Dia desses, por volta das 06:00, um caminhão carregado de cebolas caiu da ponte de Valvan, próxima a Lonavla, na Índia. O motorista, gravemente ferido, ficou preso na cabine. Eis que outros motoristas e pessoas que circulavam pelo local passaram a saquear a carga, ignorando um ser humano que agonizava. Vi uma fotografia da cena, publicada pelo jornal “Hindustan Times”: eram dezenas de pessoas recolhendo avidamente as cebolas, enquanto o motorista padecia a poucos metros delas.
Aqui mesmo no Brasil, em 2013, uma multidão de mais de mil pessoas, ao longo de 40 minutos, afanou nada menos que 30 toneladas de frango de um caminhão acidentado. Já o motorista ferido… ora, o motorista!
No Reino Unido o acidentado foi um navio. Encalhou no litoral. Eis que a população de uma cidade próxima passou a saqueá-lo impiedosamente. Foram levadas de caixas de vinho a motocicletas de luxo da marca BMW.
Poderia prosseguir narrando diversos outros casos análogos – inclusive um, acontecido no Espírito Santo, no qual uma carga de cerveja foi saqueada em seguida a um acidente acontecido dentro dos limites da Grande Vitória, uma capital de estado.
Creio, todavia, que estes episódios já são suficientes para uma reflexão. Em todos eles havia seres humanos em estado de sofrimento. A poucos metros, pessoas capacitadas fisicamente a fazer o bem. E todas elas, sem exceção, se dedicaram ao saque mais asqueroso, recolhendo produtos e valores que, ao fim do cabo, não iriam fazer grande diferença em suas vidas. Optaram pelo mal.
Essa gangue, em sua maioria, convive conosco. Passada aquela “oportunidade” voltaram a ser “gente de bem”. Retomaram a posição de pessoas que se declaram inimigas da corrupção e apreciadoras da lei e da ordem. Todas, sem exceção, acabaram impunes perante a Justiça dos Homens.
Fica, de tudo isso, uma dúvida: seriam elas fonte de inspiração para aqueles que saqueiam recursos públicos às custas de tantas vidas? Ou foram estes saqueadores a se espelharem naquelas? Ou são todos “farinha de um mesmo saco”?