, relembra, sorrindo.

Time do Sobradinho F.C. que foi campeão em 1985.

Em Sobradinho, Álvaro cresceu e se aventurou no esporte em que é apaixonado: o futebol. Chegou a jogar profissionalmente pelo Sobradinho Esporte Clube, onde compôs o elenco inesquecível do time que faturou o bi-campeonato Candango de 1984 e 1985. Até hoje, Álvaro é lembrado na cidade por conta de seu desempenho dentro de campo. “Tem muita resenha desta época. A gente até pensa em montar o Museu da História do Futebol de Sobradinho. Existe muito a ser contado”.

Toda juventude de Álvaro foi vivida em Brasília e ele aproveitou cada momento dela. “Lembro-me dos nossos encontros no Bargaça (hoje é o Pontão do Lago Sul). Tenho uma memória afetiva pelo local, ensinei isso ao meu filho mais velho e até hoje nos encontramos por lá para um almoço e colocar a conversa em dia”, conta. Sobre os tempos da Ditadura Militar, em que muita gente diz que Brasília não passou pelas tribulações vividas em outros centros urbanos, ele diz que na época era quase um pecado falar das suas vontades. “Eu fui repreendido diversas vezes na escola. A gente não podia discordar do pensamento vigente que era retirado de sala. Um momento diferente”.

Já década de 1990, depois da redemocratização, Álvaro formou-se em Ciências Contábeis. Trabalhou, estudou e passou no concurso para o Banco de Brasília. Já na década de 2000, depois de passar também em concurso para o Tribunal de Justiça do DF, percebeu que gostaria de estar no mundo jurídico. Foi, então, que se formou em Direito e se tornou advogado. “Algum tempo depois, me tornei sócio de um juiz num escritório. Eu era o carregador de piano. Misturamos a minha juventude com a experiência de vida dele. Sou muito grato por ter vivido isso”, afirma.

Perto de completar 54 anos, Álvaro tem hoje seu próprio escritório de advocacia especializado em Direito Sindical. Sobre o tema que conhece bem, ele opina: “Os sindicatos são mais que importantes na garantia dos direitos e defesa dos trabalhadores. Ao passar dos anos, os sindicatos sofreram um processo de partidarização e com ideologias, perdendo um pouco de sua essência. Outras forças atuaram para enfraquecer esta importante ferramenta da democracia. O processo está em curso, as leis precisam ser cumpridas e ainda temos de encontrar um denominador comum nisso”.

Para os 60 anos de Brasília, Álvaro espera que a cidade continue sendo referência ao Brasil e esperança aos brasileiros. E finaliza o advogado, que é casado, pai de dois filhos e avô de um netinho:

“Brasília é cidade de luta, de trabalho e que acolhe quem quer trabalhar e vencer. Assim como meus pais, espero que as pessoas consigam prosperar nesta terra”.

Reportar Erro