Bolsonaro lamenta que TSE tente envolvê-lo nos atos do dia 8: ‘eles temem o quê?’
Ex-presidente acusa Judiciário de aparelhamento para proteger Lula, enquanto luta para não se tornar inelegível
Em entrevista durante sua vista ao Rio Grande do Sul, o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), acusou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de tentar culpá-lo pelos ataques de 8 de Janeiro, “para atingir fins políticos”. Nas declarações ao jornalista Rogério Mendelski, publicadas nesta sexta-feira (23), Bolsonaro comparou a um crime a hipótese de se tornar inelegível por oito anos, ao comentar o pedido de inclusão de fatos novos relacionados ao vandalismo nas sedes dos poderes em Brasília, na ação judicial eleitoral que o acusa de abuso de poder por encontro com embaixadores, em 2022.
“A Justiça Eleitoral, pelo que eu estou vendo, porque quem preside o TSE é o senhor Alexandre de Morais, tenta, dessa forma, me culpar pelo que aconteceu dia 8 de Janeiro. É muito ruim, tá?, quando se aparelha o Judiciário, para atingir fins políticos. É isso que estão falando. Eles temem o quê? Me tirar, agora, direitos políticos, sem uma prova, sem algo de concreto que eu tenha feito, isso é um crime. Não tem nada que me possa tirar os direitos políticos, a não ser uma arbitrariedade”, acusou Bolsonaro.
O ex-presidente lembrou que tem 68 anos de idade e sonha em seguir trabalhando pelo Brasil, ao afirmar que não estará morto, em 2026, quando prefere disputar eleição “para alguma coisa”. E disse esperar que seja feita justiça, ao citar o precedente de 2017, que virou uma jurisprudência, quando não se permitiu a inclusão de fatos novos na ação que pedia a cassação da chapa presidencial de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
“Fizeram comigo; agregaram até o ocorrido em 8 de janeiro deste ano”, declarou Bolsonaro, ao citar voto do ministro Gilmar Mendes, que à época teria afirmado que a Justiça Eleitoral não deve existir para cassar mandato, muito menos de presidente. “E, agora, mais do que mandato, estão cassando na origem, querendo me tornar inelegível, lá na origem”, criticou o ex-presidente da República, cujo julgamento iniciou ontem (22) e será retomado na terça-feira (27).
Bolsonaro ainda se defendeu, citando o ministro da Defesa do governo de Lula, José Múcio, sobre a conclusão de não ter existido um “figura central” nos ataques de 8 de janeiro e nem partiu de seus apoiadores acampados diante do Quartel General do Exército, em Brasília.
“[Múcio falou que] Quem fez quebra-quebra não foi pessoal do acampamento, mas de ônibus que vieram de fora. E desde minha saída do país, em 30 de dezembro, caiu muito a presença nos acampamentos”, declarou, ao citar convocação a partir da quinta-feira antes do ataque, quando chegaram mais de 100 ônibus de fora da capital federal, em Brasília.
Proteção a petista
Bolsonaro lembrou que, petistas, Dilma e Lula não se tornaram inelegíveis, mesmo após a ex-presidente ser cassada em impeachment e o atual presidente ter sido condenado em três instâncias e preso por corrupção, em abril de 2018.
“[Lula] Estava na cadeia, reinterpretaram a prisão em 2ª instância, foi posto em liberdade. Mas tinha três condenações. E, pela Lei da Ficha Limpa, quem tem condenação criminal em 2ª instância não pode ser candidato. Descondenaram o senhor Lula e ele recuperou os direitos políticos e é candidato, com todos aqueles absurdos ocorridos no governo dele”, criticou, se referindo às sentenças contra Lula, decorrentes da Operação Lava Jato, anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Antes de afirmar que sua contas de 2022 foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), Bolsonaro acusou o Judiciário de proteger politicamente seus rivais da esquerda. E ressaltou que Dilma e Lula puderam ser candidatos, após o esquema bilionário de corrupção em seus governos ter resultado em delatores da Lava Jato devolvendo R$ 5 bilhões e outras empresas fazendo acordo de leniência para devolver cerca de R$ 15 bilhões desviados de estatais.
“Ou seja, mais de R$ 20 bilhões [de corrupção devolvidos por causa da Lava Jato], e o cara recupera os direitos políticos, é candidato, onde recebe praticamente uma proteção toda especial por parte do Tribunal Superior Eleitoral. E quem [de direita] contestasse ou falasse qualquer coisa era punido”, acusou Bolsonaro.
‘Crime é conversar com embaixadores’
Bolsonaro comentou ainda o ponto central da ação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que pede a cassação de seus direitos políticos: a reunião com embaixadores na residência oficial do Palácio da Alvorada, em 2022. Na ocasião, o então presidente e pré-candidato à reeleição usou informações desmentidas e imprecisas para denunciar que o sistema eleitoral do Brasil seria passível de fraudes e não seria auditável.
“Não ataquei, mostrei a verdade sobre o sistema eleitoral. A imprensa nunca se preocupou em analisar o inquérito da Polícia Federal de novembro de 2018, sobre possível fraude eleitoral. Por causa da minha reunião com embaixadores, abusei dos meus direitos políticos e querem me tornar inelegíveis. Ou seja, é uma condenação injusta. Tive minhas contas aprovadas no TCU, não tem nada que pese contra mim sobre corrupção, desmandos, abuso, nada. Apenas, agora, o crime é conversar com embaixadores”, defendeu-se.
O ex-presidente lembrou que o ministro Edson Fachin tinha feito reunião similar, dois meses antes, apelando para que os chefes de Estado representados pelos embaixadores reconhecessem o resultado da eleição, após a apuração das urnas eletrônicas. E afirmou que tal atuação de política externa seria atribuição restrita a presidentes da República.
“Não era uma política do STF e muito menos do TSE, porque foi isso que fez o senhor Edson Fachin. E sabe qual recado que o senhor Fachin deu na sua reunião com embaixadores? ‘Tão logo o TSE apure, o senhores devem, imediatamente, fazer com que os seus respectivos chefes de Estado reconheçam o ganhador das eleições’. Ora, por que isso? Será que ele agiu corretamente? Será que ele sabia algum resultado? Estou botando uma dúvida aqui. Com que objetivo?”, questionou Bolsonaro.
O Diário do Poder enviou ao TSE um pedido pelo posicionamento da Corte Eleitoral e de ministros sobre as declarações de Bolsonaro. E mantém o espaço aberto à manifestação do tribunal e dos ministros citados.