Aquecimento global põe a vida humana em perigo

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Recentemente foi publicado o Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas feito sob os auspícios das Nações Unidas (https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2019/07/SPM-Portuguese-version.pdf). Embora bastante extenso o sumário desse relatório traz alertas impressionantes, como:

  1. Até o fim do Século 21 poderá ocorrer um aquecimento global acima de 1,5 ° C e 2 ° C, a menos que haja reduções profundas nas emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa nas próximas décadas;
  2. As temperaturas globais podem levar entre 20 a 30 anos até que se estabilizem;
  3. O estudo realça a influência humana no aquecimento do planeta num ritmo sem precedentes pelo menos nos últimos 2 mil anos;
  4. As consequentes mudanças na temperatura e nos extremos climáticos afetam todas as regiões do mundo;
  5. Alterações causadas pelas emissões de gases de efeito estufa no passado e no futuro serão irreversíveis daqui a séculos ou milênios;
  6. As mudanças mais destacadas serão em oceanos, geleiras e no nível global no mar;
  7. Entre os efeitos de mudanças atribuídas à influência humana no oceano estão o aquecimento, a frequência de ondas de calor marinhas, a acidificação e a baixa dos níveis de oxigênio afetando ecossistemas dos mares e pessoas que dependem deles;
  8. Em cidades, fenômenos como calor e inundações fortes podem piorar com a maior precipitação em todas as regiões e haverá mais ondas de calor, maior duração de estações quentes e menos frio;
  9. As secas serão mais intensas em muitas regiões e a precipitação deverá aumentar em zonas altas, diminuindo em grande parte das regiões subtropicais;
  10. Em áreas costeiras continuará aumentando o nível do mar no Século 21. A situação agravará as enchentes em regiões costeiras baixas, bem como a ocorrência da erosão. Eventos extremos antes registrados a cada 100 anos nos mares podem ocorrer a cada ano;
  11. Espera-se ainda o degelo do solo permanentemente gelado, o permafrost, e a perda da cobertura de neve sazonal.

Preocupante, não?

E aqueles que não trabalham na área ambiental, como eu, perguntariam: e como te veio o interesse de ler a respeito?

Foi resultado de ver no Youtube uma entrevista de um cientista brasileiro que participou na elaboração desse relatório. O Dr. Paulo Artaxo (https://www.youtube.com/watch?v=nOk6PggIygc&t=2717s).

Sempre estive em desacordo com meus amigos ambientalistas sobre essa prioridade; em minha análise, para o Brasil, as prioridades deveriam ser (a) resíduos urbanos; e (b) saneamento. Um argumento do Dr. Artaxo nessa entrevista me chamou atenção. O aquecimento global não representa o fim do mundo, mas pode sim representar o fim da raça humana. Terrível, não?

Esse relatório ratifica a importância do Acordo de Paris e as metas para emissão zero em 2050.  E como um engenheiro com carreira no setor de energia sinto que esse setor necessita se engajar de forma integral nessa jornada. A maior fonte de emissão de gases causadores do aquecimento global vem da queima de combustíveis fósseis, sendo transporte e geração de eletricidade as principais fontes.

A transformação necessária para alcançar emissões zero exige o uso de fontes limpas de geração de eletricidade e transformação para uso de eletricidade como combustível em substituição aos combustíveis fósseis em várias áreas de atividade.

A Agência Internacional de Energia (AIE) tem emitido vários relatórios com objetivo de auxiliar tomadores de decisão em governos e na indústria a enfrentar os desafios em uma transição para um sistema de energia limpa com zero emissões de carbono, mantendo economicidade e segurança no suprimento futuro de energia

Assim, Energia Limpa compreende a produção, transformação e uso de energia que resulte em ZERO de emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes. Para tal será necessário uso de fontes primárias de energia que não envolvam combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) exceto se acompanhados de sistema de Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (CUAC).

A AIE classifica como fontes de zero carbono: renováveis (como hidroelétrica, fotovoltaica, eólica); nuclear; fontes com uso de CUAC; hidrogênio gerado de fontes limpas; tecnologias que melhorem a eficiência energética do uso.  Essas fontes representam cerca de vinte por cento do fornecimento global de energia no mundo.

Muitos governos têm desenvolvido planos ambiciosos para reduzir emissões no setor de energia.  Mais de 125 governos apresentaram planos para atender ao Acordo de Paris com objetivos definidos de prazos para emissão zero e vários desses países já desenvolveram legislação a respeito.

A transição requer visão de longo prazo e definição de estratégia clara com objetivos definidos e datas alvo.

Governos devem definir planos de ação ao menos para as seguintes áreas:

  • Neutralizar as emissões dos ativos existentes;
  • Reforçar o mercado para novas tecnologias em estágio de adoção inicial;
  • Desenvolver e/ou melhorar a infraestrutura que permita uso de fontes limpas de energia
  • Apoiar e promover o desenvolvimento de pesquisas de inovação tecnológica para fontes limpas de energia;
  • Expandir a colaboração internacional sobre o uso de fontes limpas de energia.

E as outras duas áreas, Resíduos Sólidos e Saneamento? Continuo a considerar essas duas áreas como prioritárias. E o mais impressionante é que elas afetam diretamente as comunidades envolvidas e mesmo assim, no Brasil, mantemos esse problema pendente, o qual já foi resolvido em várias partes do mundo.

Lixo urbano é um dos mais complexos resíduos para serem descartados pela humanidade porque contém praticamente todo tipo de material.  Por isso, o tratamento do lixo urbano requer um número de processos que dependem da natureza das substâncias nele contidas.  Modernamente algumas municipalidades estão implantando “Sistemas Integrados de Gerenciamento de Lixo” que incluem a combinação inteligente desses diferentes processos de tratamento do lixo sólido.  É da maior importância para o meio ambiente a redução da quantidade de lixo sólido, e, portanto, duas ações são recomendadas nesse sentido: (1) melhoria nos processos de industrialização de bens de consumo visando a que resultem em menos rejeitos sólidos (lixo); e (2) reciclagem, ou seja, reutilização dos materiais oriundos de bens de consumo.  Porém, ainda assim, sempre existirão materiais que não são recicláveis a serem tratados.  Duas alternativas usuais para destino final são: (a) aterros sanitários e (b) queima do lixo com geração de energia.

A parte do lixo que não pode ser reciclada é enviada para o destino final, usualmente um aterro sanitário.  Aterro sanitário foi quase a única forma usada no passado e ainda continua a ser a forma predominante no mundo.  Recentemente, regulamentações ambientais na Europa e nos EUA estão exigindo redução drástica nas áreas a serem utilizadas para futuros aterros sanitários e em vários países estão até proibidos.

O outro destino final para o lixo é a incineração em fornos modernos que não geram dioxina.  Nesse caso, o lixo não tóxico pode ser utilizado em fornos combinados com caldeiras para a produção de energia (térmica e elétrica).  A geração de energia elétrica permite que o lixo seja recolhido nas residências e entregue diretamente em plantas próximas evitando o transbordo, centros de recepção e transporte de longa distância para os aterros sanitários.

Quanto a saneamento, pouco necessita ser acrescentado devido as obvias vantagens de qualidade de vida e até de redução de custos sociais pela melhora das condições de saúde da população afetada.

Em conclusão, rendo-me a prioridade dos meus amigos ambientalistas pois, embora minhas antigas prioridades sejam de grande importância, elas se referem ao curto prazo e se limitam ao ambiente local. Já o aquecimento global tem reflexos enormes de médio e longo alcance que podem tornar a vida humana em perigo.

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